Por Kiko Barbosa

Durante o processo da construção conceitual e visual de um filme a escolha dos equipamentos é crucial. Eles é que trarão a impressão desejada pelo diretor de fotografia. Um dos parâmetros analisados nessa fase é o contraste no plano focal da imagem.

O foco é um efeito ótico relacionado à física que funciona como um excelente gatilho psicológico para determinar a profundidade de uma cena. A técnica torna perceptível o espaço tridimensional de uma sequência bidimensional, enganando o cérebro. Por meio de conceitos psicológicos relacionados à cognição humana, é possível construir uma profundidade virtual que potencializa a dinâmica visual.

Bradford Young e a fotografia de A Chegada

Todas as vezes que penso em recursos narrativos de flashback e flashforward que permeiam os filmes, me recordo do efeito que o fotógrafo Bradford Young imprimiu em A Chegada (2016). O filme de Dennis Villenueve é repleto de saltos temporais. O espectador é inserido nessas situações de forma abrupta, porém demarcada, possibilitando uma confusão benéfica para a narrativa.

Em entrevista concedida ao NoFilmSchool, Young explicou suas escolhas. O fotógrafo optou por trabalhar esses momentos temporais através da perspectiva de uma 35mm. Essa lente objetiva possui um campo visual que se assemelha à visão humana. Além disso, acompanhamos as ações com um diafragma equivalente à abertura F/1.4 e a dinâmica da câmera na mão, o que traz uma crueza real aos eventos narrados. A escolha de Bradford dos momentos de alternância temporal reforça um contraste que salta aos olhos e emana uma essência de sonho para quem assiste.

 

Bradford Young A Chegada

Diferença focal em cena do filme A Chegada.

 

Bradford Young A Chegada

Diferença focal em cena do filme A Chegada.

Consistência Visual

Se você escolhe rodar um projeto com o diafragma fixo na abertura F/5.6 em todas as sequências, teremos uma estética visual padronizada. A abertura de passagem de luz na objetiva será a mesma em todas as cenas. A isso, damos o nome de consistência visual.

No caso de A Chegada,  Bradford Young mantém as cenas ambientadas no presente em diafragmas fechados (algo em torno de 5.6). Nas cenas de flashback e flashforward ele alterna a abertura para 1.4. Isso cria um contraste visual para o espectador, que inconscientemente ativa um gatilho psicológico.

Quando o foco seletivo é utilizado dessa forma, guiamos a visão do espectador diretamente para a área de nitidez. Se o objetivo é mostrar uma ampla paisagem, geralmente coloca-se toda a perspectiva em foco, deixando o olhar público vagar.

Ainda que existam outros elementos visuais que guiem a atenção como linhas, formas, contrastes de luz e sombra, o foco é o mais incisivo. Ao encararmos essa ferramenta como meio de seleção para a narrativa visual, fica clara a forma mais interessante de utilizá-la em cada cena.

O trabalho de Bradford Young e os efeitos de profundidade focal são abordados  no curso de Direção de Fotografia, ministrado pelo professor Kiko Barbosa. Mais informações no link abaixo.

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