Animações nem sempre são para crianças, às vezes elas vêm como um soco no estômago e nos causam incômodo e confusão. Utilizando ferramentas da animação, os animadores e roteiristas, por vezes, conseguem demonstrar mais gráfica e facilmente o que por outros meios seria muito mais complexo.
Subvertendo a fórmula fabulesca de amor ao estilo Disney-Pixar em um conto sobre uma realidade sangrenta e doentia, Garden Party consegue escancarar o que de mais podre existe por trás do luxo. Esse curta-metragem é daqueles que apresentam uma história com múltiplas camadas, onde nada é o que parece à primeira vista.
Sapinhos nos vão sendo apresentados através do que parece ser uma história de conquista entre um macho e uma fêmea graciosa. Vamos acompanhando o jogo de sedução dos dois através de uma mansão abandonada, onde natureza e exuberância se interpõem, e nesse caminho também conhecemos o sapão glutão e a pequena rã serelepe. Ao longo do percurso, somos fisgados pelos detalhes do que pode ter acontecido com aquela mansão para que estivesse à mercê dos bichos pantanosos. Garden Party é, acima de tudo, um jogo entre sutilezas e brutalidade, é principalmente sobre oposições e antagonismo.
Do lodo ao luxo e com uma técnica realista que não deixa a dever aos grandes estúdios hollywoodianos, vemos com os olhos atentos o que pode ter acontecido ao dono da casa, que parece muito ser um certo presidente americano muito odiado mundo afora, personificando o que de mais repugnante existe no alto escalão da sociedade política (ou por que não do cinema?).
Garden Party é, por fim, uma ácida alegoria sobre excessos e efemeridades, e sai vitoriosa em nos deixar com um embrulho no estômago.