Quando criança eu era super fã de Macaulay Culkin, principalmente por causa do filme Esqueceram de Mim (1990) que assistia ao menos uma vez por ano. Ele era o fenômeno infantil da década de 1990 estrelando diversos outros sucesso da época como Meu primeiro Amor (1991) Riquinho (1994). Anos mais tarde me surpreendi ao ver que o pequeno Macaulay tinha se tornado um adulto estranho e mergulhado nas drogas. O que eu fui descobrir depois é que existe um longo histórico de atores e atrizes que se tornaram adultos problemáticos devido aos traumas vividos numa infância em frente às lentes. Um dos casos mais famosos agora chega aos cinemas em Judy: Muito Além do Arco-Íris (2019).

Judy conta a história da atriz Judy Garland (Reneé Zellweger), que ficou famosa por sua voz incrível e principalmente por seu trabalho no clássico O Mágico de Oz (1939). O filme acompanha a atriz quando ela já está mais velha, com três filhos, sérios problemas financeiros e dificuldade de encontrar oportunidades de trabalho. Para evitar que perca a guarda de seus dois filhos mais novos ela topa fazer uma série de apresentações na Inglaterra e levantar algum dinheiro. Mas os traumas do passado parecem perseguí-la, fazendo com que a missão não seja tão simples assim.

Esse é uma daquelas produções em que a atuação fica maior que o próprio filme. Reneé Zellweger faz um trabalho e tanto interpretando Judy. A maquiagem e os trejeitos usados pela atriz fazem com que a gente esqueça quem está por traz dela e vejamos apenas Judy. O jeito de andar e a forma com que segura o microfone trazem uma autenticidade à personagem que nos faz esquecer que estamos vendo uma atuação.

Esse trabalho fez com que fiquem de lado aquelas questões que costumam rondar nossa cabeça quando assistimos a filmes baseados em fatos como: “será que isso aconteceu de verdade?”. Em Judy: Muito Além do Arco Íris passamos a pensar: “como é possível algo assim acontecer?”. O filme nos absorve de tal forma que passamos a ficar com Judy, sofrendo junto com ela.

Além da atuação de Reneé Zellweger, outro grande trunfo do filme é o roteiro. As falas e os momentos em que os acontecimentos ocorrem são de muita precisão, aliados a como Zellweger reage a essas situações. O gênio difícil de Judy e a carga emocional que chegam a ela fazem com que as situações fiquem ainda mais complexas do que seriam com uma pessoa “normal”.

Um ponto estratégico foi a utilização da canção tema de O Mágico de Oz, Somewhere Over The RainbowDurante todo o filme ficamos esperando o momento em que Judy iria cantar a música e ela surge no momento exato. É uma cena catártica e posicionada num lugar muito preciso. Tão preciso que até derruba a gente no chão. Não vou dizer quando para não estragar a surpresa.

Eu sei que no final da sessão, meu coração estava aos pedaços. É incrível ver como o universo do entretenimento pode ser tão cruel com as pessoas. A busca desenfreada por ganhar dinheiro, principalmente às custas dos outros, do talento de terceiros, não tem escrúpulos. Se hoje, mesmo com tantas proteções e formas de denúncia, ainda existem abusos morais e sexuais, imagine numa Hollywood de 60 anos atrás.

Ah, e Macaulay Culkin tá meio sumido atualmente, mas está muito bem hoje.

Judy: Muito Além do Arco-Íris

 

Ano: 2019
Direção: Rupert Goold
Roteiro: Tom Edge, Peter Quilter
Elenco principal: Renée Zellweger, Jessie Buckley, Finn Wittrock, Rufus Sewell
Gênero: ​Biografia, Drama, Romance
Nacionalidade: Reino Unido

Avaliação Geral: 4