Por Jenilson Rodrigues

Delimitar, de certa forma, o campo de visão do espectador ao compactar parte de uma trama intrigante em um espaço tão restrito pode expandir a percepção de quem acompanha a história e instigar sua incursão à vastos terrenos, como a mente de um garoto de 5 anos. Ter a oportunidade de ser Jack em alguns momentos pode ser algo como encarar as novidades aos olhos de uma criança, como na música do Emicida, tema de O Menino e o Mundo.

Seria como ampliar o significado daquilo com o que se tem contato pela primeira vez – típica reação infantil – ao invés de restringir tal coisa ao próprio universo composto por tudo já visto e sentido antes dessa experiência  – comportamento característico de quem deixou a infância para trás.

Aos olhos de uma criança o mundo parece girar mais devagar. Como o próprio Jack descreve, sob o olhar pueril é difícil perceber essa rotação, mas é fácil notar as pessoas cada vez mais agitadas como se fossem cair do outro lado do globo, a cada volta.

Jack olha para o novo com naturalidade e deslumbramento. Jacob Trambley dá a sua personagem o ar de pureza inerente ao ser que se abre para o mundo, seja no instante em que se descobre dentro do planeta ou em posição fetal, com receio do primeiro contato com outro ser diferente de sua progenitora, numa expressão semelhante a de alguém que nunca foi realmente impactado pela vida. Uma atuação singular de um garoto que aparenta ter consciência de todo o caminho que percorre, e que demonstra isso passo a passo, a cada expressão, a cada gesto e palavra por palavra.

O único ponto que traz mais do que apenas luz para o quarto – a claraboia no teto – parece funcionar como um link que reconecta Jack e Joy à sanidade. Como se fosse necessário a eles enxergar além do cubículo para se certificar da veracidade da própria existência, mesmo com a enorme diferença perceptiva entre um e outro.

Lenny Abrahamson aparentemente consegue dilatar o tempo de um evento importante no filme – tudo mais uma vez precisamente sincronizado com as melodias de Stephen Rennicks – o que nessa faísca de momento pode trazer a possibilidade de um misto de confusas reações, muitas destas compartilhadas com os personagens da trama. A incerteza parece transformar segundos em horas, mesmo que esse instante possua as mesmas características técnicas de uma cena rápida.

Depois de flertar com a insanidade e a acidez em Frank (2014), Abrahamson dá vida a uma história peculiar, adaptando o romance de Emma Donoghue com a simplicidade de quem, em seu quinto longa, talvez queira demonstrar que está apenas começando, mas que também já sabe bem a que veio.

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O Quarto de Jack (Room)

Ano: 2015

Direção: Lenny Abrahamson

Roteiro: Emma Donoghue

Elenco Principal: Brie Larson, Jacob Tremblay, Joan Allen, Sean Bridgers

Gênero: Drama

Nacionalidade:  Estados Unidos da América

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