Dirigido por Jasmila Zbanic, Quo Vadis Aida (2020) é um drama político, ambientado na trágica e conturbada Guerra Civil Iugoslava: conflito marcado por dissidências identitárias, políticas e simbólicas entre as nações do Leste Europeu.
A trama acompanha a vida de Aida, uma professora que trabalha como intérprete para a ONU. Indicado na categoria de melhor filme internacional do Oscar 2021, o filme é um retrato cirúrgico de um dos massacres mais violentos do final do século XX. Quando a cúpula da ONU, localizada na pequena cidade de Srebrenica é invadida pelo exército Sérvio, Aida precisa, ao mesmo tempo, resguardar a família e encontrar formas de evitar o avanço da tropa inimiga contra os refugiados bósnios.
A obra insere a professora nas conturbadas reuniões políticas do alto escalão do exército. A protagonista participa de todas as discussões entre os oficiais da ONU, que supostamente deveriam proteger a população Bósnia dos invasores Sérvios. O exército da ONU faz de tudo para demonstrar o controle da situação, no entanto, Aida percebe que o conflito parece tomar proporções inimagináveis.
Aqui, o filme denuncia o despreparado exército da paz (ONU), mostrando as falhas de uma organização que tem como um dos principais pilares os direitos humanos. Sem nenhum tipo de preparo ou Plano B, os soldados da ONU parecem não conseguir articular nenhum tipo de estratégia tática para salvar os bósnios.
De forma poética e ardilosa, a diretora retrata a tensão da população Bósnia em busca de refúgio na base da ONU. No decorrer da obra, acompanhamos diversas situações de violação dos direitos humanos. O desespero da multidão causa um desconforto horripilante no espectador que acompanha a trama esperando uma solução que parece não se concretizar.
Com um tom melancólico e desesperançoso, a narrativa apresenta as dificuldades das negociações políticas, mediada pelo problema da linguagem e da tradução. Nada melhor do que inserir a barreira da língua para intensificar ainda mais os conflitos, uma vez que Aida é peça chave para conter o debate e garantir o sentido correto das trocas de mensagens.
Lançado no 25º aniversário do massacre, a obra resgata e denuncia um conflito que marcou para sempre a história das nações do Leste Europeu. Se podemos falar da responsabilidade social da arte, o filme de Jasmila incorpora com primazia as características de uma obra que se posiciona politicamente e quer prestar contas com um passado que mesmo distante, ainda vive no imaginário coletivo da humanidade.