Por Felipe Teixeira
A segunda saga cinematográfica da Terra-Média chega ao fim com O Hobbit – A Batalha dos Cinco Exércitos, o último filme da grandiosa, porém irregular, trilogia do diretor Peter Jackson. Dividida em três filmes, a história de Bilbo Bolseiro adaptada do livro ‘O Hobbit’, de J.R.R. Tolkien, sofreu com problemas de ritmo e um inchaço do roteiro nos dois filmes anteriores, Uma Jornada Inesperada e A Desolação de Smaug. A Batalha dos Cinco Exércitos, o terceiro filme da franquia, volta a cometer falhas já conhecidas, mas de longe é o melhor longa-metragem da trilogia, apresentando cenas de ação de nível espetacular, uma boa dose de emoção e um empolgante desfecho que faz o elo preciso com O Senhor dos Anéis.
Antes de qualquer coisa, é preciso reconhecer que a terceira parte de ‘O Hobbit’ é um filme de guerra. Grande parte do desenvolvimento dos personagens e da construção dos conflitos entre elfos, homens, anões e orcs foram estabelecidos nos filmes anteriores, e por isso A Batalha dos Cinco Exércitos é quase inteiramente focado na guerra entre os povos pela disputa da Montanha Solitária. Após o dragão Smaug ser derrotado em uma belíssima sequência inicial (que funcionaria melhor como o fim do segundo filme), cada raça define o seu lugar na grande batalha que se aproxima, enquanto a Comitiva liderada pelo incontrolavelmente ganancioso Thorin defende sua posição na Montanha.
E quando a batalha finalmente começa, o diretor Peter Jackson coloca em cena aquilo que ele sabe fazer de melhor: sequências de confrontos em uma escala épica e longas lutas extremamente bem coreografadas. Assim como nas inesquecíveis guerras de O Senhor dos Anéis: As Duas Torres e O Retorno do Rei, é digna de aplausos a capacidade de Jackson em posicionar cada um dos exércitos em sua mis-en-scène e conseguir manter a ordem durante as partes de ação em que elfos, anões, orcs, trolls, wargs e homens medem forças, sem que o espectador fique perdido diante de tantos personagens e possa acompanhar cada embate com atenção. Auxiliado pela hábil montagem de Jabez Olssen, Jackson realiza um feito dificílimo, que poderia fazer da guerra uma grande bagunça visual (ao estilo Michael Bay) nas mãos de um diretor menos competente. Além disso, os eficientes efeitos visuais, apesar de exagerados em algumas cenas (como na sequência de Dol Guldur), também são fundamentais para situar os eventos, principalmente durante os planos mais abertos que mostram a gigantesca proporção da batalha.
Abandonando o tom mais aventureiro e colorido dos dois primeiros longas, A Batalha dos Cinco Exércitos também se distingue como o filme mais sombrio da trilogia. A fotografia mais escura de Andrew Lesnie, que trabalhou com Jackson nos seis filmes, é coerente com os trágicos eventos que acontecem ao longo da película e com o ressurgimento das trevas na Terra-Média. A tonalidade escura, juntamente com o cinza gerado pelo inverno que chegou à terra de Erebor, é ainda mais ressaltada se comparada às cores vivas e alegres vistas em Uma Jornada Inesperada, quando Bilbo ainda estava seguro e o caminho dos personagens não era tão perigoso.
A trama também ganha contornos dramáticos após a destruição causada por Smaug na Cidade do Lago, quando os moradores de Esgaroth descobrem-se desabrigados. O arqueiro Bard, interpretador pelo promissor Luke Evans, consagra-se como um importante personagem durante a guerra, com muito mais importância e profundidade do que no livro, em que pouco é falado sobre ele. Já Thorin Escudo de Carvalho, cego devido aos montes de ouro que voltaram às suas mãos, torna-se o retrato do egoísmo e da ganância, o maior dos pecados em todas as obras de Tolkien e a grande fonte dos conflitos. A conturbada relação entre ele e Bilbo, em várias partes do filme, evocam as melhores atuações de seus dois intérpretes (Richard Armitage e Martin Freeman, respectivamente) em toda a trilogia e alguns dos momentos mais tocantes deste último capítulo.
E apesar de ser o filme mais curto e objetivo de toda a saga, com “apenas” 2h24 de projeção, o roteiro escrito por Peter Jackson, Frans Walsh, Phillipa Boyens e Guillermo Del Toro, infelizmente ainda perde tempo com subtramas e personagens pouco importantes, como o insuportável Alfrid (Ryan Gage), que de nada acrescenta a história e inúmeras vezes surge em cena. Os divertidos malabarismos do elfo Legolas também acabam tornando-se repetitivos, como se em todas as lutas o personagem precisasse fazer algo de extraordinário. São momentos que trazem alívios cômicos ou puros instantes de deslumbramento, mas que acabam enfraquecendo o fluxo do filme. Entretanto, um dos pontos mais criticados da trilogia, o romance entre o anão Kili (Aidan Turner) e a elfa Tauriel (Evangeline Lilly), tem uma conclusão satisfatória, com destaque para a convincente atuação de Lilly, que foi corajosa ao aceitar o papel e construiu uma personagem marcante.
A história da Terra-Média no cinema chega ao fim com saldo positivo e uma sensação de nostalgia inevitável, conforme os personagens se despedem e bem-vindas referências a O Senhor dos Anéis são apresentadas. Mesmo com problemas e longe do fenômeno de qualidade de sua precursora, a trilogia O Hobbit foi do início ao fim um deleite visual e um agradável retorno ao lar de hobbits, elfos e anões. Até que os direitos de ‘O Silmarillion’ estejam disponíveis para adaptação (e alguém tenha a coragem de tentar levar tão complexa história para o cinema), A Batalha dos Cinco Exércitos é um excelente último adeus.
O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (The Hobbit: The Battle of the Five Armies)
Direção: Peter Jackson
Roteiro: Fran Walsh, Philippa Boyens, Peter Jackson, Guillermo del Toro.
Elenco principal: Ian McKellen, Martin Freeman, Richard Armitage, Benedict Cumberbatch.
Gênero: Ação, Fantasia, Aventura.
Nacionalidade: EUA. Nova Zelândia.
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