Bao é um pãozinho de origem chinesa, de fermentação lenta, gosto adocicado, cozido em vapor e extremamente delicado, mas também é o nome escolhido para o novo curta da Pixar. Desta vez, o estúdio entra na corrida pelo Oscar contando a jornada e conflitos de uma mãe com o seu “Bao”.
Recheado de metáforas – e isso não foi um trocadilho intencional – o curta desenha com delicadeza a relação familiar entre esses personagens, começando pelo momento em que a mãe modela e cozinha os pãezinhos, e aí tudo o que remete ao termo do pãozinho no forno para designar gravidez, até a saída do filho de casa. Tudo passa por símbolos sutis.
O curta começa com a fabricação e modelagem delicadas e quase artísticas da massa do pão, passando pelo jantar em família formada, até onde nós sabemos, por um homem e uma mulher. Esse ritual de cozinhar e comer em família, tão caro à cultura oriental, é o que leva a mãe à projetar no Bao que fez com tanto amor, a figura de seu filho que, já adulto, saiu de suas asas para viver com a parceira.
Vemos com surpresa o Bao ganhando vida e acompanhamos o seu crescimento ante os olhos atentos e superprotetores de sua mãe. Ele torna-se uma projeção da tristeza de uma mãe que não consegue aceitar a partida de seu filho, e apesar de saber que em algum momento ele também vai crescer e o ciclo vai se repetir, ela segue com a negação, repetindo a rotina.
Quando o momento chega e os dois entram em conflito, ela decide em um impulso, engolir metaforicamente a tristeza e digerir esta emoção, para conseguir aceitar a passagem do tempo e o amadurecimento do filho. Esta cena do ato de engolir o próprio filho, para que ele volte a viver protegido dentro dela e não saia de casa, surpreende pela carga emocional que gera pois de certa forma, é uma vontade secreta de (quase) todas as mães.
Ao apresentar essa síndrome do ninho vazio, Domee Shi, diretora do curta, opta pelos detalhes, o que está em jogo é muito mais do que se vê em tela, é sobre o conflito interno materno, de que é preciso aceitar o fato de que filhos são criados para o mundo. Novamente, a Pixar aposta no cotidiano para explorar as emoções humanas e de tão cotidiano e universal, é capaz de emocionar espectadores de qualquer lugar e qualquer idade.