A primeira coisa que chama atenção em Entre Facas e Segredos (2019) é, sem dúvida, o elenco. Todo mundo que ganhou destaque na cultura pop nos últimos anos está aqui. Vindo direto do universo Marvel, Chris “Capitão América” Evans; o agente secreto 007 Daniel Craig, Jamie Lee Curtis da saga de terror Hallowen, o jovem Jaeden Martell de It – A Coisa (2017) e até Katherine Langford, vinda diretamente da série 13 Reasons Why. Ficamos até sem saber para onde olhar no poster de tanta gente boa que tem lá, o que é o primeiro ponto positivo do filme.
A trama gira em torno da morte do patriarca da família, Harlan Thrombey (Christopher Plummer) um bem sucedido escritor de livros de suspense do estilo Agatha Christie. Após o acontecimento, inicia-se uma investigação para descobrir o possível assassino ao mesmo tempo em que os familiares disputam quem ficará com a fortuna deixada por ele.
Boa parte do filme me senti durante o jantar de fim de ano com a família. Sério. Começa com a chegada dos personagens na casa. A morte de Harlan acontece após sua festa de aniversário, o que faz com que toda a família estivesse reunida na casa ou nas proximidades. A cada visita que chega, rola um comentário malicioso pelas costas de cada de cada um. Com o tempo, parece que a bebida vai subindo à cabeça e os comentários vão se tornando audíveis pelas pessoas que são seus alvos até se tornarem trocas de farpas aos berros. Como o filme é uma espécie de quebra-cabeça em que tenta se reconstituir todos os acontecimentos da noite, temos diferentes pontos de vista sobre o que ocorreu. Nesse momento, vemos que aquela conversa que você teve com seu tio, não foi tão secreta assim.
Além disso, temos típicas figuras que habitam as famílias. A tia festeira, o primo babaca, a avó que só observa e por aí vai. Quem amarra todos os personagens é claro o James… digo detetive Benoit Blanc, interpretado por Daniel Craig. Ele é o responsável por colher os depoimentos de cada um, amarrar os pontos da história e tentar solucionar o caso. É justamente seu movimento que faz com que a história ande e conhecemos os podres de cada um dos personagens. Traição, os rumos da empresa da família e até nazismo adolescente são expostos na busca para encontrar quem seria o responsável pela tragédia. Isso, e a presença de um elenco tão estelar, ajuda a confundir quem teria os reais motivos para essa atitude.
Isso tudo é embalado nessa atmosfera de “filme de detetive” que é cômico mas sem ser caricato. Ele chega a beirar a caricatura, mas acaba desenvolvendo uma identidade própria. Além de assumir e construir isso desde o começo de que é um filme quase que “literário”. No sentido em que a maioria das descobertas e reviravoltas (e prepare-se para muitas delas) são feitas de forma falada. Os personagens nos contam o que está acontecendo ou o que viram. São poucos o momentos em que temos alguma conclusão a partir do que vemos. E isso não é um ponto negativo, pois essa característica é construída desde o começo do filme. O humor mais ácido me fez questionar até se era um filme britânico.
Outra surpresa foi descobrir que o roteiro foi escrito pelo próprio diretor, Rian Johnson. Eu jurava que seria uma adaptação de algum livro. Merece uma estrelinha a mais por causa disso. Ele também é responsável pela direção de Looper: Assassinos do Futuro (2012) e Star Wars: Os Últimos Jedi (2017).
Entre Facas e Segredos é o tipo de filme que te engana. Primeiro pelas descrições e aparições dos personagens você sempre suspeita de quem não tem nada a ver. Segundo ele te dá a falsa impressão de ter descoberto algo antes mesmo do próprio detetive e, no final, sair da sala de cinema se sentindo muito inteligente por ter entendido todas as reviravoltas. Sério, eu saí assim de lá.
Acho que não é exagero dizer que esse é um dos filmes mais interessantes do ano. Quando vi tanta gente grande num filme só achei que seria uma cortina de fumaça para esconder a bomba que era na verdade. Foi o que aconteceu com It: Capítulo Dois (2019) que enganou todo mundo com um monte de atorzão para um filme bem mais ou menos. Aqui estão todos muito bem aproveitados e o tempo de tela de cada um faz jus a seus nomes e às funções que eles têm no decorrer da trama. O fim da sessão foi com um sorrisão no rosto, achando que meu Q.I. tinha aumentado um ponto e com vontade de assistir de novo.