Ser mulher é estar em constante perigo. Em todas as épocas, em todos os lugares. Ser mulher, independente, inteligente, inovadora e sexualmente livre então, é certeza de morte.
O feminicídio já teve vários invólucros ao longo da história da humanidade, com destaque para o período que sucede o surgimento e consolidação do catolicismo como religião oficial na Europa. A partir do século XIII, com a criação do Tribunal Inquisitorial, que tinha como principal função investigar e punir crimes contra a fé católica, milhares de mulheres foram torturadas e sentenciadas à morte por suas “práticas demoníacas” que normalmente consistiam em métodos curativos através de orações e ervas.
E como o desconhecido e a ignorância são os ingredientes principais para criar o medo, instaurou-se o pânico generalizado na Europa Medieval, fazendo com que fosse impossível confiar em alguém. A prática de denúncia tornou-se um meio de vingança e saída fácil para se livrar de pessoas indesejadas e a bruxaria era uma maneira fácil de rotular as que desviavam do padrão estabelecido social e culturalmente.
O dia 31 de outubro, o Dia das Bruxas, surgiu entre o povo celta, que comemorava neste dia o último dia do verão, quando os espíritos saiam dos cemitérios para tomar o corpo dos vivos. Para assustá-los, os celtas decoravam suas casas com objetos assustadores. Por ser uma festa de origem pagã, foi condenada pela Igreja na Idade Média, quando então passou a ser chamada como conhecemos hoje. Os que comemoravam o Dia das Bruxas eram queimados na fogueira.
O medo que eles tinham/têm de nós foi transposto para as telas do cinema, gerando uma enxurrada de produções acerca desse tema e, para comemorar este dia – já que por enquanto não corremos o risco de sermos mortas na fogueira -, nós do Cinemascope selecionamos alguns filmes que fizeram parte da formação do nosso imaginário acerca da bruxaria (recheados de clichês como: gatos pretos, nariz com verruga, terror das criancinhas, etc), alguns deles com teor nostálgico e temáticas ingênuas e humorísticas, outros recheados de questionamentos e críticas sociais, afinal, ser bruxa vai muito além de preparar feitiços de juventude não é mesmo?
Somos as netas de todas as bruxas que vocês não conseguiram queimar.
Feliz dia à todas nós!
Abracadabra (1993)
Abracadabra é aquele filme Sessão da Tarde, com tons facescos e o bom e velho roteiro: bruxas perseguindo crianças de modo atrapalhado e perdendo para a sagacidade infantil. A história conta a saga das 3 irmãs bruxas (Winifred “Winnie”, Mary e Sarah Sanderson) moradoras da cidade de Salém, que criam uma poção mágica capaz de a força vital das crianças, após serem sentenciadas à morte em 1693, lançam uma proteção, que só alguém com coração puro fosse capaz de quebrar. Assim, em 1993, Max muda-se com a sua família, encontra a casa das bruxas, e as liberta acendendo uma vela que quebra o feitiço. O filme é nostálgico, é engraçado e tem gatinho e zumbi.
Elvira, A Rainha das Trevas (1988)
Elvira é um crush instantâneo. Uma apresentadora de programas de terror, que com sua sexualidade aflorada e suas atitudes exageradas e sombrias causa um frisson ao chegar em Fallwell, uma cidade do conservadora dos Estados Unidos, após receber uma mansão mal-assombrada de herança de sua tia-avó. Clássico inquestionável das tardes diárias, Elvira é um filme obrigatório e, se você ainda não tem um crush nela, você não assistiu, ou assistiu errado.
Convenção das Bruxas (1990)
Convenção das bruxas é um filme da minha infância e que, ainda hoje, quando penso em certas cenas, não consegui me recuperar. De novo a temática de bruxas malvadas correndo atrás da vitalidade de criancinhas. Nesse filme, acompanhamos Luke e sua avó, que se hospedam em um hotel que abriga uma convenção anual de bruxas, que pretendem transformar todas as crianças em ratos. Luke descobre o plano, e a partir daí somos presenteados com cenas capazes de desgraçar a cabeça das crianças (como foi a minha). Mesmo assim, ainda vale a pipoca para ver a Anjelica Huston, eterna Mortícia Addams, divando na pele da rainha das bruxas.
Harry Potter (2000-2011)
A saga Harry Potter dispensa qualquer tipo de sinopse ou apresentação, é uma história que já se tornou estilo de vida e tem algum apelo afetivo para todo mundo que cresceu com os filmes baseados na obra de J.K. Rowling (diva criadora de divindades). Peço destaque aqui para como a saga apresenta as bruxas, mais do que os bruxos, então deixemos o garoto que sobreviveu de lado um pouquinho. Hermione é uma nascida-trouxa, ou seja, uma bruxa com pais não-bruxos (trouxas), que comanda de viés todos os acontecimentos do filme. Inteligente e sagaz, ela leva os dois garotos no colo por um bom tempo de narrativa e o filme nos proporciona não só ela, mas um núcleo inteiro de mulheres poderosas, a professora Minerva é um outro exemplo.
A Bruxa de Blair (1999)
A Bruxa de Blair é tida hoje como o filme que revolucionou o gênero de terror, pois usa a técnica de filmagem “documental” para parecer mais real. A história gira em torno de três estudantes de cinema que partem em busca de documentar a famosa história da Bruxa de Blair e enquanto fazem isso, coisas estranhas começam a acontecer. O filme brinca com o suspense e o coloca naquilo que não podemos ver, propondo que o pânico está no desconhecido e nós, que somos espectadores, entramos em apreensão crescente por não sabermos e não vermos o que é que realmente está assustando os personagens.
A Bruxa (2015)
Agora entramos na área dos filmes inquietantes. A Bruxa conta a história de uma família da Nova Inglaterra que, no século XVI, se muda para uma vila perto de uma floresta e que começa a presenciar uma série de acontecimentos estranhos, o que os fazem crer que são originados por bruxaria. O filme vai muito além do gênero terror/suspense e posiciona o nosso medo naquilo que não vemos. Nessa bruma de estranhezas, propõe discussões bem mais profundas do que imaginamos.
As Bruxas de Salém (1996)
Na cidade de Salem, no ano de 1692, um grupo de jovens garotas fazem rituais de amor, e uma delas, Abigail Williams interpretada por Winona Ryder decide fazer um feitiço para matar a mulher de um fazendeiro com quem teve um caso. Quando são descobertas em seu ritual, as garotas são acusadas de bruxaria, o que gera uma histeria coletiva na cidade, enquanto Abigail acusa Elizabeth (a mulher que queria ver morta), até vê-la ser atingida. Assim como o filme anterior, As Bruxas de Salém busca através do gênero de suspense, suscitar discussões de gênero, de violência contra a mulher e dos padrões estabelecidos socialmente ao longo da história.