Quem Tem Medo (2022), de Henrique Zanoni, Dellani Lima e Ricardo Alves Júnior é um documentário de cunho político que discorre sobre a ascensão do discurso de extrema direita no Brasil, a partir da perspectiva de artistas que, de alguma forma, tiveram suas obras censuradas.
O documentário intercala cenas de espetáculos, performances etc. com o discurso dos artistas e políticos do espectro à direita do jogo político. Dividido em cinco momentos, o documentário joga luz na violência enfrentada por 3 artistas e 2 coletivos de arte diferentes:
- Schwartz com a sua performance em homenagem à poética de Lygia Clark, onde expõe seu corpo nu, convidando o espectador a manuseá-lo, do mesmo modo que os icônicos bichos da artista mineira;
- José Neto Barbosa com a sua peça irreverente em que discorre sobre temas políticos;
- Renata Carvalho em seu monólogo Manifesto Transpofágico, onde reflete sobre temas relacionados à brasilidade, travestilidade, sob a ótica da vivência e corpo de uma travesti no mundo;
- Por fim, os coletivos responsáveis por “Caranguejo OverDrive” e “Res pública”.
Para quem acompanhou os ataques e as censuras direcionadas às obras com certeza reviver mais uma vez os episódios não é algo agradável. Ainda mais no presente, onde, infelizmente, ainda percebemos o reflexo dessas ações e discursos em nosso cotidiano.
No entanto, o filme, para além de documentar os ataques, violências, as respostas da classe artística aos episódios, serve como arma de resistência para quem acredita em uma sociedade mais justa, livre de preconceitos e hipocrisias.
Assim, conforme os diretores vão narrando os acontecimentos, de maneira granular, conseguimos extrair das falas dos políticos as inconsistências, contradições, medos e a falsa moral dos mesmos. Todo o argumento contra as obras parece invalidar-se, na medida em que acompanhamos a postura dos políticos, onde no próprio discurso sobressai o ódio e a violência característico do fascismo.
Uma das potentes falas de Renata Carvalho parece servir como síntese do filme. A artista diz “já me expulsaram de diversos lugares, mas do teatro eu não saio”. Ora, essa postura de resistência parece ser o que mantém a arte viva, mesmo sob todos os ataques e censuras.
Quem Tem Medo (2022) é um documentário importante que deve ser visto e revisto para nos lembrarmos que os direitos, mesmo aqueles supostamente garantidos, podem, a qualquer momento, ruírem diante de nossos olhos.