Quando falamos em filmes brasileiros muita gente ainda pensa em comédias populares ou os conhecidos favela movies. Entretanto, ao analisarmos a história do nosso audiovisual com mais atenção é possível superar essa ideia a partir de dois pontos centrais.
O primeiro deles é que o cinema nacional é feito de ciclos que começam, terminam e começam de novo. O segundo é que em todos os movimentos, os realizadores abordam uma ampla gama de temas em diferentes gêneros.
Essa tendência se repete atualmente. A partir das leis de incentivo colocadas em prática nos anos 2000, o número de produções aumentou bastante neste período, conhecido como Pós-Retomada. Segundo dados divulgados pela Ancine, em 2018 foram lançados no Brasil 183 longas-metragens, divididos entre ficções e documentários. Já em 2019 o número foi de 167.
Dentro dessa quantidade expressiva de histórias, realizadoras e realizadores têm produzido narrativas em diferentes gêneros, do terror à ficção distópica. Contudo, as maiores bilheterias ainda pertencem a filmes populares como Fala Sério Mãe (2017) e Os Farofeiros (2018) que levaram cada um mais de 2 milhões de pessoas às salas de cinema.
Mesmo assim é possível perceber algumas mudanças no interesse da audiência. De acordo com dados da ANCINE, Turma da Mônica: Laços (2019), por exemplo, também levou mais de 2 milhões aos cinemas. Já Bacurau (2019), que apresenta uma trama densa, foi visto por mais de 700 mil pessoas.
Ainda que felizes pela popularidade do cinema nacional recente, ao verificarmos outros dados percebemos que existe um longo caminho a ser percorrido. Pelo levantamento do Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro, a participação do público em sessões de filmes nacionais ainda é baixa, não chegando a 15%. Apenas para compararmos, o prestígio da audiência na França para filmes do próprio país é de 39,5%, enquanto na Coreia do Sul, que recentemente deu ao mundo Parasita (2019), a taxa é de 50,9%.
A verdade é que precisamos falar mais sobre o nosso audiovisual e divulgar sua riqueza, para que mais pessoas percebam a diversidade das histórias abordadas. Em partes, festivais de cinema nacionais auxiliam nessa propagação, assim como a presença cada vez maior de filmes locais em grandes cerimônias internacionais. O Cinemascope tem um compromisso com o cinema brasileiro e o prestigia sempre. Assim também acontece no streaming do Telecine, que possui um amplo catálogo de produções brazucas.
Por conta disso, listamos aqui 5 filmes brasileiros que estão disponíveis por lá e que foram aclamados em festivais ao redor do mundo.
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A VIDA INVISÍVEL
Não tem pra onde correr. A Vida Invisível, dirigido por Karim Aïnouz, é uma das maiores pérolas do cinema recente.
Vencedor do prêmio Um Certo Olhar em Cannes, o longa também arrebatou louros no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.
Inspirado no livro homônimo de Martha Batalha, A Vida Invisível é ambientado no Rio de Janeiro dos anos 1940 e conta a história das irmãs Eurídice (Carol Duarte) e Guida (Julia Stockler). Separadas ainda jovens, as duas precisam aprender a viver em uma sociedade patriarcal que não enxerga a mulher e seus desejos.
O filme de Aïnouz também foi a aposta do Brasil para concorrer a uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar, mas não foi escolhido. Não tem problema, porque em nossos corações a vitória em Cannes ainda é celebrada.
AS BOAS MANEIRAS
Falando em diversidade de gêneros cinematográficos, o cinema brasileiro tem produzido ótimos filmes que flertam com o terror.
Um exemplo é As Boas Maneiras (2017), conduzido por Juliana Rojas e Marco Dutra. O longa recebeu o prêmio especial do Júri no Festival de Locarno, menção especial no Austin Fantastic Feast e venceu 6 categorias do Prêmio Guarani.
Nessa história trevosa conhecemos Clara (Isabél Zuaa), que vive na periferia de São Paulo e é contratada por Ana (Marjorie Estiano) para cuidar de ser filho ainda não nascido. O clima vai ficando tenso conforme a gestação de Ana avança e ela passa a apresentar comportamentos bem sinistrinhos em noites de lua cheia. Repleto de cenas memoráveis, As Boas Maneiras possui números musicais excelentes e uma sequência de animação de grande apuro estético.
CINE HOLLIÚDY
Como comprovado aqui, o público brasileiro adora comédias. Que tal então assistir a uma fora do eixo popular?
Cine Holliúdy (2014) se intitula como o primeiro filme completamente falado em cearencês do mundo. Dirigido por Halder Gomes, a história compila de maneira irreverente pontos cruciais pra entender a cultura do Ceará.
No longa conhecemos Francisgleydisson (Edmilson Filho), o proprietário de um cinema em uma pequena cidade no interior do estado. Ali, Francis trava uma verdadeira luta contra a televisão, que a cada dia rouba mais e mais espectadores. Ao roteirizar e protagonizar os filmes que exibe em seu cinema, ele tem a missão de fazer com que o público não perca o amor pela sétima arte.
Cine Hollyúdi venceu nas categorias de Melhor Filme e Melhor Comédia no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e recebeu o Troféu Andorinha no Cineport.
Ah, vale lembrar que se o cearencês ficar muito confuso, existe a opção de legendas, mas fica aqui a provocação: se conhecêssemos bem o nosso país, será que acharíamos o sotaque de outros estados assim tão incompreensíveis?
SÓCRATES
Depois de uma boa comédia, que tal um bom drama?
Sócrates (2018), longa do diretor Alexandre Moratto, foi laureado no Festival Mix Brasil nas categorias Melhor Filme, Melhor Ator e Melhor Diretor. Já no Festival do Rio, recebeu o prêmio Félix de Melhor Ficção e na Mostra de São Paulo, o Prêmio Internacional do Júri. Contudo, talvez a maior honraria de Sócrates tenha sido o prêmio “Someone to Watch” para Alexandre Moratto no Spirit Awards, festival de cinema independente dos EUA.
O protagonista, homônimo ao título do filme, é um adolescente desamparado que precisa dar um jeito na própria vida após a morte da mãe. Sozinho, ele tenta sobreviver em São Paulo enquanto o preconceito contra sua sexualidade o afeta cada vez mais. Apesar de curto (apenas 71 minutos), o filme proporciona um mergulho em profundidade na vida e na realidade de um jovem periférico, negro e gay.
CENTRAL DO BRASIL
Quando trazemos à baila filmes brasileiros premiados é impossível não falar do clássico Central do Brasil (1998).
Conduzido por Walter Salles, na história conhecemos Dora (Fernanda Montenegro), uma ex-professora que escreve cartas para analfabetos na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Uma de suas clientes tenta conectar o filho Josué (Vinícius de Oliveira) ao pai, mas morre atropelada ao sair da estação. A partir de então, aos trancos e barrancos, Dora ajuda a criança a reencontrar o pai desaparecido. Emocionante, intenso e arrebatador são adjetivos que ajudam a traduzir esse filme em palavras.
A produção foi indicada a dois Oscars: Melhor Filme Estrangeiro (nome da categoria na época) e Melhor Atriz, para Fernanda Montenegro. Além disso, venceu o Globo de Ouro de Melhor Filme de Língua Estrangeira, o BAFTA de Melhor Filme em Língua não Inglesa e o Urso de Ouro em Berlim.
Aqui, o filme foi e ainda é uma verdadeira sensação. Repleto de atuações icônicas a produção já faz parte do imaginário popular. Acima de tudo, Central do Brasil desempenhou outro papel histórico, esse mais importante que qualquer prêmio ou festival. O filme ajudou o povo brasileiro a se reencontrar com seu cinema.
Que sigamos valorizando as produções nacionais, estejam elas em festivais ou não.
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*Esse post foi produzido pela equipe do Cinemascope e conta com o patrocínio do Telecine.
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