*Com a colaboração de Cleiton Lopes

Chegamos ao final do ano que pareceu uma grande mistura de distopia. E que distopia! 2020 não foi fácil para ninguém, mas se teve uma indústria que precisou se virar para não perder o ano foi a indústria cinematográfica. Foram festivais cancelados, transformados, regras modificadas, estreias adiadas e o grande ano dos serviços de streaming. Aliás, é em parte graças a eles que essa lista pode existir. Sem as plataformas de streaming, dificilmente teríamos estreias em 2020 para comentar e, apesar de ter sido em número reduzido e por meio de uma experiência diferente do que uma sala de cinema oferece, ao menos tivemos a chance de conhecer alguns títulos novos.

E foi com esses títulos que pudemos compor a nossa tradicional lista de melhores do ano. Com menos opções do que o comum, não foi tarefa fácil, mas a nossa equipe se empenhou em votar e eleger os 10 melhores filmes de 2020. Tem documentário, filme nacional, premiado no Oscar, filme dirigido por mulher e, claro, produções de serviços de streaming. Enfim, vem conferir:

10º JOJO RABBIT

Não teve jeito. A história do menino que tem Adolf Hitler como amigo imaginário conquistou os nossos corações. Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado de 2020 e dirigido por Taika Waititi, o longa uso do humor e do lúdico para mostrar como um menino solitário da Alemanha nazista lida com seu nacionalismo cego e os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, incluindo o choque ao descobrir que sua mãe esconde uma garota judia no sótão de casa. O longa ainda nos dá de brinde uma versão maravilhosa em alemão do clássico “Heroes” (no caso, “Helden”) de David Bowie.

DESTACAMENTO BLOOD

Estrelado pelo saudoso Chadwick Boseman, Destacamento Blood traz a visão de Spike Lee sobre a história de um grupo de veteranos da Guerra do Vietnã que retornam ao país em busca dos restos mortais do seu comandante e de um tesouro que enterraram enquanto serviam lá. Sem medo de por o dedo na ferida, Lee faz uma denúncia ao mesmo tempo em que questiona sua própria nação, além de enfatizar a visão dos homens negros envolvidos no conflito. Por meio da relação entre os veteranos, o filme questiona a sociedade, seus sistemas e o passado que tende a ser repetido em seus erros.

8º O HOMEM INVISÍVEL

Dirigido por Leigh Whannell, o longa é inspirado pela obra do britânico H.G. Wells e conta a história de um cientista que, após forjar seu suicídio, usa seus conhecimentos para se tornar invisível e aterrorizar a ex-namorada. Quando a polícia se recusa a acreditar em sua história, ela decide resolver o assunto por conta própria. Apesar de seguir a fórmula de Wells, o filme aborda algo ainda mais profundo: a dificuldade que mulheres vítimas de violência têm em serem acreditadas quando buscam ajuda. O longa retrata muito bem a sensação de solidão, a maneira como as pessoas fazem com que você duvide de si mesma e da sua sanidade e como às vezes a vítima precisa tomar o assunto nas próprias mãos.

BORAT: FITA DE CINEMA SEGUINTE

É, Sacha Baron Cohen está de volta em seu famoso papel de Borat, o repórter atrapalhado e cômico. E voltamos à questão: qual o limite do humor? (E o que é ou não é ficção). Em Fita de Cinema Seguinte, o “segundo melhor repórter do glorioso país Cazaquistão” traz mais aventuras do jornalista, dessa vez em uma produção filmada durante a quarentena. Com destaque para a filha de Borat, que vira um elemento fundamental para a história acontecer, o longa faz críticas ao idealizado “sonho americano” e usa de seu humor quase constrangedor (ou completamente constrangedor) para tecer sua narrativa.

ADORÁVEIS MULHERES

Mais uma adaptação de Mulherzinhas, romance de Louisa May Alcott, dessa vez pelos olhos da badalada Greta Gerwig (que chegou a ser indicada ao Oscar de Melhor Direção por Lady Bird – A Hora de Voar). A história se passa nos anos seguintes à Guerra de Secessão e acompanha as irmãs Jo, Amy, Meg e Beth intercalando momentos das quatro como adolescentes e jovens mulheres. Focado especialmente na incansável e sonhadora Jo, uma jovem que deseja mais do que tudo ser reconhecida como escritora, o filme traça um paralelo entre a vida da jovem e a da própria autora da obra, lançando um olhar sobre o “ser mulher” e as opções que as mesmas tinham nos anos 1860.

5º EMICIDA AMARELO – É TUDO PRA ONTEM

Muito aguardado, o documentário Emicida: AmarElo – É Tudo Pra Ontem mescla animações, entrevistas e cenas do bastidores do álbum Amarelo, do rapper Emicida enquanto, ao mesmo tempo, conta  história da cultura negra brasileira nos últimos 100 anos. Com uma apresentação magistral no Theatro Municipal de São Paulo, Emicida fala sobre preconceito, racismo e sobre a sociedade brasileira enquanto aproxima o espectador da criação de sua mais recente obra. Ganhador do Grammy Latino pelo álbum que dá nome ao filme, Emicida revela diferentes facetas em um documentário que definitivamente merece toda a atenção que vem recebendo.

4º FOR SAMA

Um documentário arrebatador de uma mãe que decide registrar sua vida em meio à Guerra da Síria para sua filha, Sama. Essa é a principal motivação do indicado ao Oscar For Sama. Nele, a cineasta síria Waad al-Kateab nos revela as imagens que filmou durante cinco anos sua vida na cidade de Aleppo tomada por rebeldes durante a rebelião síria. Com duras imagens dos bombardeios e das vítimas nos hospitais, o longa mescla momentos de terror e desespero com outros de felicidade e esperança, entrelaçando a história da Waad a de seu país. Duro e emocionante, é uma crua amostra do que é a vida em uma zona de guerra, com todas as suas camadas.

1917

Claro que não poderia faltar um drama de guerra, certo? Dirigido por Sam Mendes, o longa acompanha dois jovens soldados britânicos durante a Primeira Guerra Mundial que recebem ordens aparentemente impossíveis de cumprir. Em uma corrida contra o tempo, eles precisam atravessar o território inimigo e entregar uma mensagem que pode salvar 1.600 de seus companheiros. Para criar esse drama enervante, Mendes inspirou-se parcialmente na história do avô paterno, Alfred Hubert Mendes. O longa fez sucesso e recebeu dez indicações ao Oscar, vencendo nas categorias Melhor Fotografia para Roger Deakins, Melhor Mixagem de Som e Melhores Efeitos Visuais.

O FAROL

Parece que Robert Eggers chegou para ficar – e para fazer um terror para lá de interessante. A Bruxa (que, aliás, atraiu todos os olhares para a talentosíssima Anya Taylor-Joy  já havia dado o que falar e ele repetiu o feito com O Farol. Com Willem Dafoe e Robert Pattinson, o longa se passa no final do século XIX e acompanha um novo zelador que chega a uma remota ilha na Nova Inglaterra para ajudar o faroleiro local. O isolamento, porém, causa tensão na convivência entre os dois homens. Entre tempestades e goles de querosene, o novato tenta desvendar os mistérios que existem nas histórias de pescador de seu chefe. O filme estreou no Festival de Cannes e concorreu ao Oscar de Melhor Fotografia.

RETRATO DE UMA JOVEM EM CHAMAS

Não teve jeito, a “jovem em chamas” conquistou todo mundo por aqui. O mais recente filme de Céline Sciamma acompanha Marianne, uma jovem pintora na França do século XVIII, que é contratada com a missão de pintar um retrato de Héloïse para seu casamento sem que ela saiba. Passando seus dias observando Héloïse e as noites pintando, Marianne se vê cada vez mais próxima de sua modelo e um sentimento maior passa a nascer entre elas. O longa conta com uma fotografia excepcional e traz ainda Adèle Haenel no elenco, que já esteve presente em Lírios d’àgua e Pauline, outros dois filmes de Sciamma. A obra foi bastante aclamada e chegou a levar o César de Melhor Fotografia.

MENÇÕES HONROSAS:

Claro que nem todas as obras votadas acabam integrando a lista, porém, nada mais justo do que citar o que fez parte do ano dos nossos colaboradores, afinal, tem muita coisa boa e com aquela variedade de gêneros que a gente tanto ama. Tivemos mais documentários, dramas, animações e até musical aparecendo na votação. É muito bom ver que em um ano tão complicado para o cinema como 2020 ainda tivemos uma variedade notável de obras e elas apareceram por aqui. Esperamos que em 2021 possamos voltar ao nosso lugar preferido no mundo: as salas de cinema. Que venha 2021, então. Feliz ano-novo!

Também apareceram na votação: Estou pensando em acabar com tudo; Três Verões; Mank; Má Educação; Honeyland; Emma; Joias Brutas; O Som do Silêncio; Você Não Estava Aqui; A Despedida; Hamilton; O Escândalo; O Preço da Verdade; O Diabo de Cada Dia; Os Miseráveis; Nimic; Sertânia; Alice Guy-Blanche – A história não contada da primeira mulher cineasta do mundo; As Mortes de Dick Johnson; Ninguém sabe que estou aqui; Aves de Rapina; Judy – Muito além do arco-íris; Pacarrete. Você nem imagina; 18 Presentes; Alice Júnior; A Voz Suprema do Blues; Para onde voam as feiticeiras; Cidade Pássaro; Welcome to chechnya; Soul.

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