Por Felipe Haurelhuk
Está decidido o filme brasileiro que representará o país na disputa por uma vaga no Oscar: Bingo, O Rei das Manhãs. A produção (em cartaz nos cinemas de todo o país) recria a trajetória do palhaço Bozo, personagem de enorme sucesso entre o público infantil na década de 1980. A produção é assinada por Daniel Rezende em sua primeira experiência à frente de um longa-metragem. Anteriormente, ele tinha montado com muito êxito produções como Cidade de Deus, Diários de Motocicleta e A Árvore da Vida, entre outras.
O anúncio foi feito em uma breve coletiva para a imprensa na última sexta-feira, 15, na sede da Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Após a polêmica envolvendo a escolha de Pequeno Segredo no ano anterior, o Ministério da Cultura resolveu delegar a responsabilidade à Academia Brasileira de Cinema que, segundo o próprio anúncio, decidiu apostar no drama por unanimidade. Os membros da comissão foram: Jorge Peregrino (presidente), Paulo Roberto Mendonça, Iafa Britz, David Schurman, Doc Comparato, João Daniel Tikhomiroff e Miguel Faria Jr.
Durante o anúncio, o grupo fez questão de ressaltar o quanto foi difícil chegar ao resultado final, uma vez que “pelo menos quatro filmes” estariam completamente habilitados e credenciados para o papel. Foi ressaltado, ainda, que os critérios para a escolha final levaram em conta uma produção que “expressasse o universo brasileiro, tivesse boa linguagem cinematográfica e possuísse compreensão universal, independente de público”.
De fato, não havia uma aposta “óbvia” entre a lista de 23 inscritos como foi em 2015, por exemplo, com Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert; ou mesmo Aquarius, esnobado ano passado. A diversidade de títulos, que incluíram inclusive animações, revela a grande diversidade da produção nacional e o fôlego da atividade tupiniquim. De qualquer forma, a escolha de “Bingo” para representar esse caldo cinematográfico não deixa de ser uma aposta arriscada. Ainda que o personagem seja conhecido fora do país, é notável perceber que os elementos apresentados pela película têm relação afetiva muito mais forte com o público brasileiro do que de qualquer outra parte do mundo.
Produções como O Filme da Minha Vida, de Selton Mello, e Como Nossos Pais, de Laís Bodanzky, teriam aspectos mais próximos aos escolhidos pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas na última década. Com o aumento no número de associados e a diversidade dos mesmos em alta, o argumento dos “velhinhos votantes” fica um pouco ultrapassado.
Começa agora a trajetória do longa nos eventos de divulgação e promoção entre os membros da A.M.P.A.S. Ainda em Dezembro deste ano é divulgada uma pré-lista de selecionados e os indicados são finalmente conhecidos no dia 23 de Janeiro de 2018, quando conheceremos os cinco finalistas. Para uma cinematografia tão rica e diversa como a brasileira, chegar à 90ª edição do maior prêmio sem um único reconhecimento é deveras incômodo.
E talvez a saga rumo ao Oscar ainda se arraste por mais alguns anos. O tempo dirá.
Veja o trailer: