Sou colecionador de discos de vinil e costumo frequentar muitos sebos a procura de novos exemplares para a minha coleção e, vez ou outra, encontro recados nas capas dos discos. Um presente de aniversário, uma declaração de amor ou uma indicação musical de pai para filho. Sempre que vejo essas anotações, fico pensando o que ocorreu com as pessoas envolvidas. Será que o amor terminou, o pai e o filho brigaram e, por isso, dispensaram o disco?

Certa vez, eu estava conversando com um dos donos de uma das lojas que frequento e ele contou que às vezes é complicado para os familiares, em caso de morte, por exemplo, se livrarem daquele material. Já me disseram que algumas pessoas os vendem aos prantos, por que não tinham onde guardar e corriam risco do material se perder, estragar com o tempo.

O filme Nostalgia parece trazer essa carga. Toca na relação das pessoas com seus objetos. Como aqueles ficam empregnados de alguém, como se fosse impossível tocar neles sem, praticamente, sentir a própria pessoa. Pode ser um pedaço de plástico girando, mas evoca a visão nítida da dona daquilo sentada numa poltrona enquanto ouve o disco.

Gostei da fotografia do trailer, uma luz meio fraca que me remete bem aos lugares onde esses objetos costumam estar guardados: porões escuros mal iluminados, que além dos discos, também trazem junto os enfeites de Natal. Espero que o filme corresponda as expectativas.