Por Daniel Couto
Tido como a grande surpresa do Oscar 2020, o filme Parasita (2019) faturou quatro das seis categorias nas quais concorreu. No entanto, na categoria de melhor montagem o longa de Bong-Joon Ho perdeu a estatueta para Ford vs Ferrari (2019).
Muitos ensaios e críticas surgiram na internet, antes e após a premiação, exaltando a montagem do filme sul-coreano e contestando a premiação. Fato é que, Ford vs Ferrari apresenta uma montagem que pouco agrega à narrativa fílmica, ao desenvolvimento dos arcos dos personagens e foca no apelo visual da edição “videoclipada” das cenas de corrida. Já Parasita seguiu o rumo oposto, investindo em uma montagem mais econômica, usando menos planos para contar mais.
Essa montagem mais cadenciada é fruto do irretocável trabalho de direção de Bong-Joon Ho. Em narrativas com uma métrica de edição menor a montagem entrega diferentes planos unidos por um raccord de movimento.
A direção de Parasita, por outro lado, permite ao espectador passear de um plano geral, para um plano médio até um close. Tudo isso em um único plano, graças à perfeita mise-en-scène envolvendo atores, câmera etc.
Desta forma, o que vemos no filme (salvo o terceiro ato) são planos mais longos, em sua maioria trazidos à vida através de movimentos de câmera estabilizados que permitem ao espectador um olhar mais “desbravador” para toda arquitetura visual da cena.
Ao mesmo tempo, planos mais longos também impuseram ao montador Jinmo Yang a responsabilidade de conectar essas imagens fluidas de uma forma única, para atender o ritmo que o diretor pede. Yang venceu como melhor montador no Ace Eddie Awards, prêmio do sindicato de montadores de Hollywood.
A montagem em Parasita e a cena do pêssego
Talvez a síntese perfeita do estilo da montagem em Parasita seja a “cena do pêssego”. 60 planos, 5 minutos. Uma média de 12 planos por minuto para uma cena que contém seis ações paralelas (o ensaio da Família Ki-Teak, a preparação de cada membro para arquitetar o golpe e o desfecho final).
Tudo isso ritmado com slow motions, ações e diálogos que se completam, cortes análogos e toda uma sorte de técnicas que fizeram do filme merecedor de toda atenção e premiação que teve. Se “a simplicidade é o último grau de sofisticação”, em Parasita a “economia” na montagem entrega muito mais.
A montagem de Parasita é abordada em detalhes no curso Introdução à Montagem ministrado pelo professor Daniel Couto. Mais informações no link abaixo.
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