Por Joyce Pais

Primeiro longa-metragem dirigido por Charly Braun, que já havia chamado atenção com seus curtas Quero ser Jack White (2004) e Do Mundo Não Se Leva Nada (2005), entrou em circuito comercial três anos após sua finalização, em 2008. O prêmio de melhor diretor no Festival do Rio 2010 deu maior visibilidade ao cineasta que fez da ficção uma via para revisitar o seu passado e compartilhar dramas inspirados em vivências pessoais.

A partir de um pretexto bastante simples, o encontro na estrada entre o argentino Santiago (Esteban Feune de Colombi) e a belga Juliette (Jill Mulleady), é dado o ponto de partida para uma viagem de autodescoberta que nas mãos de Braun foram conduzidas de maneira segura e convincente.

O motivo da viagem de Santiago e o consequente reencontro com o seu passado foi a posse de terras deixadas por seus pais, mortos em um trágico acidente. Com a intenção de resolver o assunto pendente, o jovem parte para a viagem onde revê um tio muito querido por ele, uma ex-namorada (Guilhermina Guinle) e amigos, dentre eles Naomi Campbell, representada por ela mesma.

Filmado em terras uruguaias e com paisagens que são um espetáculo a parte pra quem assiste e acompanha a trajetória do casal, a medida que a viagem avança, personagens típicos do interior atribuem, com suas memórias, significado à história do filme, do país e, principalmente à trajetória dos protagonistas.

A escolha por atores não-profissionais para o elenco principal trouxe à proposta do longa uma fluidez que sincroniza com a ideia de um roteiro que aparenta o tempo todo estar “solto”, mas que na verdade articula de forma coerente com a sensação de liberdade alí vivenciada.

Destaque para Jill Mulleady, artista plástica na vida real que em suas aparições imprimiu uma forte presença em contraposição com a personalidade de Santiago, dando cor ao ambiente às vezes opaco e monocromático. Seria fácil imaginar o espectador torcendo por sua próxima entrada em cena, para seu próximo sorriso e olhar confiante ou até mesmo, seu corpo dentro de seu vestido roxo e botas pretas, que parecem confeccionados sob medida.

Difícil não ressaltar a importância da trilha sonora (escolhida a dedo por Charly Braun) como elemento narrativo, ela atua quase como um personagem portador de características bem delineadas no filme que possui um tempo de apreciação bastante específico.

No final, o que fica é a sensação de que o caminho é mais importante do que o destino final; as belas imagens são maiores do que o discurso, a experiência compartilhada na presença do silêncio é a essência.

No encerramento são mostradas imagens em VHS bem datadas, de meados dos anos 80 ou 90, com cenas familiares, cenas descontraídas em família, e quando nota-se a similaridade com o que acabamos de ver na tela percebe-se pra qual caminho a estrada nos levou.

 

Cinemascope---Além-da-Estrada-PosterAlém da estrada (Por el caminho)

Ano: 2010.

Diretor: Charly Braun.

Roteiro: Charly Braun e Felipe Sholl.

Elenco Principal: Esteban Feune de Colombi, Jill Mulleady, Guilhermina Guinle, Hugo Arias.

Gênero: Drama.

Nacionalidade: Brasil/Uruguai

 

 

 

 

Assista nossa entrevista com o diretor do filme:

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Veja o trailer:

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Galeria de Fotos: