A primeira empreitada da atriz Charlotte Gainsbourg por trás das câmeras é o documentário Jane Por Charlotte, um retrato intimista e sonhador sobre sua mãe, Jane Birkin.

Se você, assim como eu, não tem conhecimento prévio da família Gainsbourg (Jane é cantora, assim como Serge – pai de Charlotte) pode ser que se sinta deslocado – um pouco removido da ação e das conversas. Charlotte não faz questão alguma de sintonizar o espectador àquela realidade, ao ‘normal’ da sua família, mas se conhecemos um pouco do trabalho da atriz isso já era esperado.

Na conversa inicial entre Charlotte e Jane a primeira deixa claro que quer entender melhor seu relacionamento com a mãe, e que a ideia é se despir de todo e qualquer pudor que elas aparentemente mantêm uma com a outra. As conversas transitam entre memórias que elas compartilham, dúvidas que surgem sobre todo e qualquer assunto, mas elas giram particularmente em torno da mulher. Seja ela a mãe, a esposa, a filha ou a trabalhadora.

O olhar artístico de Charlotte é belíssimo, entre cenas filmadas com diferentes câmeras, trêmulas e paradas, fotografias em preto e branco e também em cores – a estética de Jane Por Charlotte é extremamente agradável. Para um documentário, muitas vezes as conversas pareciam desconexas, sem um propósito específico, e quando existe uma conexão com as personagens isso não é um problema – mas aqui infelizmente essa conexão acaba sendo rasa demais.

Alguns momentos são marcantes, não que isso seja uma coisa boa, como Jane falando que gostaria de tocar os seios de Charlotte quando ela tinha 14 anos e Charlotte dizendo que teve a mesma vontade com sua filha, Alice, mas que a garota não se sentia confortável (isso acontece logo no começo do filme e eu tenho que admitir que não consegui me desfazer desse diálogo completamente bizarro que me lembrou de todo o desenrolar com a Lena Dunham no lançamento do seu livro).

Durante grande parte de Jane Por Charlotte, fiquei com a impressão que esse era um material particular, feito para ficar entre mãe e filha, e talvez seja exatamente essa a sensação que Charlotte quisesse passar. Mas, infelizmente, é isso que também torna o filme inacessível para o público, sem que possamos nos importar verdadeiramente com o que estamos assistindo.