Já é uma tradição. Todos os anos, desde 2013, escolhemos as obras que mais nos marcaram e finalizamos com uma lista dos dez melhores filmes, segundo a equipe do Cinemascope.
O sistema de pontuação adotado é o de sempre, mas vale relembrar: os filmes deveriam ter estreado no Brasil em circuito comercial durante o ano de 2017. Fizemos um sistema de pontuação (de 1 a 10 pontos) e atribuímos as listas de cada um, ranqueando cada filme de acordo com a ordem de preferência assinalada por cada votante.
Dessa vez, dos 25 membros da nossa equipe, 16 votaram, e ao todo 67 filmes foram mencionados. Pode parecer desnecessário, mas é preciso dizer: muitos filmes que estreiam no eixo Rio-São Paulo, infelizmente não chegam tão rápido (ou nem chegam) a muitas cidades de outros estados, o que acaba afetando o acesso e consequentemente as escolhas dos votos. Temos redatores espalhados pelo Brasil.
Ao contrário do ano passado, infelizmente não tivemos nenhum filme brasileiro na lista final, embora 14 títulos tenham sido votados. Esse ano nenhuma animação foi contemplada nos resultados finais e duas produções originais Netflix foram mencionadas (Okja e First They Killed My Father).
Essa lista tem vencedor de Oscar, Cannes, documentário, filme de super-herói, ação e dramas psicológicos. Uma lista bastante diversa, assim como é a equipe que faz o Cinemascope acontecer. ENJOY!
10º – Fragmentado
Após alguns fracassos monumentais em sua carreira, em produções como Depois da Terra e O Último Mestre do Ar, Fragmentado foi o grande retorno do diretor indiano M. Night Shyamalan ao cinema de qualidade. Com aprovação da crítica e mais de 270 milhões de dólares arrecadados pelo mundo, o thriller surpreendeu com a trama do homem (James McAvoy, espetacular) com múltiplas personalidades que sequestra três jovens meninas para fins perturbadores. Shyamalan confirmou que a a história de Fragmentado faz parte do mesmo universo de um de seus outros filmes, Corpo Fechado (1992), e uma sequência para ambas as produções está prevista para janeiro de 2019.
9º – Eu Não Sou Seu Negro
“A maioria dos brancos não tem nada contra negros. A verdadeira questão é a apatia e ignorância. Você não quer saber sobre o outro lado do mundo.” Indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2017, o brilhante Eu Não Sou Seu Negro é baseado em um livro (Remember This House) nunca finalizado pelo crítico social negro americano James Baldwin, autor da frase acima. Mesclando imagens de arquivo de mártires da luta pelos direitos civis como Martin Luther King, Malcom X e Medgar Evers, amigos próximos de Baldwin, com cenas de repressão a movimentos raciais atuais, com narração de Samuel L. Jackson, o diretor Raoul Peck escancara a estagnação do pensamento racista por uma supremacia branca até os dias de hoje.
8º – Eu, Daniel Blake
O vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2016 chegou aos cinemas brasileiros apenas em janeiro de 2017 e entrou no nosso Top 10. Eu, Daniel Blake acompanha a difícil jornada de seu personagem-título (interpretado por Dave Johns), que, após sofrer um ataque cardíaco, precisa desesperadamente conseguir um auxílio financeiro do governo inglês para continuar se sustentando já que não pode voltar a trabalhar. O agridoce enredo funciona como um emocionante estudo de personagem e uma contundente crítica ao sistema, ainda mais quando percebemos que o principal antagonista da produção também faz parte da vida de milhões de cidadãos: a máquina da burocracia.
7º – Em Ritmo de Fuga
Não há dúvidas de que o divertidíssimo e incrivelmente coreografado Em Ritmo de Fuga (Baby Driver) foi uma das grandes surpresas de 2017. Além de ser o primeiro grande sucesso comercial do diretor e roteirista Edgar Wright (Todo Mundo Quase Morto, Scott Pilgrim Contra o Mundo), o longa-metragem foi ainda uma bela de uma resposta de Wright à Disney/Marvel, que o excluiu da direção de Homem-Formiga por “diferenças criativas” em 2014. Repleto de cenas de ação inventivas, trilha sonora encantadora e personagens super descolados (num elenco com Kevin Spacey, Jon Hamm, Jammie Foxx, Lily James e Ansel Elgort), Em Ritmo de Fuga não poderia ficar de fora da lista de melhores do ano.
6º – Dunkirk
Figurinha certa no Oscar 2018, o drama épico Dunkirk também é considerado por muita gente como o melhor filme da carreira do badalado diretor Christopher Nolan, que tem no currículo ótimas produções como O Grande Truque, A Origem e a trilogia Batman Begins, O Cavaleiro das Trevas e O Cavaleiro das Trevas Ressurge. O filme retrata como cerca de 400 mil soldados ingleses foram resgatados das praias de Dunkirk após serem cercados pelas forças alemãs durante a Segunda Guerra Mundial. Explorando a heroica evacuação em céu, mar e terra firme, o longa-metragem é um espetáculo cinematográfico impulsionado por sua montagem fascinante, um roteiro não-linear e a angustiante trilha sonora de Hans Zimmer que prendem a atenção do espectador ao longo de toda a projeção.
5º – Blade Runner 2049
Foram 35 anos de intervalo entre o cultuado Blade Runner – O Caçador de Androides (1982) e a sua sequência lançada em 2017. Talvez pelo longo tempo de espera, somado a um enredo complexo e um ritmo pouco convencional para os padrões hollywoodianos, infelizmente Blade Runner 2049 foi considerado um fracasso de bilheteria, arrecadando menos de 100 milhões de dólares nos Estados Unidos. Mas se os números em dinheiro ficaram abaixo das expectativas, o mesmo não pode ser dito sobre sua qualidade artística: a magnífica, exuberante, incrível fotografia de Roger Deakins, aliada à direção de um dos maiores diretores do século XXI, Dennis Villeneuve, fizeram de Blade Runner 2049 um dos melhores filmes de 2017. Vamos aguardar para que esta segunda bela parte da história dos replicantes aos poucos caia nas graças do público com o passar do tempo assim como seu antecessor.
4º – Logan
O (provável) adeus de um dos mais marcantes super-heróis (ou pelo menos de seu intérprete, Hugh Jackman) das últimas décadas gerou quase 400 milhões de dólares mundialmente, uma afetuosa recepção da crítica e muitas lágrimas dos espectadores. Afastando-se brutalmente da fórmula de filme de super-herói com a qual nos acostumamos vendo as produções da Marvel Studios e da Warner/DC recentemente, Logan apresenta o famoso Wolverine vivendo recluso e cansado em distópico futuro. Encerrando de forma violenta, melancólica e belíssima a trajetória do mutante que conhecemos lá em 2001, no primeiro X-Men, Logan mostrou em 2017 que ainda é possível uma produção hollywoodiana sobre super-heróis ser original.
3º – Corra!
O surpreendente sucesso de “Corra!” foi tão grande que, mais de dez meses após sua estreia nos EUA, o longa-metragem de Jordan Peele ainda é considerado um dos fortes concorrentes ao Oscar 2018, algo raro de acontecer com produções lançadas no início do ano anterior. Com orçamento modesto (4,5 milhões de dólares), um elenco sem grandes estrelas e pouca expectativa antes de sua estreia, o thriller de suspense chocou público e crítica com sua bizarra trama envolvendo hipnose e racismo por meio de um fantástico roteiro original que aproveita o enredo para fazer algumas duras críticas sociais pelas entrelinhas.
2º – mãe!
A polarização em torno do último filme do ambicioso diretor Darren Aronofsky é indiscutível. Até mesmo algumas artes de divulgação do longa-metragem exibiram propositalmente as contraditórias recepções da crítica, que teve veículos como o Los Angeles Times classificando-o como “sombriamente divertido” e outros como o The Observer de “um circo de deboche grotesco”. Mas nada que já não fosse esperado para um diretor que tem no currículo angustiantes produções como A Fonte da Vida, Réquiem Para um Sonho e Cisne Negro. Aqui no Cinemascope, “Mãe!” levou a medalha de prata por sua trama densa e provocante liderada pelas ótimas performances de Javier Bardem e Jennifer Lawrence.
1º – Moonlight – Sob a Luz do Luar
“Na luz da lua, garotos negros parecem azuis.” O primeiro filme com temática LGBT da história a conquistar a estatueta de Melhor Filme no Oscar ocupa também o topo do ranking no Cinemascope em 2017. Dividido em três atos, Moonlight – Sob a Luz do Luar apresenta a vida na infância, adolescência e fase adulta do pobre, negro e homossexual Chiron pela periferia de Miami. O roteiro e direção de Barry Jenkins, a linda e cuidadosa fotografia de Jamex Laxton e a marcante performance de Mahershala Ali e talentoso elenco fazem de Moonlight uma delicada obra-prima sobre escolhas, amadurecimento e palavras não ditas. Em tempos de ascendentes índices de homofobia e manifestações a favor da supremacia branca em diversas partes do planeta, Moonlight acima de tudo foi e ainda é um filme necessário.