Por Domitila Gonzalez
De vez em quando, a vida – ou o acaso – nos presenteia com pequenos acontecimentos inusitados.
Há um tempo, ando pensando com frequência sobre uma frase que ouvi numa dessas rodas de conversa entre amigos, em que vida e trabalho se misturam numa coisa só. (Céus, estou ficando velha). O tema era “dramaturgia” e falávamos sobre as dificuldades de escolher um texto, os perrengues de colocar na boca as palavras de outro para serem propagadas aos quatro ventos e sobre como o mercado está saturado de produções apocalípticas.
Eis que surge a pérola: “Mas eu aprendi que, se já existe um texto que fala o que você quer dizer, então você não pode escrever um seu; tem que usar o que já existe”.
…
Só esse trecho já renderia pauta pra outra roda de conversa, talvez uma semana, um ano, uma vida de posts especiais linkando pessoas e textos, versões e temas, discursos, poesias e palavras.
Durante mais de um mês, essa frase caminhou em minha companhia, me assombrando as ideias e me tirando do sério. E, no auge do meu assombramento, a vida – ou o acaso – me enviou o curta-metragem Amarello Amor.
Durante mais de um mês, eu fiquei buscando palavras e me remoendo, pensando em maneiras de escrever um texto enorme defendendo a ideia de se colocarem as ideias no papel… Quando Carolina Ferraz surge, lindamente abraçada pela fotografia sensível de Rafael Levy, falando sobre – olha, só! – o amor.
Amarello Amor carrega em si todos os clichês: o tema bonito, a moça bonita, as imagens pessoais, a trilha sonora bonita, o texto bonito… E ainda assim, todos os clichês viram obra de arte no roteiro de João Simi e Tomas Biagi Carvalho, saem do campo do óbvio e trazem à tona toda originalidade contida na sinceridade.
Quando tem sinceridade, tem identificação. É assim que funciona. Não tem fórmula mágica. “O amor é”. E ponto. E aí, não importa que o meu amor não seja tão bem escrito quanto o do Bardo. Porque olha só: o Bardo também não escreveu como eu, cinco séculos atrás, e há que se reconhecer a beleza disso tudo!
Carolina Ferraz não disse o amor pelas palavras de outra pessoa, desta vez. E, embora o curta-metragem tenha sido publicado em 2012 e eu tenha trombado com ele por acaso, três anos depois, não por acaso ele continuará fazendo parte da minha coleção de preciosidades. Afinal, “Não importam os anos. Certas coisas simplesmente permanecem”.
Veja o curta: