Por Domitila Gonzalez
Um ótimo jeito de começar um filme ambientado no Havaí provavelmente é dizer que nem tudo se resume a estampas, ondas, praias e férias eternas, como faz Matt King (George Clooney). Sendo brasileira eu diria que assistir a esse tipo de introdução é no mínimo engraçado, afinal qual é o gringo que não acha que o Brasil se resume a bundas, caipirinha, praias, férias eternas e atualmente, Michel Teló?
Babaquices à parte, vamos acabar com toda essa rasgação de seda. Alexander Payne (Sideways – Entre Umas e Outras, 2004) fez um filme bom? Sim. George Clooney é um bom ator? Sim. O roteiro ficou bonitinho, a trilha é fofinha – daquelas que viramos a cabeça pro lado e fazemos ooohhh –, Shailene Woodley (Alexandra King) é sensacional, a fotografia em tons frios acentua o reaproximar da família em crise quando Clooney aparece com uma camiseta vermelha e a corridinha dele para saber a verdade sobre a esposa vale os 117 minutos de filme, mas é só.
Vemos um drama familiar bem trabalhado no realismo e é isso que faz com que nos identifiquemos com a história. Um advogado havaiano focado no trabalho, descendente de uma família real e herdeiro de uma grande propriedade, deve decidir a venda das terras, juntamente com seu monte de primos, ao mesmo tempo em que tem que lidar com a esposa em estado vegetativo por conta de um acidente de barco, sua filha mais nova passando pela puberdade e toda rebeldia da mais velha. Como se não bastasse essa confusão, ainda descobre que estava sendo traído pela mulher e agora não tem como tirar satisfação.
Embarcamos na história desatando os nós da família de Matt, entendendo cada laço com cada descendente – os próximos e os distantes – e traçando vários caminhos, que passam pelo mesmo fio condutor: o da reconstrução de seu relacionamento com as filhas Alexandra e Scottie (Amara Miller) perante a morte de sua mulher, Elizabeth King (Patricia Hastie).
É um filme gostoso de ser assistido, mas não me tocou suficientemente pra desfiar elogios para o elenco e a direção. Quer dizer, nem na cena em que supostamente serviria pra dar um tapa na cara de Matt, Sid (Nick Krause), o amigo esquisito de Alex conseguiu arrancar um suspiro de pena. Por outro lado, Woodley surpreende, em seu primeiro grande papel cinematográfico, fazendo o jogo fluir em todas as cenas com Clooney, que me agradou muito mais na pele do executivo Ryan Bingham em Amor Sem Escalas (2009).
Os Descendentes está concorrendo a 5 Oscars: Melhor filme, Melhor ator (Clooney), Direção, Edição e Melhor roteiro adaptado. Desses, acho que tem chances somente no último, apesar de não dar muita credibilidade. Estou apostando num verdadeiro arrastão de The Artist e na direção de Scorsese em A Invenção de Hugo Cabret (2011).
O motivo pelo qual eu acredito que esse tipo de filme começa a fazer sucesso é justamente a identificação do público com uma história clean e completamente possível. Não temos nenhuma esperança de que a mulher volte do coma, por exemplo. Acompanhamos, então, o surgimento de um novo clichê, que começou a despertar o interesse a partir do sucesso de (500) Dias com Ela (Marc Webb, 2009): o dos filmes “felizes nem sempre para sempre”, um novo modo de pensar o olhar do espectador.
Os descendentes (The Descendants)
Ano: 2011
Diretor: Alexander Payne.
Roteiro: Alexander Payne, Nat Faxon e Jim Rash, baseado no romance de Kaui Hart Hemmings.
Elenco Principal: George Clooney, Judy Greer, Shailene Woodley, Matthew Lillard.
Gênero: Drama.
Nacionalidade: EUA.
Veja o trailer:
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