Por Sttela Vasco.

Uma diva, uma lenda, uma mulher. Poucas são as figuras que conseguem atingir um patamar em que, mesmo após a sua morte, todos ainda a usam como referência. Marilyn Monroe, o grande símbolo de sensualidade e beleza do cinema, foi uma das que conseguiram. Cinquenta anos após sua morte, Marilyn ainda é lembrada, estudada, idolatrada. Seu nome é citado em músicas, filmes fazem referência a sua figura e, constantemente, biografias a respeito de sua vida são publicadas. Talvez por essa razão – e também um carinho pessoal pela atriz – Liz Garbus tenha optado por realizar um documentário sobre Marilyn. Em Love, Marilyn, somos apresentados à mulher que ela era por trás dos holofotes. Temos acesso aos pensamentos e sentimentos de Marilyn e somos levados a descobrir a pessoa que ela realmente foi. Tocante e honesto, o documentário de Garbus faz com que até quem não sabe muito sobre essa estrela hollywoodiana sinta-se próximo dela.

Celebridades da atualidade se reúnem em Love, Marilyn para narrar e interpretar trechos de suas memórias. Textos de biografias, cartas e telegramas da época e anotações feitas pela própria Marilyn se misturam filmes, entrevistas e fotos para narrar quem era Marilyn Monroe fora das lentes e, dessa forma, tentar compreender melhor a vida dessa estrela. Com interpretações de Glen Close, Lindsay Lohan, Uma Thurman, Viola Davis, Rachel Evan Wood, Adam Brody e outras personalidades do cinema atual, Love, Marilyn faz com que o espectador conheça Marilyn Monroe além da atriz, mostrando sua trajetória, seus dramas, seus amores e a forma com que ela lidou com a fama.

A primeira coisa que chama atenção em Love, Marilyn é a forma com que os fatos são apresentados. Fugindo da narrativa clássica, com um único narrador e uma linha cronológica exata, o documentário é, basicamente, feito através de interpretações. Cada poema, cada carta, tudo é interpretado em forma de monólogo pelo time de atores/narradores reunidos por Liz Garbus. A impressão que passa para quem está assistindo é que a história está sendo narrada literalmente por quem a viveu. Com interpretações excelentes, em certos momentos é até possível esquecer de que os atores ali presentes não vivenciaram tais fatos. Entre cenas de filmes, bastidores e entrevistas com Marilyn, depoimentos de pessoas próximas a ela somam-se aos textos narrados enriquecendo o documentário. São diversos pontos de vista em relação à personalidade de Marilyn, mas cada um deles contribui para a construção e compreensão dessa figura tão enigmática.

Muito além de explorar a imagem de sex symbol que acompanhou a atriz durante toda a sua vida – e até mesmo após a sua morte –, o documentário de Liz Garbus mostra a pessoa que ela era. Uma mulher inteligente, perseverante, emocionalmente instável e insegura e que, muitas vezes, foi taxada como apenas um rosto bonito. Ao longo do filme é possível ver como Marilyn montou a personagem a qual mais interpretou durante sua vida toda: ela mesma. As pressões que sofreu, as cobranças que fazia a si mesma e a tentativa de provar que podia ser uma boa atriz são exploradas a partir do ponto de vista dela. Aos poucos, conhecemos quem ela realmente foi e, ao final do documentário, nos sentimos íntimos à atriz. Acompanhado seu caminho rumo ao estrelato até sua morte, Liz mostra como o mundo dos filmes ao mesmo tempo em que favoreceu Marilyn, a destruiu. A impressão que fica é que sempre havia alguém pronto para tirar algo ou se aproveitar dela e que, mesmo lutando, ela acabou sucumbindo.

A extrema solidão sentida por Marilyn é bastante exposta ao longo do documentário, assim como suas tentativas de ser reconhecida como alguém capaz de interpretar papéis sérios e que era muito além do que apenas uma garota bonita. Com uma qualidade louvável, Love, Marilyn consegue biografar esse mito do cinema de forma humanizada e realística, provando por que, mesmo após cinquenta anos de sua morte, Marilyn Monroe continua exercendo essa fascinação sobre o público e mostrando que sua imagem perpetuará por muito tempo ainda.

Crítica publicada como parte da cobertura da 37° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Cinemascope -Love-Marilyn (1)

Love, Marilyn

Ano: 2012

Direção: Liz Garbus

Roteiro: Liz Garbus

Elenco principal: Glen Close, Lindsay Lohan, Uma Thurman, Viola Davis, Rachel Evan Wood, Adam Brody

Gênero: Documentário/Biografia

Nacionalidade: EUA

 

 

 

 

Assista o trailer: