Sempre quando sai alguma animação nova, eu corro para ver. Se estamos falando de Disney ou Pixar, parece que sempre espero algo surpreendente.

Com Luca não foi diferente. Fui com bastante sede ao pote, esperando fogos de artifício e grandes acontecimentos. Porém, não foi isso que aconteceu.

A história dos amigos Luca e Alberto – dois meninos-monstros que passam um verão divertido entre Vespas e corridas de bicicleta – veio para mostrar ao espectador que nem sempre são precisas cenas apoteóticas para que um filme cumpra seu papel.

Quantos desafios e surpresas podem existir na vida de uma criança que está crescendo? Não é novidade que os estúdios Disney se utilizem da sede de conhecimento e curiosidade dos personagens que querem muito “mais que a vida no interior” para contar uma história. Ainda que existam mais coisas desconhecidas no fundo do mar do que na superfície da Lua, para Ariel (1989) e Luca, ainda faltava algo que somente na superfície eles conseguiram encontrar: apaixonamentos.

As paixões costumam mover o mundo. Luca apaixonou-se por uma vida de brincadeiras, pela Lei da Gravidade, pelo céu de anchovas, pelo molho Pesto de Giulia e Massimo Marcovaldo, pela possibilidade de voar pelo mundo de Vespa, pelos amigos e pela ideia de ir para a escola.

O filme é ambientado tanto no fundo do mar quanto numa aldeia idílica da Riviera italiana construída digitalmente especialmente para esta animação – fruto de várias pesquisas da equipe de arte. O diretor e roteirista Enrico Casanova fez questão de preservar detalhes do ambiente que lembrava sua infância na Itália para enriquecer a fotografia da animação e tentar trazer ao espectador a sensação de estar lá.

E no fim das contas, além das mensagens fofas sobre crescimento, liberdade, descobertas, enfrentamento do medo, isto é o que fica: a maresia, o gosto do manjericão e o frescor do sorvete de casquinha que as senhoras tomam, caminhando pela praça.

Parece que a preocupação com o ambiente era tanta que a história ficou deixando um pouco a desejar.

A relação de Luca com seus pais teria um potencial grande de ser explorada – principalmente com sua mãe superprotetora que não queria deixar de jeito nenhum que ele fosse até a superfície. Ou até mesmo a relação de Massimo com Alberto, quase paternal, mas que não avança na história.

O vilão Ercole é construído de um jeito bacana, cheio de trejeitos de comédia física que fazem com que ele seja uma presença risível ao invés de somente maquiavélica – o que é bom para o desenrolar da trama.

De certa forma, acredito que Luca seja um filme para telas pequenas. Diferentemente dos últimos clássicos como Moana (2017), Frozen (2014) e até mesmo o mais recente Encanto (2021), que trazem planos mais abertos, paisagens exuberantes, Luca é mais aconchegante, menorzinho, intimista.

Por isso, não acredito que seja de todo ruim o fato dessa animação não ter um momento apoteótico, uma virada surpreendente. Se eu puder escolher um momento para guardar, seria a aldeia toda não fazendo um escândalo quando Luca e Alberto se revelam ser monstros marinhos – momento especial em que a Disney se pronuncia a favor das diferenças sem criar um espetáculo em cima disso.

– Já está mais do que na hora de entendermos, enquanto produtores e espectadores de cultura – que vivemos em uma sociedade plural, não é mesmo?

Luca, enfim, deixa um calorzinho no coração. Mesmo não sendo uma grande estreia, tem seu lugar ao sol.

 

Luca

 

Ano: 2021
Direção: Enrico Casarosa
Roteiro: Enrico Casarosa, Jesse Andrews, Simon Stephenson
Elenco principal: Jacob Tremblay, Jack Dylan Grazer, Emma Berman, Saverio Raimondo
Gênero: ​Animação, Aventura, Comédia
Nacionalidade: Estados Unidos

Avaliação Geral: 3