Por Sttela Vasco
Abusos, repressões e o sentimento de que é preciso obter, de alguma forma, vingança. Esses são os três elementos que, a princípio, unem cinco garotas em uma Nova Iorque dos anos 1950 no longa Foxfire, confissões de uma gangue de garotas (Foxfire). A obra, dirigida por Laurent Cantet, é a segunda adaptação do livro homônimo de Joyce Carol Oates para o cinema – a primeira versão, de 1996, contou com Angelina Jolie no papel de Legs e recebeu o nome de Rebeldes no Brasil – e consegue, ao mesmo tempo, acrescentar elementos contemporâneos e se manter próximo do original. Destoando da maioria dos filmes atuais, a obra consegue expor um tema cada vez mais presente na nossa sociedade de maneira inteligente e jovial.
Cansada do constante assédio e desrespeito sofridos, cinco adolescentes americanas decidem, em meados dos anos 1950, criar uma gangue de garotas chamada Foxfire. Com o objetivo de protegerem umas às outras e enfrentarem todos aqueles que as reprimiram, Margareth “Legs” Sadovsky (Raven Adamson) e seu grupo vão, pouco a pouco, demonstrando seu poder. Pichações, roubos de carros e protestos passam a fazer parte do dia a dia das garotas, que decidem vivem à margem da sociedade para lutarem por seus ideais. Elas só não imaginavam a proporção que seus atos tomariam.
Quem imagina que Foxfire é um filme sobre “rebeldes sem causa” vai perceber que se enganou logo nos primeiros momentos do longa. Ele é, na verdade, uma resposta aos abusos cometidos contra as mulheres em uma época em que feminismo era palavrão e qualquer cogitação ao comunismo era motivo de repulsa – sim, as meninas são guiadas, de certo modo, por um sonho comunista. Oprimidas de várias maneiras – as garotas da gangue são alvos constantes de assédio moral e sexual – elas tentam “dar o troco” ao mesmo tempo em que enfrentam a realidade ao seu redor. A história, apesar de longa, é bem contada e não cansa o espectador. Pelo contrário, o entretém.
Agindo na surdina, elas vão, aos poucos, agregando cada vez mais membros, o que faz com que suas ações se tornem mais ousadas e perigosas conforme o grupo aumenta. Elas percebem, no entanto, que, se por um lado é bom ter mais garotas se somando à gangue, por outro, maiores são os problemas. A necessidade de manter a casa onde vivem começa a gerar crises dentro do grupo e, após um plano sair de seu controle, as meninas se veem obrigadas a tomarem uma difícil decisão quanto ao futuro da Foxfire. As experiências lá vividas marcam cada uma delas de maneira diferente e, de certa forma, definem o rumo de suas vidas.
Um fato curioso que é debatido ao longo da narrativa é que todas as pessoas ao redor temeram profundamente esse “bando” de meninas de “apenas” quinze anos. A pergunta que fica é justamente: por quê? As mudanças propostas pela Foxfire assustou tanto assim a sociedade justamente por exporem um problema que muitos preferem simplesmente fingir que não existe? A questão familiar é bastante presente – praticamente todas as integrantes da gangue têm algum problema em casa ou são simplesmente negligenciadas por mães e pais problemáticos ou ausentes.
Muito além de ser uma ”simples” defesa ao feminismo, o longa é um retrato da sociedade e, apesar de se passar na década já citada, é mais atual do que se imagina. Muitas situações são possíveis de serem vistas ainda nos dias de hoje, o que faz com que o filme justifique seus elogios. Longe de ser voltado somente para o público jovem ou feminino, Firefox nos faz refletir sobre atitudes que, apesar de serem vistas como “comuns”, são, na verdade, uma anomalia do passado que insiste em se arrastar para os dias atuais.
Foxfire – Confissões de uma gangue de garotas (Foxfire)
Ano: 2012
Direção: Laurent Cantet.
Roteiro: Laurent Cantet, Robin Campillo.
Elenco principal: Katie Coseni, Raven Adamson, Ali Liebert.
Gênero: Drama
Nacionalidade: França/Canadá
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