Algumas experiências cinematográficas não são tranquilas, uma vez que o universo de um filme pode gerar desconforto, inquietação e aversão propositalmente. Ainda que incômoda, essa experiência pode ser memorável. Mas quando um filme não consegue articular de maneira minimamente interessante sua lógica narrativa, ela passa a ser aborrecida de acompanhar. Infelizmente, é o caso do filme Cozinhar F*der Matar.
Escrito e dirigido por Mira Fornay, mesma cineasta que realizou um polêmico filme chamado Meu Cachorro Assassino (2013), essa nova obra foca em Jaroslav, um motorista de ambulância e pai de família que sem as chaves para entrar num terreno onde estão seus filhos, precisa recuperá-las com sua esposa, Blanka, cuja relação não está muito boa, pois ela deseja o apartamento que pertence a seu pai e a mãe de Jaroslav, que são um casal. Ela apenas dará as chaves com o papel do apartamento em mãos, mas a mãe de Jaroslav diz apenas ceder o imóvel se Jaroslav convencer seu pai de cozinhar algo para ela…
A premissa é composta basicamente nessa lógica “fazer algo para que um personagem dê algo que o outro necessita em troca”, o que por si só já engessa a história de uma maneira bastante limitadora. Cozinhar F*der Matar adota uma lógica narrativa semelhante a Corra, Lola, Corra (1998), onde o protagonista volta a determinadas situações e opta por outra ação, o que o leva para um caminho diferente na história.
Parece ser intenção da diretora em criar esse arranjo para representar a violência cíclica que parte da estrutura hierárquica de uma família tradicional: enquanto o homem da família não tomar as rédeas e agir, sofrerá agressões e vexames por não cumprir seu papel social. Porém, sem explicitar muito bem as motivações que mobilizam os personagens da trama, o filme é de uma frieza tamanha que pouco nos importamos com os personagens e o que acontecerá com eles no decorrer da narrativa. Afinal, o roteiro investe no vai e volta, e se algum personagem morre, em seguida retornamos para ele.
A apatia dos personagens é intencional para aquele universo estranho, mas não deixa de ser entediante investir emocionalmente em figuras tão desprezíveis em geral, cujas relações se baseiam em gritar ou agredir um ao outro.
Por falar nisso, os diálogos são insuportáveis, consistindo em personagens falando mais de uma vez o que precisam e sobre seus sentimentos, sem deixar que as atuações revelem o que eles sentem. Não há nenhum subtexto e sutileza nas falas dessas pessoas, o que torna tudo mais irritante ainda. Há também um tipo de coro (típico do teatro grego) composto por senhoras, que repetem o que está acontecendo ali, em determinada situação, elas descrevem o que cada personagem precisa para que Jaroslav atinja seu objetivo.
Até mesmo uma mudança interessante que ocorre na terceira guinada da história não tem muito a acrescentar nas mãos de Fornay. Assim, o que se encontra em Cozinhar F*der Matar é uma experiência desconfortável, mas nunca intrigante.