Crítica Antes do Inverno

Por Lívia Fioretti

Uma das maiores características do cinema francês é sempre fugir ao obvio, mostrando simbolismo e trocando aquilo que costumamos ver escancarados nas telas das produções hollywoodianas, por detalhes. Antes do Inverno (Avant I’hiver) não é diferente.

O filme de Philippe Claudel conta a história da vida (aparentemente) pacata de um neurocirurgião de 60 anos, Paul (Daniel Auteuil), que vive uma realidade feliz e estável com sua esposa e seu sócio. A rotina do médico não saia muito do esquema “consultório – jogo de tênis – casa” até ele conhecer a estranha garçonete Lou (Leïla Bekhti), que jura por tudo o que é mais sagrado que o senhor operou sua apendicite quando criança.

Após o estranho encontro com a moça de 20 anos, a vida de Paul começa a virar de cabeça para baixo: misteriosos buques de rosas passam a ser entregue na casa/ no escritório/no carro do doutor, seu relacionamento de décadas com Lucie (Kristin Scott Thomas) começa a desabar, a convivência com o filho Victor passa a ficar cada vez mais difícil, a amizade com Gérard (Richard Berry) parece não ter mais importância assim que este passa a tratar da garçonete e a profissão, que costumava ser a válvula de escape, precisa sofrer uma pausa após um colapso nervoso durante uma cirurgia.

O (atormentado) doutor passa perceber que Lou está em todos os lugares. Entre humilhações e pedidos de desculpas, uma relação esquisita que mistura paternidade/amizade/sexualidade passa a surgir, confundindo ainda mais sua cabeça.

O outono não é apenas a época do ano em que se passa a história, mas também ao estado de espírito de Paul, que se debate contra o envelhecimento e vê a morte através dos olhos de uma paciente.

O filme possui uma fotografia belíssima, variando entre cenas quentes e frias conforme o emocional das personagens e utilizando-se muito de reflexos e vidros para a composição do visual das cenas, mas não espere os cenários da França bucólica comumente retratada por filmes conterrâneos.

Além da relação passado-presente-futuro, que prova as grandes reviravoltas, também merece destaque os diálogos inteligentes, que em cada sílaba escondem um pouco sobre a verdadeira essência das personagens. Conforme as máscaras caem, é possível perceber que há mais do que os olhos podem ver nas vidas pré-terceira idade.

Antes do Inverno (Avant I’hiver)