Durante a faculdade de cinema, um dos maiores desafios que tínhamos na hora de fazer nossos curtas metragens, era criar o cenário e o figurino dos personagens. Isso de uma forma que ficasse mais “orgânico”, como se aquela roupa ou o quadro no quarto do estudante, tivesse tudo a ver com a personalidade do personagem. Como se ele próprio tivesse ido até uma loja e comprado. Por mais que a gente tentasse, aparentava, na maioria das vezes, ser algo muito fabricado, parecia faltar algo para aquilo ficar verídico. Ficava uma coisa meio A Praça é Nossa ou Zorra Total em que tudo é claramente falso e faz parte da piada ser daquele jeito. Poucas vezes achei que ficou realmente bom.

Depois do curso, passei a reparar mais esses detalhes nos filmes e, para mim, um cenário / figurino eficientes são aqueles que chegam a passar despercebidos aos olhos comuns. Objetos e roupas que estão tão atrelados à história e a personalidade dos personagens que não estranhamos quando surgem na tela. Um dos filmes que acredito ter feito isso muito bem foi 500 Dias Com Ela (500 days of Summer, 2009).

O filme conta a história de Tom (Joseph Gordon-Levitt), um cara fã de música que se apaixona pela nova colega de trabalho, Summer (Zooey Deschanel). O problema aí, é que a moça, apesar de compartilhar alguns gostos musicas com ele, não acredita no amor enquanto o rapaz é um romântico a moda antiga. O filme então, se passa durante os 500 dias em que os dois tiveram um relacionamento.

Um dos pontos que acho mais interessantes nessa produção é uma certa inversão de papéis. Pois, a fórmula básica dos filmes de romance / comédia romântica é: uma moça que se apaixona perdidamente por um moço forte, bonito, alto e bem sucedido que não dá a mínima para ela. O desafio desses é a mocinha conseguir o amor do moço. Em 500 Dias, temos um rapaz romântico que se vê perdidamente apaixonado por uma moça que se quer acredita na existência do amor. (Ai, que dor…)

Tom – Espera, e se você se apaixonar?
Summer dá uma risada
Tom – O que foi?
Summer – Você não acredita nisso, acredita?
Tom – É amor, não é Papai Noel.

Sendo assim, o filme aponta na direção de um novo tipo de homem, não que inexistisse anteriormente, mas que agora está mais evidente a ponto de ser protagonista de uma produção. Aquele que não é mais o “brucutu” dos filmes de ação, com músculos explodindo a camisa e que transa fortemente com mulheres de seios fartos. Tom aqui representa rapazes que tem sentimentos e, mais importante, os demonstra sem qualquer medo de ser questionado sobre sua orientação sexual ou coisa do tipo.

Visto isso, 500 dias, constrói então a personalidade de Tom e o espaço do filme usando como referência principalmente o universo musical do protagonista. Isso é destacado logo no início, quando o narrador nos conta que muito do que Tom acredita sobre o amor, vem da “triste música pop britânica”. Para tanto, fugiria de uma possível veracidade se Tom fosse “bombado”, cheio de tatuagens e ouvisse em seus fones “Deu Onda”, do MC G15. Não que as pessoas que possuem essas características não sejam românticas, mas essas não são típicas de tal personalidade. Não a primeira vista. Caso Tom aparentasse assim, o filme precisaria construir o conflito de uma forma diferente. Talvez no sentido de um personagem que, apesar da aparência, não segue os mesmos estereótipos. Geralmente os românticos são mais tímidos, menos baladeiros e dificilmente gostam de música que na letra diz que o seu órgão reprodutor ama alguém. Ou seja, nada de Funk carioca para o garoto, Tom Hansen, de Margate, Nova Jersey.

A principal banda que, inclusive, é responsável por aproximar o casal do filme, é o The Smiths. O grupo famoso por letras tristes de amor, está pela vida de Tom desde pequeno. Mas, além dessa, logo no início, quando o vemos em seu quarto, ele tem ao seu redor diversos discos de diferentes bandas. Aqui, o filme já dá essas primeiras pistas da personalidade do garoto. Tom não tinha começado a ouvir musica pop britânica recentemente. Isso é uma paixão de anos que aqui, vemos em forma de imagens como todo bom filme deve fazer.

Alguns desses discos são clássicos e apareceram em diversas listas de melhores como na publicada pela revista Roling Stone em 2003 chamada “500 Greatest Albums of All Time“, que foi atualizada em 2012 com os álbuns da década de 2000. Aqui no Brasil, em 2014 saiu uma edição impressa com o nome “Os 500 maiores Álbuns internacionais de Todos os Tempos” e é esta versão nacional que vou consultar para dar mais consistência ao texto.  Consultei também o livro 1001 Discos para se Ouvir Antes de Morrer, para complementar nossa informação. Os que aparecerem nessas listas, vou indicar a posição e um trecho da descrição do mesmo. Usei essas referencias principalmente por que imagino que o protagonista também às consultaria (eu sei por que sou meio Tom) e são excelentes álbuns. Não é a toa que estão listados aí.

A seguir, o plano do Tom jovem que citei anteriormente. Nele, vemos então seu quarto quando mais novo onde é possível identificar alguns discos além de sua roupa. A câmera faz um movimento de proximidade com o rosto o que tampa alguns e mostra outros elementos durante o percurso. Por isso, coloquei dois prints do mesmo plano e a indicação com os números de cada elemento para identificá-los mais facilmente.

 

1 – Provavelmente você já viu alguém usando essa camisa, ou versões dela, por ai. Ela é a capa do disco Unknown Pleasures (1979) da banda inglesa Joy Division e Tom a usa também em outras partes do filme. Essa banda tem um tom melódico e triste. Boa parte influenciados pela personalidade do vocalista Ian Curtis. A banda durou apenas dois álbuns, além de Unknown Pleasures, Closer (1980) e algumas gravações que vez ou outra surgem por aí. Joy Division teve fim quando Curtis suicidou-se enforcado aos 23 anos de idade.

1001 Discos: “O Letrista Ian Curtis retrata suas experiências de epilético no mutante ritmo disco de ‘She Lost Control’; ‘Shadowplay’ evoca imagens da decadência urbana e da paranoia de Manchester, no final dos anos 70. A dispersão da música complementa de maneira perfeita o barítono frio de Curtis, em especial no majestoso hino à morte ‘New Dawn Fades’ e na assustadora ‘I Remember Nothing’, enquanto a energética ‘Interzone’ e ‘Disorder’ mostram por que a banda tinha fama de ser feroz em suas apresentações ao vivo”.

“Unknown Pleasures foi um sucesso de público e crítica – embora um jornalista tenha feito um elogio torto, ao escrever que o álbum era perfeito para se ouvir antes de cometer suicídio. Depois de 25 anos, Unknown Pleasures continua a ser fascinante”.

Aliás, a história de Ian Curtis e sua banda, é muito bem contada no filme Controle: A História de Ian Curtis (Control, 2007). A produção é dirigida por Anton Corbijn, que foi um dos fotógrafos da banda enquanto ela estava na ativa.

2 – Os membros remanescentes da banda Joy Division formaram então o New Order, que está ativa até os dias de hoje. No primeiro álbum, Movement (1981) tiveram uma dificuldade de se livrar do peso da banda original. Mesmo com nome diferente, parecíamos ouvir basicamente a mesma banda. O segundo disco, Power, Corruption & Lies (1983) traz menos a atmosfera soturna e depressiva, e mais a cara que o grupo tem hoje de usar mais o eletrônico.

 

 

 

3 – Doolittle (1989) é um disco da banda Pixies e é nele que tem a música Here Comes Your Man, que tom canta no Karaokê quando sai a primeira vez com Summer e seus amigos de escritório. A banda também é dona da música Where Is My Mind?, que ficou famosa por uma das cenas de Clube da Luta (Fight Club, 1999). Mas, essa segunda faixa foi lançada num disco anterior, Surfer Rosa (1988).

Rolling Stone Num. 227: “Doolittle é uma mistura das primeiras tempestades hardcore da banda, dos autodescritos discurso de ‘fluxo de inconsciência’ de Black Francis e da estranha guitarra de surf-metal que definiram a magia do quarteto”.

 

 

4 –  Louder Than Bombs (1987) é um disco duplo que foi lançado no mercado americano para “acalmar os ânimos” dos fãs antes do lançamento de um álbum novo, que seria o Strangeways, Here We Come (1987), o último da banda.

R.S. Num. 369: “Projetada para reativar o interesse do público norte-americano nos Smiths enquanto a banda completava o novo LP, esta coletânea se tornou item obrigatório. Algumas das melhores músicas do quarteto estão aqui, como ‘Sheila Take a Bow‘ e ‘Panic‘”.

 

 

 

5 – Além dessa coletânea dos Smiths, Tom tem o primeiro disco da banda chamado The Smiths (1984). Pra mim, ele é o mais triste e melancólico de sua discografia. Tem um ritmo mais arrastado, mas um bom primeiro disco.

R.S. Num. 473: A estreia do The Smiths é uma amostra da sagacidade morosa de Morrissey e do tom da guitarra de Johnny Marr arrastando-se pelos pântanos apáticos da Inglaterra em “Still Ill” e “This Charming Man“.

 

 

 

 

6 – Album (1986) é o disco da banda Public Image Ltd. considerada uma das bandas fundadoras do gênero pós-punk que, baseados no universo punk, traziam músicas mais introspectivas e experimentais. O já citados Joy Division e The Smiths fazem parte desse movimento. O P.I.L., como a banda também é conhecida, tem em seus membros ex-integrantes do Sex Pistols e do The Clash.

 

 

 

7 – Viva Hate (1988) é o primeiro álbum solo do Morrissey, ex-vocalista da banda The Smiths. A banda ficou na ativa de 1982 até 1987 e teve seu fim devido à diversas divergências internas.

1001 Discos: “Mesmo um observador superficial terá que reconhecer que Morrissey não é um mero figurante. Rompendo com a tradição dos Smiths de reutilizar velhas fotografias, vemos um Morrissey determinado na capa do disco. Na terceira música – ‘Everyday is Like Sunday‘ – o cantor já havia criado uma ode à solidão e ao desespero. Em poucas palavras, um clássico de Morrissey”.

“Com esse disco, Morrissey saiu da sombra para se tornar – como ele diria mais tarde, com sua típica falta de modéstia – talvez o último grande ícone pop.

8 – Psychocandy (1985) é o álbum de estreia da banda The Jesus and Mary Chain. Esse é aquele disco que quando você coloca para tocar em casa, sua mãe pergunta “que bagunça é essa?”. A banda tem uma veia mais experimental e um som mais “sujo” e cheio de ruídos.

R.S. Num. 269: “Aqui, garotos escoceses bonitos surfam uma onda de baixo astral e aproveitam cada momento disso. A estreia de Jesus and Mary Chain é uma obra-prima decadente do rock alternativo afogada em distorção. Destaque para ‘Just Like Honey‘, ‘My Little Underground‘ e ‘Never Understand‘”.

A faixa “Just Like Honey” aparece em Encontros e Desencontros (Lost in Translation, 2003) de Sofia Coppola, na cena final do filme que é de cortar o coração.

O que todos esses discos / artistas tem em comum é o foco muito grande nos sentimentos. Muitas vezes de forma mórbida ou com amores platônicos. Por exemplo, a música que Tom está ouvindo na cena do elevador é There Is a Light That Never Goes Out, dos Smiths. O refrão é a declaração de amor mais mórbida que já ouvi. Diz algo como: “E se um ônibus de dois andares / Colidisse contra nós / Morrer ao seu lado / Que jeito divino de morrer”. Uma visão romântica que é muito característica do personagem de Tom. Inclusive, na cena em que ele pede demissão do seu trabalho, complementando a fala do narrador no início do filme que citei, ele cita justamente as músicas pop de amor como causadora dessa visão romântica que ele nutre.

Além dos discos, nessa cena inicial em seu quarto Tom assiste ao filme A Primeira Noite de um Homem (The Graduate, 1967) que traz uma figura romântica muito parecida com ele. Costumo a dizer que um filme é quase uma continuação do outro. Alguém em busca de um amor impossível. Além da, como diz o narrador, má interpretação do garoto sobre o filme, que acrescenta mais um item para sua visão de amor, 500 Dias com Ela utiliza como referência a trilha sonora. É a música Bookends da dupla Simon & Garfunkel que toca no filme quando Tom tenta encontrar o que deu de errado no seu relacionamento lembrando tudo que havia acontecido anteriormente.

Essa música está no álbum de mesmo nome, Bookends (1968) que traz também Mrs. Robinson, que se tornou hit como trilha do clássico de 1967.

R.S. Num. 264: “Paul Simon chamou este de ‘o álbum mais refinado de Simon & Garfunkel’. É o mais abrangente – uma viagem bela, mas sombria pelos Estados Unidos da época que inclui a épica ‘América‘, ‘Mrs. Robinson’, tema do filme A Primeira Noite de um Homem, e a faixa-título, um estudo sobre a velhice”.

Quando Tom cresce, tais ícones ainda fazem parte da sua vida, expressas em seu vestuário. Mostrando que esses símbolos fazem parte definitivamente de sua personalidade e não foi apenas “uma fase”. Pra mim também é um indício de que ele ainda precisa amadurecer algumas ideias que ele tem sobre a vida e, principalmente, sobre amor e relacionamentos, principal ponto do filme. Mas, voltando à vestimenta, o Tom adulto ainda veste blusa de banda. Como exemplo, duas da banda Joy Division uma com a capa do single Love Will Tear Us Apart  e outra com a mesma estampa que ele usava quando mais novo com a capa de Unknown Pleasures. Por último, uma com a capa do disco London Calling (1979) da banda inglesa The Clash, acompanhada de um blazer.

 

 

Love Will Tear Us Apart é a música mais famosa da banda Joy Division e sua letra fala dos problemas do vocalista Ian Curtis com sua esposa Deborah. O single foi lançado em Junho de 1980, um mês após o suicídio de Ian. A frase também estampa o túmulo do cantor onde estão suas cinzas.

 

 

 

É nesse disco do The Clash que tem a música Train in Vain, que Tom canta no Karaokê quando sai com a garota que seus amigos o apresentam para tentar esquecer Summer. A letra da música combina perfeitamente com o que Tom está vivendo. A dor pela perda da amada. No link acima, coloquei o vídeo com a tradução.

R.S. Num. 8: “Gravado em 1979, em Londres, que na época lutava contra o desemprego crescente e a propagação das drogas, London Calling é o amanhecer de uma década incerta. O álbum duplo é formada por 19 músicas sobre o apocalipse, mas abastecidas por uma fé inabalável no rock para enfrentar a escuridão”.

“O álbum termina com ‘Train in Vain’, uma faixa agitada sobre fidelidade (não listada no verso da capa original porque foi acrescentada de última hora) que se tornou o som do triunfo: foi o primeiro single do Clash a ficar no Top 30 da parada norte-americana”.

Já o universo de Summer é bem menos carregado desses ícones. Isso, mais uma vez é expresso desde quando ela era mais jovem. No mesmo momento que vemos o quarto de Tom, e o narrador faz um paralelo sobre as duas personalidades. Aqui, o que moldou de fato a personalidade dela, segundo o narrador, foi a separação de seus pais. Abaixo o plano de Summer, e as referencias musicais contidas nele.

Narrador

A garota, Summer Finn, de Shinnecock, Michigan, não acredita na mesma coisa.

Desde o fim do casamento de seus pais, ela só amava duas coisas:

A primeira era seu longo cabelo escuro.

A segunda era a facilidade para cortá-lo, sem sentir nada.

Os itens 1 e 2 já haviam aparecido no quarto de Tom. 1 é o disco Viva Hate, do Morrissey e 2 é  Psychocandy da banda The Jesus and Mary Chain.

3 – Com o título Meat is Murder (1985) ou  “Carne é assassinato”, em tradução literal, Morrissey denuncia os maus tratos contra os animais no abatedouro. Imagino a pequena Summer ouvindo esse disco. Quando Tom tenta a convencer sobre amor, ela diz que prefere ser uma mulher independente. É uma fala bem feminista, de alguém que já leu bastante sobre o tema e tem uma posição clara sobre o assunto. Visto isso, imagino que ela também possa ter tido uma fase vegetariana na vida. E ou militar também sobre o direito dos animais por aí. Esse disco, então, encaixaria perfeitamente em sua personalidade. Não estaria ali a toa.

R.S. Num. 296:“Respaldado por músicas longas e brutais sobre castigo corporal e os horrores da indústria da carne, este é o item mais sombrio no catálogo da banda do Reino Unido. Em ‘How Soon is Now?‘, incluída na edição norte-americana do álbum, Morrissey resume com grande pena e hilaridade como é chato ser tímido.”

A versão adulta de Summer também mantém esses ícones mais dissolvidos. Eles surgem apenas em conversas ou em alguns cantos de seu apartamento. Summer parece ser menos emersa nesse universo de juras de amor e tristeza que Tom. Tanto que, mesmo tendo os mesmos gostos, as opiniões sobre amor e relacionamento são tão divergentes.

Quando o narrador nos conta sobre um certo “efeito Summer”, em que sua presença ocasionava eventos positivamente inexplicáveis, como apartamentos mais baratos e coisas do tipo, ele fala que o fato de ela ter citado um trecho da musica The Boy With the Arab Strap, fez as vendas do disco de mesmo nome, da banda Belle & Sebastian subir inexplicavelmente. O conjunto na ativa até hoje, é muito conhecido no universo indie e tem como referencia o próprio The Smiths. Os hipster pira neles.

E, claro que em um filme que a música é um dos principais pontos do filme, não poderia faltar algo dos Beatles. Ainda mais se tratando de música britânica. Em uma certa parte, Tom e Summer comentam sobre qual seria a melhor música dos Beatles. Ela defende “Octupus Garden” e ele acha um absurdo. “Por que você não diz ao menos Piggies?”. A primeira música faz parte do álbum Abbey Road (1969) que é, talvez o álbum mais icônico do grupo. Já a segunda faz parte do The Beatles (1968), também conhecido como “The White Álbum” ou o Álbum Branco.

Apesar de não ser meu favorito, esse pra mim, é o melhor trabalho dos Beatles. É enxuto em que nenhuma música precisava ser tirada ou mudada de ordem. Ponto para a capa que é uma das marcas registradas do grupo e talvez, uma das capas mais importantes da história da musica.

R.S. Num. 14: “Determinada a sair de cena com uma sensação de glória recapturada, a banda se reuniu nos estúdios Abbey Road para fazer seu álbum mais refinado: uma seleção de músicas soberbas gravadas com atenção aos detalhes, que desaguavam umas nas outras (especialmente o lado B) de maneira conceitual. Não havia um elo temático, apenas a genialidade única dos Beatles”.

Apesar da Rolling Stone o classificar melhor que o Abbey Road, não acho o Álbum Branco tão melhor assim. Eu acredito ser um disco que sobram músicas. Algumas delas poderiam ser deixadas de lado, mas o pé de guerra que o grupo estava na época do lançamento, era difícil chegar a qualquer acordo. Como discutir Beatles é um assunto bastante delicado, prefiro não me alongar aqui.

R.S. Num. 10: “Os Beatles compuseram as músicas do chamado ‘Álbum Branco’ durante um retiro com Maharishi Mahesh Yogi, na índia, tirando férias do furacão da celebridade. Como John Lennon disse mais tarde: ‘Sentávamos nas montanhas comendo comida vegetariana ruim e escrevendo todas aquelas músicas’. Eles voltaram com mais canções ótimas do que poderiam incluir em um só LP e competiram ferozmente durante as sessões. ‘Lembro que havia três estúdios operando simultaneamente’, disse George Harrisson. ‘Paul estava fazendo alguns overdubs em um, John estava em outro e eu gravava alguns trompetes ou algo assim em um terceiro’. As sessões ficaram tão tensas que Ringo Starr, frustrado, saiu da banda por duas semanas. No entanto, a tensão criativa resultou em um dos álbuns mais intensos e aventureiros já feitos”.

É interessante que em outro momento eles discutiram sobre Ringo ser o melhor Beatle, na opinião de Summer. E Tom diz “Mas ninguém gosta do Ringo” e ela retruca “E é por isso que eu gosto dele”. Na casa de Summer não tem um quadro dos Beatles, mas sim um porta retrato com a ilustração do Ringo e que, por sua vez, é o compositor e cantor da citada música Octopus’s Garden que ela acredita ser a melhor do grupo. Mais uma vez o cenário corresponde à personalidade e às opiniões do personagem.

Depois de tanto rever esse filme ao longo dos anos (acredite, a assisti MUITAS vezes), eu já sei as falas quase de cór. A cada vez que vejo, sou uma pessoa diferente, já vivi diversas coisas o que me faz ter uma impressão diferenciada sobre a situação. Depois dessas revisitas, acho que o principal erro de Tom foi acreditar que seus gostos parecidos seriam o suficiente para manter um relacionamento. Infelizmente, ele não conseguiu ver a moça como um todo. Não só alguém que entende as referencias, mas que tem vontades e desejos maiores que qualquer disco dos Beatles. Em um quadro complexo, ele conseguiu ver apenas os pontos que também tocavam o seu. (Fica tranquilo, cara. Não foi só você quem deu esse vacilo na vida).

Mas, a coisa mais interessante e que tentei destacar nesse texto, é a forma como isso foi demonstrado no filme. Utilizando como aparato o mundo musical e de cultura pop para contar a história do garoto que conhece a garota. Acho que é um filme que, além  de ter interpretações diferentes quando visto em diferentes fases da vida, também é um filme diferente para cada pessoa. Em conversa com amigos, alguns achavam a Summer a vilã, outros o Tom babaca e outros que não foram capazes de opinar. A unanimidade foi de ter visto um filme interessante, que os fizeram pensar muito sobre o curioso caso de Tom e Summer.

Para fechar, uma playlist com as músicas dos álbuns citados que fazem parte do universo musical do filme, mas que não tocaram no filme. Boa audição e espero que curtam!