Por Joyce Pais
Leon Hirszman escreveu e dirigiu o curta-metragem Maioria Absoluta em 1964 (proibido pela censura do regime militar até 1980), e o que mais impressiona é ver como os temas tratados por ele – analfabetismo e questão agrária – ainda são latentes em nosso país. Cineasta pertencente ao Cinema Novo, seus filmes são dotados de teor altamente politizado e se relacionam com problemas sociais que deflagam as raízes mais profundas da desigualdade no Brasil.
Se no cenário político de hoje está tão evidente a polarização esquerda/direita, digamos, curioso observar que quando realizado, no emblemático ano do golpe militar, o curta tenha conseguido capturar falas e vozes, também, tão antagônicas, como a do homem de classe média afirmando que o problema do Brasil era “moral” e “falta de vergonha na cara” enquanto alisa uma mulher de biquíni na praia ou da senhora que aponta o dedo para um “povo muito indolente, que não sabe receber quando a pessoa quer dar meios melhores”, no conforto do seu apartamento de classe média alta.
Rodado em Pernambuco, o curta levanta temas como partição social, a distribuição de terras e de renda, as reformas de base, a participação política democrática através do voto, a identidade nacional e a discrepância do Brasil frente ao estágio de desenvolvimento de outras nações, a despeito do discurso sobre a modernidade latinoamericana em curso no período.
Veja a primeira parte do curta: