Rafael Ferreira

“Nenhum homem é uma ilha”, fragmento de um texto do poeta inglês John Donne, uma metáfora para nos dizer que ninguém consegue viver isolado do mundo, veja o filme Náufrago (2000), por exemplo, onde o personagem vivido por Tom Hanks se sente isolado do mundo e cria um personagem a partir de uma bola de vôlei para interagir, além de passar boa parte do filme tentando voltar para sua sociedade. A proposta é apontar alguns filmes que levantam esta reflexão sobre a nossa necessidade de nos relacionarmos com um grupo.

A Praia (2000)

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Já que estamos falando que “nenhum homem é uma ilha”, nada mais justo começar esta lista com um filme no qual o protagonista deseja encontrar esta ilha paradisíaca perfeita, mas como disse o poeta, Richard (Leonardo DiCaprio) não quer ir sozinho para a sua ilha, ele quer levar um casal de turistas que acabou de conhecer. Para a sua surpresa, Richard encontra uma verdadeira comunidade ao chegar nesta ilha paradisíaca, onde cada membro tem sua importância, uma comunidade “perfeita”, mas basta que o medo, a discórdia, o caos, as influências externas se instalem, e esta perfeição começa a se desfazer.

A Vila (2004)

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Neste filme do diretor indiano M. Night Shyamalan existe uma comunidade pacífica do século 19 que se isola do restante do mundo por medo, mas não por medo das influências externas (bem, talvez seja), mas por medo de criaturas misteriosas que habitam as florestas que cercam a vila. Para afastá-las, os habitantes seguem uma série de regras estabelecidas pelos anciãos, tais como: a proibição da cor vermelha; o uso da cor amarela para andar nos arredores da floresta e a obrigatoriedade da divulgação de pensamentos e intenções aos anciões, como quando Lucius Hunt (Joaquin Phoenix) pede permissão para ir até a cidade em busca de medicamentos. Toda a paz desta comunidade é quebrada quando aquilo do qual eles se protegiam se manifesta. Não irei entrar em detalhes sobre este filme, poisele tem ótimos pontos de viradas e levanta várias questões sobre nossa sociedade e nossas doutrinas.

Um Estranho No Ninho (1975)

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Poucos filmes ilustram a sociedade tão bem como este. Cada um dos pacientes representa uma parcela da sociedade, desde o jovem filho de uma mãe controladora, ao índio que se cala, todos sob o olhar oprimente da Enfermeira Ratched (Louise Fletcher). Os problemas nesta comunidade começam a se tornar visíveis a partir da chegada de um “estrangeiro”, R.P. McMurphy (Jack Nicholson), quebrando a rotina do grupo. Ao passar do tempo os outros pacientes encontram em McMurphy uma liberdade que eles gostariam de ter. É curioso refletir também a questão da liberdade mostrada neste filme, não importa aonde vamos, no final acabamos voltando para o sanatório.

 Laranja Mecânica (1971)

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Um filme violento (leia a crítica AQUI), e perturbante psicologicamente, mas indispensável para qualquer cinéfilo. A obra tem como protagonista Alex (Malcolm McDowell), um jovem delinquente, porém com um gosto apurado para música, que pratica atos de vandalismo, agressão de idosos e estupros como se isso fizesse parte do seu cotidiano (e faz). Após ser preso, ele passa por um processo de readequação para ser novamente inserido na sociedade. A polêmica levantada pelo filme é a forma que essa readequação é feita, pelo método behaviorista, quase como uma sessão de tortura, no qual o personagem é desconstruído e reconstruído, sem todas as características que o tornavam um empecilho para a sociedade, reprimindo seu desejo sexual, sua violência, e seu livre arbítrio. Merece destaque a cena em que Alex é reinserido na sociedade, o que me levanta a seguinte questão: será que é isso mesmo que nossa sociedade quer de nós?

  

Clube Da Luta (1999)

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Um dos filmes mais polêmicos desta lista, pode também estar ligado ao trágico acontecimento num shopping em Salvador-BA, no qual o estudante de medicina Mateus da Costa Meira disparou contra pessoas durante a exibição do filme. Esta história terminou em três mortes e 120 anos de prisão para Mateus, mais um jovem que se achava uma “ilha”. Clube Da Luta merece estar nesta lista não por este acontecimento, mas pelo conteúdo do filme, onde o personagem vivido por Edward Norton se encontra insatisfeito com a vida que leva, e acaba criando seu próprio grupo de pessoas descontentes como ele, e tudo vai “bem” até ele perceber que foi longe demais. Claro que o filme não é somente isto, por isso eu recomendo ao leitor que ainda não o viu, que veja e reflita.

Veja o nosso #5+1 sobre Transtornos de Personalidade AQUI.

Filme além dos clichês…

Na Natureza Selvagem (2007)

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Neste filme altamente recomendado, Chris McCandless/Alexander Supertramp (Emile Hirsch), um jovem que acaba de se graduar no ensino médio, decide se tornar um recluso e se isolar do mundo no Alasca. O filme nos mostra toda sua jornada até o local desejado, as pessoas com quem ele interage, e encerra com uma revelação que ficará guardada para sempre na memória do espectador. O que o filme não mostra, ao contrário do livro no qual foi inspirado, é o que o levou a tomar tal decisão, e como Chris tentou se encaixar na sociedade antes de partir em sua jornada. Ao dizer isto, não estou criticando as escolhas do diretor Sean Penn, nem dizendo que o personagem se tornou menos complexo, quero dizer que este é um bom filme para se refletir.