Por Diêgo Araújo
Há pouco tempo comentamos que Boneco do Mal (The Boy) está entre as principais estreias do gênero terror no ano de 2016. É sabido, no entanto, que nos últimos anos esse apreciado e louvável gênero que há décadas encanta cinéfilos e admiradores casuais de cinema está passando por uma mudança gradual, com a adição de elementos típicos de comédia objetivando dar uma pegada mais leve e teen às produções, que não economizam na seleção de atores jovens e em ascensão na tentativa de alavancar as bilheterias e levar multidões de adolescentes aos cinemas.
O longa do diretor William Brent Bell, que também produziu o medíocre Filha do Mal (2012), acerta ao abrir mão de piadas desnecessárias, mas erra feio ao esquecer o principal objetivo a que veio: assustar. Em dois ou três momentos da trama, a produção nos deixa com aquela angustiante sensação de “agora vai!“, mas o que chega é apenas aquele barulho clichê e pouco inspirador de um objeto caindo ou uma pancada de parede que, absolutamente, só assusta crianças que nunca assistiram A Família Addams (1991) e adolescentes histéricos e desprovidos de qualquer vestígio de educação que ultimamente lotam as sessões de cinema.
A produção tenta nos entregar elementos clássicos que funcionaram bem em alguns filmes, como Os Outros (2001) e O Orfanato (2007), explorando uma horrenda mansão vitoriana e abusando de uma fotografia deslumbrante que contrasta com a qualidade do produto final. Na trama, a jovem Greta (interpretada pela cativante Lauren Cohan, The Walkind Dead) é contratada como babá de uma criança, mas fica atordoada ao perceber que o menino, na verdade, trata-se de um boneco “adotado” como filho pelo casal após a morte do seu único herdeiro. Parece ser mais uma versão mal contada de Chucky – O Boneco Assassino (1988) e Annabelle (2014), mas não é bem assim, e é justamente aí que reside o único ponto forte do longa, mas que não é nem de longe poderoso o suficiente pra encobrir a sua fachada geral grotesca.
É difícil comentar o final de um filme sem soltar spoilers. Como não é esse o nosso intuito aqui, a dica é: veja por si só. Só não se engane com o título da produção. Ele vai totalmente contra o que o filme nos entrega em seus minutos finais. O fato é que o boneco não é o que você espera que ele seja, e isso eleva a trama a um patamar digno de um certo reconhecimento quando comparada às produções que a antecederam. Ainda assim, Boneco do Mal está longe de ser um filme que carrega em si aqueles elementos que podem torná-lo ao menos um produto de terror razoável, digno de ser visto nas horas vagas ou em uma noite chuvosa. A coisa não está fácil. Ideias originais estão cada vez mais escassas. Revigorante em seu último suspiro? Talvez sim, mas a gente já viu filmes similares a esse mais de uma vez. Falta à trama a ousadia e capacidade de se impor até mesmo diante de uma criança malcriada, que com certeza já levou sustos muito piores por aí. Corre-se o risco até de elas se afeiçoarem ao “temido” boneco que, no fim das contas, é apenas um corpo morto, inerte, inofensivo e fofo.
Boneco do Mal (The Boy)
Ano: 2016
Direção: William Brent Bell
Roteiro: Stacey Menear
Elenco principal: Lauren Cohan, Rupert Evans
Gênero: Terror, suspense
Nacionalidade: EUA, China, Canadá
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