Por Jenilson Rodrigues

Usando como inspiração e referência alguns clássicos do cinema, artistas recriam cenas inesquecíveis traduzindo-as para outros formatos. Escolhemos mostrar nesse #5+1 alguns videoclipes incríveis criados a partir de filmes não menos fantásticos e de grande importância para a sétima arte. De tão bem feitos esses clipes eternizaram os hits das bandas em questão, além de prestarem uma bela homenagem a obras tão geniais. É como assistir a uma versão curta-metragem dessas grandes produções e ainda com o bônus de uma ótima canção de fundo. E esse é apenas um pequeno apanhado que fizemos, pois existem muito mais videoclipes incríveis nessa mesma pegada. Os vídeos abaixo divertem e hipnotizam ao harmonizarem tão bem imagem e som. Ah, e aproveite também para assistir aos filmes, só tem coisa boa!

Last Cup of Sorrow – Faith No More (Um Corpo que Cai)

Com o mantra: “You might surprise yourself”, o genial Mike Patton dita o ritmo de um dos maiores hits do Faith No More, que ganhou um vídeo realmente surpreendente. O diretor Joseph Kahn conseguiu recriar com perfeição várias cenas do clássico de Alfred Hitchcock utilizando como personagens os próprios integrantes da banda, atuando em locais onde foram feitas as filmagens originais do longa. A sensação é ótima porque dá pra se ter uma noção da acrofobia, sofrida pelo protagonista James Stewart, que consiste num medo de altura capaz de causar vertigem e pequenas alucinações. Tudo isso ao som maravilhoso do Faith No More. Last Cup of Sorrow é um single do grande álbum intitulado Album of The Year, de 1997. Homenagem mais do que justa a essa obra prima do mestre Hitchcock, merecidamente considerada por muitos como um dos melhores filmes da história do cinema.

Walk – Foo Fighters (Um Dia de Fúria)

Mais um vocalista como protagonista. Dessa vez, Dave Grohl encarna o personagem William Foster, que foi interpretado por Michael Douglas, em Dia de Fúria (1993). O diretor Sam Jones, juntamente com o Foo Fighters, optou por fazer uma versão mais caricatural e engraçada do filme, que é cru e violento e de engraçado tem muito pouco. O resultado é um vídeo divertido e que casa com o clima criado pela música, a historinha vai evoluindo à medida que a canção vai crescendo. Essa sincronia agrada e entretém, fica até difícil parar de acompanhar o clipe depois de dar o play. Mais interessante ainda seria se Dave Grohl tivesse sido melhor caracterizado e se parecesse mais com o protagonista maluco do longa, com aquele cabelo estilo Guile, de Street Fighter. Walk faz parte do álbum Wasting Light, lançado em 2011.

 

Otherside – Red Hot Chili Peppers (O Gabinete do Dr. Caligari + Escher + Pintura Expressionista) 

Dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris, Otherside, dos Chili Peppers, engloba mais referências do que os outros vídeos dessa lista. A partir da descrição do baixista Flea sobre um filme, o qual ele tinha visto numa madrugada que estava em turnê, Jonathan e Valerie descobriram se tratar de algo relacionado ao expressionismo alemão. Os próprios diretores e a banda chegaram ao consenso de retratarem algo do tipo no vídeo de Otherside, porém eles queriam ir além do O Gabinete do Dr. Caligari (1920), dirigido pelo alemão Robert Wiene. Fazendo alusão a obras de arte como pinturas, esculturas e filmes do expressionismo alemão, os diretores conseguiram um belo resultado que leva o espectador além do refrão chiclete tão executado nas rádios por todo o mundo quando o álbum Californication foi lançado, em 1999. É ótimo ver Flea e companhia fazendo suas macaquices em um universo tão belo e estranho.

 

 The Universal – Blur (Laranja Mecânica)

Espetacular. Isso é o que se pode dizer de Laranja Mecânica e de praticamente tudo que se utiliza de sua estética, principalmente quando a produção se apropria de seus elementos de forma tão competente, como no maravilhoso vídeo de The Universal, do Blur. Damon Albarn, o frontman da banda, é um dos mais inteligentes e interessantes músicos existentes na face da terra atualmente. Em 1995, o Blur se juntou ao diretor Jonathan Glazer (diretor do filme Sob a Pele) para ilustrar uma de suas melhores canções com um vídeo baseado em uma das maiores obras de Kubrick. A riqueza de detalhes impressiona: atuações de gala (incluindo a da banda), um jogo de contraste de cores magnífico e um sincronismo perfeito entre efeitos sonoros e ação. E que música linda!

 

Tonight, Tonight – Smashing Pumpkins (Viagem à Lua)

Não é a toa que o videoclipe de Tonight Tonight foi tão premiado, fez e continua fazendo tanto sucesso. Essa é provavelmente uma das mais incríveis homenagens já feitas ao ilusionista francês Georges Meliès, que é considerado o pai dos efeitos especiais. Seu filme Viagem à Lua, de 1902, é algo tão belo, singelo e poético que fica difícil até compará-lo com qualquer outra obra cinematográfica. Só mesmo ao conferir essa produção – de aproximadamente 11 minutos de pura magia – é possível se ter uma ideia do que estamos falando. Mágico também é o álbum duplo Mellon Collie and the Infinite Sadness do Smashing Pumpkins, de 1995. São 28 faixas sensacionais, de um nível musical absurdo. Uma delas é Tonight Tonight, que encaixou perfeitamente no vídeo também dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris. “The impossible is possible tonight”, não há frase que melhor defina obras tão lindas e surpreendentes como a música, o vídeo e o filme de Meliés.

 

Videoclipe além dos clichês…

 

We’ve Lost You – Sepultura (Filmes de Stanley Kubrick)

 

Sem querer puxar a sardinha para o nosso lado, mas a banda mineira Sepultura fez uma mistura muito interessante reunindo em um mesmo vídeo alguns personagens retratados nos filmes de Stanley Kubrick em ambientes com uma estética própria das obras de um dos maiores diretores do cinema. Praticamente no mesmo recinto, vemos a fusão de Lolita com Laranja Mecânica e O Iluminado, sob os olhares atentos de alguns personagens do longa De Olhos Bem Fechados. Com tanta informação junta era de se esperar algum tipo de confusão, entretanto o que ocorre é exatamente o contrário. Além da ótima produção, os caras ainda tascam um roteiro incrível com um garoto tomando leite e encarnando o espírito ultraviolento do maluco Alex, de Laranja Mecânica, do qual falamos tanto no #5+1 Pura Insanidade. E para completar a homenagem ao filme, a faixa faz parte do álbum A-Lex de 2009. Medalha de ouro para a banda e para o diretor André Moraes.