Depois do sucesso de Psicose (1960), apesar de não ser propriamente um terror slasher, o próximo filme a ser consagrado como importante para o subgênero é O Massacre da Serra Elétrica (1974), hoje considerado um dos clássicos do cinema de terror. Quem nunca assistiu ao longa, certamente já ouviu falar a respeito ou ao menos assistiu alguma referência em produções que têm um louco correndo com uma motosserra. Além disso, Psicose e Massacre têm em comum a inspiração num mesmo assassino da vida real muito falado até hoje. A seguir, uma trajetória desde as inspirações e o lançamento do clássico até as continuações e versões mais recentes do assassino Leatherface .

ED GEIN, O ASSASSINO INSPIRAÇÃO PARA O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA

Edward Theodore Gein, conhecido como Ed Gein foi inspiração para O Massacre da Serra Elétrica, Psicose e outros filmes.

A principal inspiração para O Massacre da Serra Elétrica foi os eventos reais sobre o assassino Edward Theodore Gein, conhecido como Ed Gein. Em novembro de 1957 no estado de Wisconsin, a polícia foi chamada para investigar o desaparecimento da lojista Bernice Worden. Policiais encontraram manchas de sangue na loja de Worden e um recibo em nome de Ed Gein. Ele foi detido e, ao investigarem um barracão de lenha anexo à sua casa, foi encontrado o corpo de Bernice pendurado de cabeça para baixo, decapitado e estripado. Ao ser revistada, a casa de Gein estava cheia de lixo acumulado e partes de corpos de ao menos quinze mulheres. As investigações apontaram para assassinatos, roubos de túmulos e, possivelmente, canibalismo e necrofilia. Esse último crime, Ed negou alegando que cadáveres cheiravam mal.

Dentre os “troféus” do assassino estavam nove máscaras feitas de rostos conservados, cadeiras com assentos feitos com pele humana, uma cúpula de abajur feita de pele humana, dois crânios montados na cabeceira da cama, uma caixa de sapatos contendo nove vulvas conservadas, além de outras bizarrices feitas de partes humanas. Partes do corpo de Bernice estavam numa caixa de papelão enquanto seu coração foi encontrado numa frigideira no fogão. Além disso ainda havia vestimentas feitas de pele humana como camisa, calça e pulseira. Ainda uma espécie de traje feminino de corpo inteiro feito de pele humana, incluindo o rosto. Ele gostava de se fantasiar.

O assassino de O Silêncio dos Inocentes, Jame “Buffalo Bill” Gumb (Ted Levine), que tinha como objetivo fazer uma roupa de peles humanas, foi inspirado nos crimes de Ed Gein.

Quando avançaram com as investigações, descobriram que sua mãe, Augusta Gein era fanática religiosa e rígida na criação dos seus filhos. Além de Ed, ela havia outro filho, Henry, e estava convencida que o mundo estava cheio de pecado e que as mulheres eram a maior fonte desses e poderiam levar os seus filhos para a perdição. Ela não combinava com seu marido George e acabou assumindo a criação dos filhos e se mudando para uma fazenda. O pai de Ed estava sempre mudando de emprego e um deles foi o de trabalhar com couro. Ele ensinou ao filho algumas coisas que ele usou para construir os objetos utilizando pele humana.

Depois do falecimento do pai, Ed e seu irmão Henry fizeram bicos para sustentar a fazenda, e a mãe seguiu abusando dos dois. Enquanto Henry contestava as atitudes da mãe, Ed aceitava as provocações. Algum tempo depois, houve um incêndio na fazenda da família. Ed levou a polícia até um local onde o corpo do irmão estava. Ele havia morrido supostamente devido à fumaça do incêndio, mas segundo o juiz Robert Gollmar, que presidiu o julgamento de Gein, não houve autópsia do corpo e ele é suspeito de ter matado o próprio irmão.

Gein ficou sozinho com a mãe, que faleceu pouco tempo depois, vítima de uma série de derrames. Após esses fatos e, principalmente pela morte da mãe, a psicose de Gein floresceu. Ele era tratado mal pela vizinhança por fazer serviços como babá e acabou se retraindo num mundo de fantasia. Vivia sempre solitário e lendo histórias em quadrinhos, livros de anatomia e relatos de experimentos nazistas. Andava por cemitérios tirando partes de corpo e pele. Tinha um interesse especial por genitálias.

O personagem Norman Bates (Anthony Perkins) também foi inspirado no caso de Ed Gein.

Foi condenado por dois assassinatos, o de Bernice Worden e o de Mary Hogan, que estava desaparecida desde 1954. Mas também suspeito de outros assassinatos, de dois homens e duas adolescentes. Logo no início de 1958, Ed Gein foi considerado insano e foi enviado ao Hospital Central Estadual por tempo indeterminado. Somente após 10 anos ele foi considerado como apto a ser julgado. Foi condenado como insano devido a esquizofrenia crônica na época dos assassinatos. Durante o tempo que ficou preso, foi considerado como prisioneiro modelo. Era sempre gentil e educado. Ele faleceu em 26 de julho de 1984, com setenta e sete anos e seu corpo foi enterrado ao lado da sua mãe. Em junho de 2000 sua lápide foi roubada provavelmente por pessoas que o “idolatram”.

CRIANDO O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA

Bastidores de O Massacre da Serra Elétrica.

A primeira curiosidade do filme é sobre o título. O original é The Texas Chain Saw Massacre, seria algo como “O Massacre da Motosserra no Texas”, mas aqui no Brasil resolveram colocar como “serra elétrica” sendo que o instrumento usado pelo vilão não é elétrico, é de combustão. Até hoje não se sabe exatamente por que foi adotado tal versão. “Será que uma serra elétrica assusta mais que uma com motor a gasolina? Porque no filme não tem serra elétrica nenhuma (imagina a falta de praticidade para o assassino, precisaria ter sempre uma tomada à mão), e sim uma serra motorizada, que não precisa de eletricidade para funcionar”, trecho do livro Perdidos na Tradução, de Iuri Abreu.

A ideia de fazer O Massacre da Serra Elétrica, surgiu a primeira vez quando Tobe Hooper, um dos roteiristas e diretor do filme, estava em um departamento de ferramentas em uma loja no período de Natal. Irritado com as multidões em lojas no final de ano e tentando ter ideia para uma nova produção, as motosserras chamaram sua atenção e ele pensou que seriam ferramentas bastante úteis para sair rapidamente de lá. Trinta segundos após sair da loja, o conceito do filme já estava formado em sua cabeça. Além dessa visão numa sessão de ferramentas, Hooper ainda se inspirou em quadrinhos de horror que lia desde criança, a história de Ed Gein e um pouco do universo de Hitchcock para dar origem ao universo do filme.

Tobe Hooper no set de O Massacre da Serra Elétrica.

 

“Para curtir os gibis (de terror), você precisava aceitar que havia um Bicho-Papão lá fora… E por eu ter começado a ler esses gibis quando era muito novo e impressionável, sua atmosfera permaneceu comigo. Eu diria que eles foram a influência mais importante de O Massacre da Serra Elétrica. Muito do clima das revistas foi parar no filme, junto com alguns métodos de Hitchcock para manipular audiências”, afirmou em entrevista para Glenn Lovell e Bill Kelley, Cinefantastique out. 1986.

O roteiro foi escrito junto com Kim Henkel que, segundo ele, afirma que a história, além da influência de Ed Gein, também teve inspiração em outros crimes da época envolvendo Elmer Wayne Henley. Elmer atraía vítimas para um covil em que ele, um sujeito mais velho chamado Dean Corll e um terceiro, as abusavam e assassinavam. Um dia, o terceiro cúmplice foi a vítima. Elmer ficou assustado e assassinou Dean com medo de ser o próximo e aí a história veio a público. Kim conta que lhe chamou a atenção quando viu na TV um momento em que Elmer leva a polícia onde estava o corpo de uma das vítimas. Segundo ele, ficou impressionada que o jovem seguia um certo “código de valores” em que dizia que “cumpriria sua pena feito homem”, mas tinha vivido momentos felizes ao lado de assassinos pervertidos. Ele e Hooper batizaram isso de “esquizofrenia moral” e brincaram com isso no filme.

Kim Henkel, um dos roteiristas de O Massacre da Serra Elétrica.

“O exemplo mais notável é quando o cozinheiro traz Marilyn Burns de volta à casa e para ao ver a porta serrada,  isso o enfurece porque demonstrava falta de orgulho pelo próprio lar. Esse tipo de sensibilidade, esse tipo de percepção de ‘valores’ coexistia com a carnificina dos assassinatos que estavam acontecendo”, disse Kim Henkel em entrevista para o livro O Massacre da Serra Elétrica – Arquivos Sangrentos, de Stefan Jaworzyn.

O ator que interpretou o vilão Leatherface no original, Gunnar Hansen, conta que descobriu a origem do seu personagem quando conversava no set com os criadores do filme. Segundo Gunnar, foi nesse dia que ele descobriu que o personagem de Psicose também era inspirado em Ed Gein e que em O Massacre da Serra Elétrica, Tobe Hooper e Kim Henkel tinham resolvido criar uma “família de Ed Geins” e todos compartilhavam as mesmas características do assassino de verdade. “Acredito que eles jamais tiveram a intenção de fazer um filme sobre Ed Gein, mas ele foi a semente da ideia. A vovó, os móveis, os abajures de pele humana, tudo isso era Ed Gein. Eu não acho que essa era uma coisa muito importante, que Kim e Tobe pensassem em contar para todo mundo”, conta Gunnar Hansen no livro O Massacre da Serra Elétrica – Arquivos Sangrentos, de Stefan Jaworzyn.

O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA (1974), DE TOBE HOOPER

Cena do jantar canibal em O Massacre da Serra Elétrica.

Dois irmãos, Sally Hardesty (Marilyn Burns) e Franklin (Paul A. Partain), depois de descobrirem que túmulos estão sendo violados no Texas, resolvem viajar até onde está enterrado seu avô e ver como está sua sepultura. Na viagem de van, ainda estão o namorado de Sally, Jerry (Allen Danziger) e o casal Pam (Teri McMinn) e Kirk (William Vail). Depois de ver que está tudo certo com o lugar, eles resolvem ir à uma antiga casa da família, mas descobrem da pior forma que têm vizinhos excêntrico e não muito amigáveis.

À primeira vista o filme é só mais um típico terror adolescente, mas a sua genialidade está em ser o primeiro a tentar essa fórmula que seria tão usada e abusada nos anos seguintes. Além disso, o aspecto visual faz com que quase sentimos a poeira da árida paisagem do Texas. As cenas acompanham o cenário sendo cruas e rápidas. Quando Leatherface captura suas vítimas, ele dá golpes certeiros e rápidos. O “desespero” está exatamente na velocidade em que esses ataques ocorrem. Como que de repente aparece um sujeito gigante, vestido de açougueiro desferindo golpes contra jovens indefesos.

A cadência do filme também nos faz ficar presos. Os eventos estranhos começam de forma simples com animais mortos na estrada, passando por um caroneiro cortando a própria pele até terminar numa perseguição de um louco com motosserra no pôr do sol. A cena do “jantar canibal” em que a final girl participa junto com os assassinos também entraria como uma das cenas mais aterrorizantes do gênero e seria um item sempre presente nos demais capítulos da franquia.

Mesmo tendo orçamentos melhores que o original e com a possibilidade do uso de melhores recursos visuais, nenhum dos demais capítulos da franquia conseguiram ser tão interessante quanto o primeiro.

“Rex Reed (crítico de cinema norte-americano) achou o filme extraordinário, acho que ele faz parte do acervo do Museu de Arte Moderna (MoMA)… Não sei ao certo, não sou um fanático por cinema, mas o filme mexeu comigo de um modo especial. E se você olhar bem e for comparar com filmes que vieram depois, há muito menos sangue e tripas nele do que em A Hora do Pesadelo ou Sexta-feira 13. Mas ele funcionou graças à naturalidade de ‘A história que você vai assistir agora…’ e à maneira como foi interpretado. Aqueles atores não eram estrelas do cinema, eram pessoas com quem você conseguia se identificar – um cara numa cadeira de rodas que era um pentelho -, pessoas comuns.” Allen Danziger, ator que interpreta Jerry no filme, em entrevista para o livro O Massacre da Serra Elétrica – Arquivos Sangrentos, de Stefan Jaworzyn.

O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA 2 (1986), DE TOBE HOOPER

Dennis Hopper como Boude “Lefty” Enright em O Massacre da Serra Elétrica 2.

Treze anos após o massacre da serra elétrica, dois jovens ligam para um programa de rádio enquanto dirigem fazendo graça com a apresentadora, a DJ Vania Brock (Caroline Williams). Durante a ligação, eles são atacados por Leatherface (Bill Johnson) que aparece em uma pick up. Como tudo está sendo gravado e transmitido ao vivo, o tenente Boude “Lefty” Enright (Dennis Hopper), começa então uma investigação para tentar encontrar quem são os responsáveis pelo ataque aos jovens.

Na continuação, Tobe Hooper tentou agradar os fãs do gore e mostrar tudo o que não havia mostrado no anterior. Ele foi lançado sem classificação indicativa o que restringiu a quantidade de salas que ele poderia ser lançado nos Estados Unidos o que fez o faturamento total do filme diminuir drasticamente.

O Massacre 2 também foi acusado de abusar tanto no terror, como já dito, quanto na comédia. A produção não soube equilibrar as duas partes. Ainda foi utilizada uma trilha sonora duvidosa. Essa mistura de elementos fez o filme ser considerado um fracasso.

“Eu gosto do filme enquanto uma comédia maluca, bizarra, exageradamente sombria, mas falhei em fazer o que o público esperava do filme, que era assustar muito e dar um pouco mais do que haviam experimentado no primeiro filme.” Trecho de uma entrevista de Tobe Hooper no livro O Massacre da Serra Elétrica – Arquivos Sangrentos, de Stefan Jaworzyn.

 LEATHERFACE— O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA 3 (1990), DE JEFF BURR

Família disfuncional em Leatherface — O Massacre da Serra Elétrica 3.

Um casal viaja pelos estados unidos e acaba se perdendo da rodovia principal e saindo numa rodovia deserta do Texas. Com o erro, eles acabam caindo numa armadilha preparada pela família de Leatherface.

Viggo Mortensen em Leatherface — O Massacre da Serra Elétrica 3.

Depois de ter lucrado com quatro filmes de A Hora do Pesadelo, a New Line Cinema, comprou os direitos de O Massacre da Serra Elétrica para tentar fazer dinheiro com essa outra franquia de cinema. Tobe Hooper esteve envolvido inicialmente, mas precisou sair quando as filmagens de Conspiração Atômica (1990), dirigido por ele, começaram. Kim Henkel também foi chamado como consultor, mas não teve muita sorte ao tentar opinar. “Teoricamente, era para eu ser um consultor. Eu cheguei à única reunião que tive com eles e estava claro que eles já haviam decidido exatamente o que iriam fazer e como iriam fazer, e eu estava perdendo meu tempo.” conta Kim em entrevista no livro O Massacre da Serra Elétrica – Arquivos Sangrentos, de Stefan Jaworzyn.

Entre os escolhidos para o filme estava o ator Viggo Mortensen que iniciava a carreira como um galã no cinema independentes. Mortensen ficaria realmente famoso anos depois principalmente pelo seu papel como Aragorn na trilogia O Senhor dos Anéis. Ken Foree estava conhecido no universo do terror por ter estrelado Despertar dos Mortos (1974), de George Romero.

“Ele (Viggo Mortensen) estava completamente comprometido e não se achava superior ao material. A lembrança dele deste filme pode ser diferente, mas gosto de perpetuar a mentirinha de que a New Line era um celeiro de grandes futuras estrelas. Qual foi o próximo filme que eu fiz lá? Criaturas 3 (1991). Nada de importante, exceto que foi o primeiro longa creditado de Leo DiCaprio.” Entrevista com o roteirista de Leatherface — O Massacre da Serra Elétrica 3, David J. Schow para o livro O Massacre da Serra Elétrica – Arquivos Sangrentos, de Stefan Jaworzyn.

O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA: O RETORNO (1995), DE KIM HENKEL

Na noite de sua formatura, Jenny (Renée Zellweger) e seus amigos saem de carro pelas estradas do Texas para comemorar. No caminho, eles sofrem um acidente que os obriga a sair em busca de ajuda. Por azar, eles acabam encontrando com uma família disfuncional e maluca, dentre eles o psicopata Vilmer (Matthew McConaughey) e seu irmão Leatherface (Robert Jacks).

O filme foi escrito, coproduzido e dirigido por Kim Henkel, que não estava nada entusiasmado com o projeto. Kim junto com o produtor Robert Kuhn adquiriram novamente os direitos para produzi-lo de forma independente e depois usar um grande estúdio para distribuição. Porém, os atores do projeto, os então desconhecidos Renée Zellweger e Matthew McConaughey ganharam certa ascensão na carreira antes do lançamento de Massacre com os filmes Namorado Gelado, Coração Quente! (1993) em que os dois atuaram e também em Jovens, Loucos e Rebeldes (1993). Zellweger apareceu também no policial Um Amor e Uma 45 (1994). As gravações de Massacre ocorreram em 1993.

Renée Zellweger e Matthew McConaughey em O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno.

“O que é fenomenal neste filme é o elenco – Matthew McConaughey e Renée Zellweger, escalados justamente antes de se tornarem astros. E ambos estão muito bem no filme, talvez mais ela do que Matthew. Ele me disse: ‘Sabe, num papel como esse não tem como você exagerar!’ Ele simplesmente se deixou levar…” Trecho da entrevista de Levie Isaacks, fotógrafo de O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno para o livro O Massacre da Serra Elétrica – Arquivos Sangrentos, de Stefan Jaworzyn.

A produção conseguiu uma distribuidora, mas a mesma ficou segurando o lançamento do filme dando diferentes desculpas. Um rumor apontava que a Crative Artists Acency (CAA), que gerenciava a carreira de McConaughey na época, tinha pedido para segurar o lançamento. O ator afirmou em entrevista que não tinha feito o pedido e que adorou fazer o papel. A atuação era uma das que mais gostava em sua carreira. Renée Zellweger também tinha aparecido em Jerry Maguire – A Grande Virada (1996) e seria arriscado ter seu nome atrelado a uma produção do estilo Massacre da Serra Elétrica nesse ponto da carreira. O Massacre: O Retorno foi lançado somente em agosto de 1997 e em apenas 23 cinemas dos Estados Unidos. “É o Jeito de Hollywood, isso acontece o tempo todo, eles têm todas as vantagens e você não tem nenhuma.”, conta Isaacks, fotógrafo do filme para o livro O Massacre da Serra Elétrica – Arquivos Sangrentos, de Stefan Jaworzyn.

Esse é sem dúvida o pior da série. Ele é tido como um remake atualizado do original. A estrutura dos acontecimentos e como eles ocorrem são bem parecidos com o de 1974. A diferença mais gritante é o caso de Leatherface aqui ser uma espécie de travesti. A cada aparição, ele está maquiado e fantasiado de uma forma diferente. De uma dona de casa de idade e até uma “sedutora” mulher de roupas transparentes. No original haviam essas trocas de forma mais sutil. A cada ação do personagem, ele utiliza uma máscara diferente que acompanha a personalidade dele no momento.

O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA (2003), DE MARCUS NISPEL

Leathearface no remake de O Massacre da Serra Elétrica.

Um grupo de jovens está cruzando o Texas em direção a Dallas para um show da banda Lynyrd Skynyrd. No meio do caminho eles encontram com uma mulher que diz fugir de um “homem mal”. Ela acaba suicidando dentro do carro o que faz com que eles precisem parar para pedir ajuda. A partir daí, as coisas complicam um pouco mais quando encontram com o Sherife Hoyt (R. Lee Ermey).

Esse filme é um remake do original, mas com algumas mudanças tanto estruturais quanto de personagens. Tem entre seus produtores o explosivo Michael Bay, que também esteve por trás de outras refilmagens como Sexta-Feira 13 (2009), Horror em Amityville (2005) e A Hora do Pesadelo (2010). Michael foi chamado por ter o “toque de Midas” nos filmes de ação. Recentemente tinha lançado Armageddon (1998) e Pearl Harbor (2001). A direção ficou por conta de Marcus Nispel que tinha larga experiência na direção de videoclipes.

“Depois da lição de O Massacre III, era de se esperar que a New Line Cinema teria o bom senso de se manter afastada da franquia de Massacre. Nada disso. A indústria do cinema é motivada em grande parte por ganância, voltada a vender produtos. Então que jeito melhor de ‘vender’ cinema do que deixá-lo nas mãos de gente que fez fortuna filmando vídeos da MTV e filmes acéfalos de ação estilizada, cujos orçamentos dariam para pagar as dívidas nacionais da maioria dos países de Terceiro mundo?” Trecho do livro O Massacre da Serra Elétrica – Arquivos Sangrentos, de Stefan Jaworzyn.

O remake de Massacre foi lançado em 3.018 cinemas e ficou em primeiro lugar nas bilheterias na primeira semana de seu lançamento. O faturamento mundial ficou em mais US$ 107 milhões com o orçamento US $ 9,5 milhões tornando-se o filme com maior bilheteria da franquia.

O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA: O INÍCIO (2006), DE JONATHAN LIEBESMAN

Thomas Lewitt (Andrew Bryniarski) nasceu no chão de um abatedouro no Texas. Depois de ser abandonado no lixo, ele passa a ser criado por Luda Mae Hewitt (Marietta Marich) e pelo xerife Hoyt (R. Lee Ermey), Montgomery (Terrence Evans) e Henrietta. Acompanhamos então a transformação de Thomas, com uma infância estranha até se tornar o Leatherface.

O Massacre da Serra Elétrica: O Início mostra os acontecimentos que irão resultar no remake de 2003. E Michael Bay também está entre os produtores. Vemos como surgem os personagens que são diferentes do original de 1974 e as razões de, por exemplo, um deles estar numa cadeira de rodas.

“Fiquei desapontado com o filme. Talvez teria gostado se eu não continuasse a compará-lo com o original. Acredito que o principal problema que tenho com esse filme é devido ao fato de explicarem o Leatherface e ainda desmascará-lo. Agora não há mais mistério.” Gunnar Hansen, intérprete original do Leatherface em entrevista para o site IGN.com em 2006.

O diretor escolhido por Michael Bay para o filme, Jonathan Liebesman, cineasta sul-africano ainda com pouca experiência. Tinha dirigido apenas um longa e alguns curtas. Bay ficou interessado no trabalho de Jonathan após assistir a um curta contido nos extras no DVD de O Chamado (2002) e filmado como um prequel para O Chamado 2 – O Círculo se Fecha (2005). O Início estreou em segundo lugar nas bilheterias dos Estados Unidos, perdendo apenas para Os Infiltrados (2006).

O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA 3D — A LENDA CONTINUA (2013), DE JOHN LUESSENHOP

No ano de 1974 ocorreu um terrível massacre no Texas em que somente uma jovem saiu viva de lá. Após as autoridades serem chamadas, moradores locais também aparecem tentando fazer justiça com as próprias mãos. O embate termina com a morte dos assassinos. Desse evento um bebê é resgatado e é criado por uma família e cresce sem saber da sua real origem. Anos mais tarde já adulta, Heather Mills (Alexandra Daddario) recebe uma carta de que é dona de uma herança deixada por sua avó, que nem sabia que existia, uma mansão no Texas. As únicas regras são: não vender a propriedade e nem deixar de seguir instruções feitas à risca pela avó.

Esse capítulo ignora os dois remakes e é uma continuação direta do original. Para além do universo do Massacre, ele ainda faz referência a um tema bastante atual, inclusive aqui no Brasil, com relação ao armamento da população e os perigos de querer fazer justiça com as próprias mãos. Único filme da franquia, até então, que foi lançado em 3D. Um grande avanço tecnológico e de orçamento se comparado ao primeiro. Estreou em primeiro lugar nas bilheterias dos Estados Unidos ultrapassando Django Livre (2012) e O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (2012) na primeira semana do ano. Django e O Hobbit haviam estreado no final do ano anterior.

“(John Luessenhop, diretor do filme) estudou a razão do filme original funcionar, quebrar as convenções, e não fazer como se fosse a versão de Hollywood… Além disso, o 3D é realmente muito bom. Estou virando um fã do 3D. É tão diferente do tipo de 3D dos anos 1950. Esse tem mais profundidade… Leatherface tem alguma coisa de especial. Ele tem problemas familiares. Aquela é uma família disfuncional.” Tobe Hooper em entrevista para Examiner.com em 2013.

MASSACRE NO TEXAS (2017), DE ALEXANDRE BUSTILLO, JULIEN MAURY

Um grupo de adolescentes foge de um hospital psiquiátrico e levam uma enfermeira como refém. Na fuga, eles são perseguidos por um policial que teve o passado marcado pelas ações de um deles e agora está perturbado e utiliza métodos violentos para capturá-los. Nesse capítulo, vemos os acontecimentos anteriores ao original de 1974. Ele traz a constatação de que a franquia deixou de trabalhar numa atmosfera para apostar no gore. A tensão do filme está concentrada em muito sangue e cenas de dão asco. Por exemplo, num determinado momento os fugitivos encontram um trailer abandonado com um cadáver dentro. Eles resolvem passar a noite por lá para escapar da polícia. No meio da noite o casal que faz parte do grupo, resolve transar utilizando o corpo como elemento da relação. Nojento.

A FRANQUIA VALE A PENA?

Bom, sendo sincero não. Depois do primeiro filme as coisas passaram a desandar. A essência que existia no primeiro foi se perdendo, e talvez apenas o segundo conseguiu manter um pouco dela. Talvez por ter sido feita pelo próprio Tobe Hooper que criou a história original. Os demais parecem ser filmes que buscam atingir o público utilizando o título da franquia e indo mais em direção ao gore, ao asco, do que propriamente à “esquizofrenia moral” que inicialmente era a ideia de Hooper e Kim Henkel. Ela até existe em alguns momentos, mas acabam se perdendo com tanto asco envolvido nas cenas. O original continua sendo o ápice da franquia e que, mesmo depois de tantos anos, ainda continua assustador.

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