Eu adoro dizer que nasci em 1989, o mesmo ano que foi lançado Batman de Tim Burton. Uma das melhores versões do herói no cinema e que imortalizou Jack Nicholson como o Coringa. Minha infância foi com esse herói que, além dos filmes de Burton, ainda tinha a animação Batman: A Série Animada, que passava no SBT e eu adorava, principalmente a abertura que marcou época. Minha caixa de brinquedos sempre tinha um item do herói e lembro uma vez que levei um Batarang para a escola e, no meio da brincadeira, ele foi parar em cima do telhado. Nunca mais tive meu brinquedo de volta.
De lá para cá, a paixão só foi aumentando e sempre fui acompanhando o herói em suas diversas encarnações no cinema e em outros meios. Como eu morava numa cidade do interior e numa época pré internet, não tinha acesso a gibis, por exemplo, então me restringia apenas ao que passava na TV ou, quando estava um pouco mais velho, ao que chegava na locadora que tinha próximo de casa.
Quando minha paixão por Batman aumentou para paixão por cinema, me dediquei a colecionar revistas sobre cinema, principalmente a SET que, ainda num período pré internet, trazia as principais notícias relacionadas ao mundo da sétima arte. Hoje, alguns anos após o fim da revista, eu ainda sigo colecionando algumas que aparecem nas bancas e, muitas vezes, reviro os sebos em busca de alguma edição da finada. Voltando ao universo do Batman, tenho o orgulho de ter todas que foram lançada no mês em que os filmes do morcego estrearam.
Como fã do homem morcego e em comemoração do Dia do Orgulho Nerd, vou comentar aqui alguns momentos do herói no cinema que gosto bastante. Vamos ver se você também concorda.
Batman: O Retorno (1992)
Mesmo tendo a mesma idade que o primeiro Batman do Burton, foi Batman: O Retorno quem marcou de fato minha infância. A primeira lembrança era de descobrir que o filme passaria na rede Globo a noite, depois da novela, assistir até a metade e acordar na minha cama com minha mãe me chamando para ir pra escola no outro dia. Isso porque o filme era muito recente na época e passava muito tarde e eu não conseguia assistir até o final. Depois ele reprisou diversas vezes em horários mais cedo e consegui assistir completo. Era muito legal ver o embate entre Batman, Pinguim e Mulher Gato. Obviamente eu torcia para o Batman, mas nas vezes que rolava uma briga entre o Pinguim e a gata eu ficava sem saber para quem torcer.
Mais do que Michael Keaton, Michelle Pfeiffer e Danny DeVito ficaram marcados para sempre como vilões a serem superados. Eu com meu olhar de criança, nunca tinha visto um vilão tão sujo visualmente como o Pinguim nesse filme. As cenas em que ele aparecia comendo peixe cru me causavam repugnância e curiosidade ao mesmo tempo. Outra produção que colocava na mesma categoria estranho mas legal era Família Addams (1991) e Família Addams 2 (1993) que assisti diversas vezes também.
Mesmo anos depois, quando fui rever Batman: O Retorno quando mais velho, ele ainda continua sendo um filme muito bom. Com olhos mais maduros, consegui perceber o quanto de tensão sexual tem nesse filme. Mulher Gato com aquela roupa super colada e lambendo Batman pelos telhados de Gottam City. Burton chegou próximo, bem próximo do limite do que separa um filme para criança de um filme para adultos.
Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008)
Depois de Batman: O Retorno, os estúdios preferiram que o universo do herói fosse mais, digamos, “for kids” e iluminou tudo com muito neon e armaduras que tinham mamilos. Foi a era do Joel Schumacher com Batman Eternamente (1995) e Batman e Robin (1997). Lembro que na época que assisti a esses filmes, eu não achei eles necessariamente ruins, mas não me agradava muito ver aquilo. Senti uma vergonhazinha alheia de ver Swazzeneger como Mr. Freeze ensaiando seu coral de capangas cantando músicas de Natal. Nada a ver com os personagens que ele encarnava nos filmes que meu pai assistia.
Graças os deuses Nerds, anos mais tarde Christopher Nolan surgiu e salvou o herói dos neons e criou uma versão mais realista no abençoado Batman Begins (2005). Foi ótimo ver meu herói favorito em ótima forma novamente. O que não sabia era que aquilo era só a ponta do iceberg do que viria em seguida: Batman – O Cavaleiro das Trevas (2009). Que maravilha! Lembro de assistir no cinema e não conseguir mais parar de falar sobre isso. Era um filme lindo demais para não se comentar a respeito. Boa parte desse sucesso, é claro era devido ao trabalho de Heath Ledger como Coringa. Uma missão que parecia impossível, de superar a versão de Jack Nicholson, ainda mais para um ator que não tinha tanto destaque assim como Ledger. Ele foi lá e calou a boca de todo mundo. Pena foi ele falecer antes de ver o sucesso que seu papel teve.
Na época do lançamento, lembro de muita gente falar que o filme deveria se chamar Coringa: O Filme. Todas as forças convergiam para a figura do vilão e suas tramóias. Sua presença, seus trejeitos e até a forma com que ele molhava os lábios com a língua, compunha um personagem intocável. Tanto que rendeu um Oscar póstumo de ator coadjuvante para Ledger. Sério, não tenho nem palavras para descrever o que foi esse momento para, não só para mim, mas todos os fãs do herói.
A trilogia terminou com Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012) que foi OK. O filme não conseguiu chegar ao nível da parte 2, o que era quase impossível, e teve que se reinventar sem a presença de Ledger para reprisar o papel que o destacou. Achei bem prudente não colocar ninguém para substituí-lo nesse terceiro filme. Parece ser um ato de respeito com seu trabalho. Valeu, Cara.
Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016)
Sim, sim. Eu gosto bastante desse filme, me julguem, mas antes me deixa explicar. O tanto que gosto de Batman é quase inversamente proporcional o quanto não gosto do Superman. Acho ele muito limpinho, aquele cabelo com gel me incomoda e ele é muito “roubado”. Sim, eu sei que ele foi um dos primeiros e etc. mas, sei lá, não gosto. Quando anunciaram que teria esse filme, eu adorei a ideia. Principalmente que tinha achado Homem de Aço (2013) um filme até interessante. Tem alguns problemas, mas trouxe um pouco desse universo sombrio / realista que tinha na trilogia de Nolan. Todo mundo ficou na expectativa de Christian Bale entrar nesse universo, o que não rolou. Acabou entrando Ben Affleck como um novo Batman. Eu e geral reclamamos, mas achei que ele ficou bom como o Batman, principalmente o queixo que era o ideal, minha dificuldade era ver ele como Bruce Wayne. Só enxergava o Ben Affleck
Visto isso, o que eu queria de fato era ver o Superman apanhando fortemente do Batman. Eu já tinha tido uma palhinha disso na animação Batman: O Cavaleiro das Trevas, que é a adaptação dos quadrinhos de mesmo nome de Frank Miller e queria ver isso na tela grande. A direção era de Zack Snyder, o cara que dirigiu Homem de Aço e Watchmen (2009) tinha grandes chances de sair coisa boa. Assim que iniciaram as vendas, já comprei meu ingresso logo em IMAX. Tinha que ver aquilo na melhor qualidade possível e para mim foi maravilhoso ver o Superman tomando um pau do homem morcego, foi lindo demais. Foi do jeito que eu sempre quis ver.
Sei que o roteiro tem diversos problemas e acho a trama da animação que citei muito mais interessante. Mas, não acho tão problemático assim o “momento Martha”, que todo mundo falou mal. Além do Super Homem apanhando, tiveram outros momentos muito legais, que pareciam saídos direto dos quadrinhos (especialidade do diretor) como a cena com “o Batman na parede” ou quando ele vai salvar a mãe de Clark e destrói de verdade os capangas de Lex Lutor, além do Batmóvel que tinha quase um orgasmo quase toda vez que aparecia. Ah, e também tinha um problema com o Ben Affleck como Bruce Wayne. Como Batman tava até legal, principalmente por causa do queixo. E foi justamente nesse filme que vi o quanto eu me importava com o herói, quando me vi falando (gritando) no meio da sessão coisas tipo “Sai! Sai!”, quando um monstro gigante ia em direção ao Batman e ele não era um Superman para poder segurar seu soco de derrubar um prédio. Micão, eu sei, mas foi impossível controlar.
Acredito que o filme deu errada devido a ter muitas responsabilidades para um filme só. Primeiro, ser uma continuação direta de Homem de Aço. Segundo, criar um universo novo para o Batman depois da tão bem sucedida trilogia de Christipher Nolan. Terceiro, introduzir novos heróis para dar espaço para o vindouro Liga da Justiça. Além, é claro, de resolver a própria treta do filme entre os dois heróis. Era muita coisa para um filme só.
Depois disso, a coisa desandou de vez. Teve Liga da Justiça (2017) e Esquadrão Suicida (2016) que derraparam legal na pista e os planos da DC tiveram de ser mudados. Desse universo o que salvou foi apenas Mulher Maravilha (2017) e Aquaman (2018) que seguem com suas continuações já em produção. Além desses, está a caminho o filme Aves de Rapina (2020), que já tem um teaser trailer, e foca na vilania feminina da DC e resgata a Arlequina de Margot Robbie. De resto, foi tudo jogado pro alto e estamos sem saber muito bem o que virá a seguir.
Propriamente do universo do Batman temos um vindouro e esperado filme solo do Coringa que estréia ainda esse ano (amém). Dessa vez, depois de uma versão MC Guimê interpretada por Jared Leto, o vilão será vivido por Joaquin Phoenix (amém novamente) que tem trabalhos interessantíssimos na carreira como Commodus em Gladiador (2000) e o problemático Freddie Quell em O Mestre (2012).
Enquanto escrevo esse texto, tudo indica que Robert Pattinson será o novo Batman/Bruce Wayne nos cinemas. Geral tá polvorosa com essa notícia. “Como assim o cara do Crepúsculo vai interpretar o Batman?! Ele vai brilhar também?”. Então, galera, o que eu acho é o seguinte: vamos com calma. Não sabemos quais são os rumos que essa nova versão do herói terá. E outra, Pattinson tem outros trabalhos muito mais interessantes que a saga adolescente e mandou muito bem como, por exemplo, no excelente Bom Comportamento (2017) que foge completamente do que ele fez como vampiro. Ou seja, vamos respirar e ver o que vem por aí.
Eu já pensei diversas possibilidades mas não saberia indicar algum ator que gostaria que fosse. A direção do novo filme que vem sendo chamado temporariamente como The Batman, depois de ter passado inclusive pela mão de Ben Affleck, fica por conta de Matt Reeves que dirigiu recentemente a trilogia de O Planeta dos Macacos. Um trabalho muito bem feito, inclusive. Nós fãs do herói e nerds em geral, esperamos que venha coisa (muito) boa por aí e sem mamilos e neon, por favor, obrigado.