Por Fábio Monteiro
Em outubro de 2019, a população chilena novamente tomou as ruas e provocou um evento que se tornou como “estalido chileno”. Aquela não era a primeira vez que a sociedade civil enfrentava o governo com reivindicações sociais bastante precisas. O seu histórico de lutas pode ser datado desde os anos 1960 e 1970.
Naquele momento, Patricio Guzmán realizou uma trilogia intitulada A Batalha do Chile, um filme monumental que revelou tanto a força de uma revolução social quanto a sua crise e o consequente golpe militar.
Ao longo das quase cinco horas de duração, o filme apresenta todo o processo histórico do Governo Allende (1970-1973) e a sua consequente destruição em função do golpe militar do dia 11 de setembro de 1973.
É como se estivéssemos assistindo, por exemplo, aos eventos cotidianos de uma Revolução Francesa ou uma Comuna de Paris: além de ser uma aula sobre a existência da luta de classes, o filme se tornou um cânone que ilumina a história da América Latina.
A Batalha do Chile: o que a história nos conta
Eleito presidente em 04.09.1970, Salvador Allende defendia uma “transição pacífica rumo ao socialismo” baseando-se numa complexa coalizão de partidos de esquerda. Porém, os desafios eram grandes, a começar pelas divergências internas entre as esquerdas; o forte apoio financeiro e a persuasão midiática exercida pelos EUA sobre as oposições políticas, além do acirramento da polarização social na medida em que os impasses políticos e econômicos se desenvolviam.
Enquanto isso, um jovem Guzmán que havia acabado de retornar da Escola de Cinema de Madrid, onde estudou ficção. Certo dia, olhando pela janela de seu escritório, ele percebeu que a euforia social das multidões o chamava para a realidade. Era preciso registrar e documentar aquela revolução em movimento.
A carta a Chris Marker rendeu um significativo auxílio técnico: o renomado cineasta francês enviou material suficiente para se produzir cerca de vinte horas de filmagem. Encarcerado por duas semanas no Estádio Nacional após o golpe militar, a sua equipe contou com o apoio da embaixada sueca e receberam a solidariedade do regime cubano para sair do país com o filme e finalizá-lo no ICAIC, em Havana.
Ainda hoje A Batalha do Chile é um filme contemporâneo, pois além de registrar uma revolução em andamento, ele diz muito a respeito de como o ressentimento, a demagogia e a polarização interessam àqueles que apostam no autoritarismo como gestão de governo. Nada mais urgente ao Brasil contemporâneo.
Para complementar
Vale conferir a entrevista abaixo realizada por Fábio Monteiro com Natacha Scherbovsky, Professora de Antropologia Visual da Universidade de Rosário, Argentina. Em seu mestrado, ela teve a oportunidade de entrevistar Bernardo Menz e Pedro Chaskel, técnico de som e montador da monumental trilogia “A Batalha do Chile”, dirigida por Patricio Guzmán.
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