O filme Udta Punjab (2016) conta com grandes atores do cinema indiano no elenco: Shahid Kapoor, Kareena Kapoor Khan e Alia Bhatt. Aí você pensa o quê? É um filme de Bollywood! Bom, ele é mesmo, mas não se engane: tirando o número musical que tem no começo, nenhum outro momento do filme faz jus ao pré conceito que temos por filme indiano aqui.

Udta é uma gíria em hindi que significa ficar chapado. Punjab é um dos estados do norte do país, e ainda é muito conservador. Por aí acho que já deu uma ideia sobre o assunto que o filme vai tratar. O filme conta a história de quatro personagens e seus envolvimentos com as drogas e milícias, e também como suas histórias se entrelaçam e podem, ou não, ter um bom final.

Temos Tommy, um cantor/DJ que fala sobre a glamurização das drogas e como elas o trazem inspiração. O consumo indiscriminado durante sua vida o colocou na cadeia, e lá ele conhece dois jovens que foram influenciados por seu estilo de vida e acabaram matando a mãe por causa da dependência. Tudo isso pesa muito para ele, que consegue passar algum pouco tempo sóbrio, porém a pressão de sua própria equipe para ter o “velho Tommy” de volta, o leva a uma recaída. A personagem é interpretada belamente por Shahid Kapoor, e foi uma grande surpresa para mim vê-lo tão bem nesse papel. Nunca questionei seu talento, mas ele me mostrou um lado dramático que ainda não tinha visto.

Bauria é uma imigrante que veio de outro estado para trabalhar em uma plantação. A fazenda na verdade é usada como fachada para o tráfico, pois eles recebem drogas vindas do Paquistão por ali. Bauria acha um desses pacotes uma noite, e percebendo ser droga, vê ali uma saída para não ter mais que trabalhar na lavoura, e poder viver seu sonho de jogar hóquei novamente. Sem entender nada do ramo, acaba contatando o verdadeiro dono do pacote. Assustada, ela se desfaz da droga, irritando-o e fazendo com que ela fosse mantida em cativeiro e abusada física, psicológica e sexualmente, além de a deixarem viciada. A personagem é feita por Alia Bhatt, um dos grandes nomes do cinema hindi dessa geração, numa interpretação também impecável, cheia de nuances, que lhe rendeu vários praticamente todos os prêmios indianos a que ela concorria naquele ano.

A história dos dois se conecta quando ambos estão fugindo e acabam se escondendo no mesmo local. O que vemos é uma compreensão imediata de duas pessoas que sabem que podem contar com a outra para saírem dessa situação.

Também acompanhamos a história de Preet, uma médica e diretora de uma clínica de reabilitação que advoga contra as drogas, e Sartaj, um policial que compactua com as extorsões de seus superiores nas fronteiras para a entrada de drogas no estado, até que sua própria família é atingida por elas. Os dois se conhecem, e juntos procuram provas de que milícias e políticos estão envolvidos no esquema.

Kareena Kapoor Khan é quem dá vida à Preet, que embora esteja muito bem, não consegui sentir uma grande entrega dela ao papel. Talvez tenha algo a ver com a falta de história da personagem que nos é apresentada, parece que estão faltando peças para que possamos nos identificar com aquilo que estamos olhando na tela.

Isso também é o que mais me incomoda em Sartaj, interpretado por Diljit Dosanjh. Músico e ator, Diljit já possuía carreira consolidada em Punjab e estreou no cinema hindi nesse filme, ganhando alguns prêmios pelo papel.

Udta Punjab foi muito aclamado pelo público e pela crítica, mas quem não gostou do filme foi o governo. Na Índia ainda existe muita censura ao conteúdo audiovisual, e esse filme foi um dos que mais sofreram cortes pelo conselho: 89 cortes. Eles queriam que fossem retiradas todas as menções ao Punjab, já que isso traria uma má imagem ao estado. Os produtores do filme receberam muito apoio de outras pessoas da classe, que criticaram a posição do conselho, e assim o filme acabou sendo liberado com apenas um corte.

O assunto que o filme traz é de extrema importância, não apenas na sociedade indiana, nós sabemos bem o que são as milícias aqui. Traga para a realidade brasileira e conseguimos relacionar praticamente todos os aspectos. Talvez seja, aliás, uma das melhores coisas que esse filme pode fazer por nós, aqui do outro lado mundo: refletir sobre a nossa realidade (e não achar que todo filme indiano é só música).

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