Por Joyce Pais
“Você é tão bonito que eu tenho vontade de vomitar”.
Verdades e frases diretas como essa são implacáveis no longa sueco Algo a Romper, da diretora transexual Ester Martin Bergsmark. Implacável também é a imagem que abre o longa – espinhos aparecem na tela, ao som de uma música religiosa. O filme acompanha Sebastian (Saga Becker), um jovem descontente com sua vida entendiante, que mescla um trabalho do qual não gosta e desilusões amorosas. Isso muda quando ele conhece, por acaso, Andreas (Iggy Malmborg), por quem se apaixona prontamente e passa a nutrir uma admiração e desejo quase obsessivos.
Com uma trilha que sugere o suspense e a tensão em boa parte do filme, Algo a Romper vai além ao explorar a transformação de Sebastian em Ellie. Ao passo que desenvolve seu relacionamento com Andreas, alguns questionamentos são colocados, como a necessidade de se definir, a dificuldade de se relacionar e, principalmente, a forma como nos enxergamos dentro de uma relação amorosa, nesse caso.
Conforme Ellie vai ganhando vida, Andreas se incomoda e não sabe mais como agir frente a essa nova situação que o obriga a questionar a si mesmo, mas será mesmo que precisamos nos definir o tempo todo quando tratamos de um sentimento tão verdadeiro como o amor?
A dupla central do longa têm química e são muito bem sucedidos ao apresentar uma atuação visceral e realista, reforçado pela câmera na mão que os acompanha pelas ruas da cidade. O silêncio adquire um papel fundamental, já que é ele que preenche as lacunas entre o dito e o sugerido, de forma tão sensível.
Ainda que de forma um pouco angustiante, essa história deixa a certeza de que certos caminhos temos que percorrer sozinhos para, de fato, romper esses espinhos que insistem em nos ferir.
Algo a Romper (Nånting måste gå sönder)
Ano: 2014
Direção: Ester Martin Bergsmark
Roteiro: Eli Levén, Ester Martin Bergsmark
Elenco principal: Saga Becker, Iggy Malmborg, Shima Niavarani.
Gênero: Drama, Romance.
Nacionalidade: Suécia.
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