Por Joyce Pais
Muito se falou sobre as cenas de nudez da Scarlet Johansson no filme Sob a Pele. As ‘polêmicas’ e comentários, em sua maioria, giravam em torno de sua aparência física, na quantidade de celulite que a atriz supostamente teria ou que ela aparentava estar ‘acima do peso’. A própria Scarlet chegou a dar entrevistas afirmando que esta seria a última vez que o público a veria nua em um filme, e que só aceitou a proposta (indecente?) porque realmente acreditava que tal artifício era coerente à trama.
O mais importante, no entanto, só pôde ser concluído após conferir o filme na íntegra e perceber nitidamente que a exposição da atriz nua, não em apenas uma cena, mas em quase toda a projeção, não só serviu como uma apelativa e eficiente (será?) estratégia de marketing para a divulgação do filme, que antes mesmo de chegar ao cinema, suscitou um enorme buzz na rede.
Baseado no livro homônimo do holandês Michel Faber, Sob a Pele acompanha a trajetória de uma alienígena (Johansson) que vaga de um lado para o outro na Escócia (demorei uns 40 minutos pra descobrir que eles estavam falando inglês, é sério) atrás de homens para seduzir e em seguida abduzir – o que no filme é mostrado por meio de alegorias que nada de interessante ou inventivo acrescentaram.
A tentativa do diretor Jonathan Glazer (Reencarnação) de ‘kubricizar’ o filme, como diria meu caro amigo Felipe Rocha, fica evidente logo na cena de abertura, quando se ouve uma sequência de palavras desconexas (na bela e inconfundível voz de Johansson) e uma imagem abstrata que se encerra no olho da personagem. A trilha sonora, minimalista a la Brian de Palma, ao invés de antecipar as cenas-chave do filme, estimulando o suspense, não demorou a se tornar irritante e repetitiva, já que ela não tinha respaldo narrativo que justificasse sua utilização em tais cenas.
Ainda que contemple alguns bons planos abertos da gélida paisagem escocesa, a fotografia do filme não acrescenta muito ao roteiro pobre e vago, que não consegue estabelecer uma linha narrativa muito clara e, ao beber na fonte de gêneros como ficção-científica, suspense, terror, não aprofunda e nem os articula de maneira eficiente. Glazer tem suas intenções bem claras quanto à construção de um cinema autoral e o filme até corre o risco de no futuro virar um cult. Quanto à desajeitada atuação de Scarlet Johansson, seria mais apropriado dizer que a história não a ajuda, e o resultado causa uma estranheza maior do que a do seu personagem.
Ademais, se não justifica, não me surpreende nem um pouco que o filme tenha recebido vaias da imprensa quando exibido na abertura do Festival de Veneza no ano passado.
Ano: 2013
Direção: Jonathan Glazer
Roteiro: Walter Campbell
Elenco principal: Scarlett Johansson, Krystof Hadek, Paul Brannigan.
Gênero: Ficção científica, suspense.
Nacionalidade: Reino Unido
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