Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança

1977 mudou para sempre a história da cultura pop e, mais especificamente, do universo nerd. Nesse ano foi lançado Star Wars: Uma Nova Esperança. O projeto foi concebido por George Lucas que queria um filme com naves espaciais e movimentos de câmera rápidos e que até aquele momento ainda não existia na indústria cinematográfica.

O projeto começou a andar, de fato, em 1975 com a fundação da Industrial Light and Magic (ILM)  e com a reunião de uma equipe para o desenvolvimento de efeitos especiais, trabalho que estava meio em baixa na época. Devido a isso, Lucas conseguiu comprar a um preço bem abaixo do mercado os equipamentos da 20th Century Fox, que havia acabado de fechar seu departamento de efeitos visuais. Em seguida, convidou o especialista em efeitos John Dykstra, que trouxe com ele uma equipe de estudantes, engenheiros, mecânicos e artistas para desenvolver novas formas de criar efeitos visuais. Iniciava-se assim um dos projetos mais ambiciosos da história do cinema.

Para colocar em prática tudo o que Lucas imaginava, foram usadas técnicas de animação, maquiagem, e modelagem. Cenas que duravam poucos segundos demoravam até doze horas de filmagem para ficarem prontas. O resultado foi percebido nas telas. Houveram filas de até seis horas para assistir ao filme. Depois desse primeiro episódio, foi percebido que era possível contar histórias de forma espetacular utilizando efeitos especiais. Se não fosse Star Wars: Uma Nova Esperança, talvez hoje Vingadores não seria essa mina de ouro.

A principal referência de Lucas para criar o universo de Star Wars foram os filmes de samurai, principalmente os do diretor japonês Akira Kurosawa. Inclusive o capacete de Vader,  o primeiro personagem criado por George Lucas para a saga, é inspirado numa armadura samurai. Outra marca da saga é a luta de espadas, ou no caso, sabres de luz.

A Fortaleza Escondida (1958) é a maior referência para Star Wars: Uma Nova Esperança. Nesse filme, uma princesa e um guerreiro são perseguidos por um exército hostil. Outra referência ao universo do cinema é o visual do androide C-3PO, inspirado no robô do filme clássico Metrópolis (1927). Anthony Daniels, que interpretou o robô, é o único ator a participar de todos os episódios da saga.

Lucas escreveu o roteiro de seis filmes de uma vez e os ofereceu para o estúdio que recusou a oferta. Para a época era uma jogada muito arriscada. Lucas optou por filmar os três últimos por acreditar que o público se identificaria mais com eles.

 

Bom, a trama começa com o jovem morador de um remoto planeta, Luke Skywalker (Mark Hamill), descobrindo que um dos dróides recém-comprados por seu tio para ajudar na fazenda continha um pedido de ajuda da princesa rebelde, Leia Organa (Carrie Fisher), a um antigo guerreiro Jedi, Obi-Wan Kenobi (Alec Guinness). Esse é o pontapé para a aventura que além de Luke, Leia e Obi-Wan conta com Han Solo (Harrison Ford) e o Wookiee, Chewbacca (Peter Mayhew).

Uma curiosidade com relação a esse elenco é que inicialmente George Lucas contratou o ator Harrison Ford apenas para participar dos testes de elenco com a função de ler algumas falas com os atores candidatos. Ele foi tão bem nos testes que acabou sendo convidado para ganhar o papel de Han Solo. Outros atores como Kurt Russel, Robert De Niro, John Travolta, Jack Nicholson, Al Pacino, Steve Martin e Bill Murray fizeram testes para o papel.

A Jornada do Herói em Star Wars: Uma Nova Esperança

O escritor Joseph Campbell no livro O Herói de Mil Faces (1949) descreveu, no que chamou de a jornada do herói, etapas que seriam comuns a personagens como Jesus, Moisés e Buda. Essa jornada se encaixa perfeitamente no percurso de Luke Skywalker em Star Wars: Uma Nova Esperança. Vou citar o percurso utilizando partes do filme, se ainda não assistiu, têm spoilers à frente.

O Mundo Habitual (o herói em seu ambiente): Luke vive em Tatooine com seus tios e trabalha numa fazenda.

O Chamado para a Aventura (um problema perturba a vida do protagonista): Luke compra androides procurados pelo Império, descobre a mensagem em R2-D2 destinada a Obi-Wan. Este lhe revela que seu pai era um Jedi.

Herói Relutante (protagonista ainda fica receoso para embarcar na aventura): Obi-Wan chama Luke para uma aventura contra o Império, mas ele fica relutante. Só aceita quando seus tios são assassinados e não lhe resta muita escolha.

Mentor Sábio (protagonista encontra um sábio que o ajuda a desenvolver suas habilidades): Obi-Wan então se torna o mentor de Luke, lhe ensina sobre a Força e como manejar um sabre de luz.

A Aventura (o protagonista resolve encarar o desafio): Mestre e aprendiz, Obi-Wan e Luke começam a aventura.

Testes, aliados e inimigos (o herói faz amigos, enfrenta inimigos e a si mesmo): Os dois encontram novos aliados (mesmo que de maneira torta) em Han Solo e Chewbacca. A bordo da Millennium Falcon deixam Tatooine.

Caverna Secreta (o herói entra no mundo do antagonista): A recém formada equipe entra na estrela da Morte para salvar a princesa Leia.

Provação Suprema (herói se dá mal pela primeira vez): Luke passa por sérios problemas no compactador de lixo ao ser puxado para debaixo da água, além de ver Obi-Wan ser morto por Darth Vader.

Posse da Espada: Luke salva a princesa Leia e consegue roubar os projetos da Estrela da Morte.

Estrada de Volta (protagonista é perseguido pelo inimigo): Luke escapa da Estrela da Morte e começa a ser caçado por Darth Vader

Ressurreição — Luke lidera a esquadra que destrói a Estrela da Morte.

Regresso com o elixir (o herói retorna vitorioso após a batalha): a aliança rebelde destrói a estrela da morte e as coisas “voltam ao normal”.

Todo esse percurso é feito com muito mistério sobre os caminhos da Força e seus dois lados, humor por conta dos androides e do peludo Chewbacca, além de criaturas estranhas. O melhor, e acredito que seja o que faz o filme ser adorado, é o equilíbrio entre efeitos visuais e a busca por contar uma história boa. As novas tecnologias não sufocam as complexidades dos personagens e seus conflitos. Pelo contrário, elas servem como potencializadoras do que quer ser contado.

A Repercussão

Um dos momentos icônicos de Star Wars: Uma Nova Esperança é quando Vader duela com seu antigo mestre Obi-Wan. Porém, quando o filme foi lançado, ainda não era possível filmar o embate de forma tão espetacular como seria anos depois em Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith (2005). No longa, os dois se enfrentaram no momento em que Anakin abraça o lado negro da força. Mas, recentemente, fãs da saga reimaginaram como seria a cena da luta filmada nos dias atuais. Ficou mais ágil e mais dinâmico. Lembrou até um pouco a aparição de Vader no final do spin off Rogue One: Uma História Star Wars (2016).

Apesar de hoje ser uma história vitoriosa com fãs no mundo inteiro, na véspera da estréia de Star Wars: Uma Nova Esperança, George Lucas acreditava que o filme seria um fracasso. A única pessoa que apostou no projeto, segundo George contou em entrevista em 2015 durante o Festival de Tribeca, foi seu amigo Steven Spielberg.

 

 

“Ele disse: ‘Esse vai ser o maior filme de todos os tempos’ E aí nossos outros amigos olharam para ele e disseram ‘Coitado do Steven.'” George Lucas em entrevista a Stephen Colbert, apresentador do Late Show.

A desesperança era tanta que na época do lançamento Lucas viajou para o Havaí para evitar as críticas. Numa época pré-internet, isso era possível. Durante a viagem, ele recebeu uma ligação do então presidente da Fox, Alan Ladd Jr., que o informou do sucesso do filme e das filas que davam voltas em quarteirões.

Ainda mantendo seu pessimismo, Lucas respondeu: “Ficção científica sempre tem fãs. Aguarde umas duas semanas para ver como o filme estará”. O pessimismo se tornou equívoco e Star Wars: Uma Nova Eperança arrecadou US$ 775 milhões no mundo todo, um número alto para a época. Foi também a primeira ficção-científica a ser indicada ao Oscar de Melhor Filme. Faturou os prêmios de Melhor Som, Direção de Arte, Figurino, Edição e Efeitos Visuais. O título também ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora para o compositor John Williams.

Mais de 40 anos após o lançamento estamos aqui ainda falando desse filme. O universo nerd, mesmo depois de algum tempo, começou a ser levado a sério e se mostrou uma indústria promissora. Além dos filmes e séries, miniaturas, réplicas e roupas fazem parte do império lucrativo de filmes do estilo Star Wars. E, para fechar todo esse império, o dia 25 de maio é considerado O Dia do Orgulho Nerd, por ser o Dia da Toalha, para os fãs de Guia do Mochileiro das Galáxias, mas também devido ao lançamento de Star Wars: Uma Nova Esperança nos cinemas. Além dessa data, ainda existe o Dia de Star Wars,  comemorado no dia 4 de maio que pronunciado em inglês, se aproxima da fala clássica da saga “Que a força esteja com você”.

 

 

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