Chegamos então ao fim da trilogia de terror da Netflix com Rua do Medo: 1666 – Parte 3 (2021). Depois de passarmos pelas décadas de 1970 e 1990, retornamos 300 anos antes dos acontecimentos de Rua do Medo: 1994 – Parte 1 (2021) para descobrir a origem do mal. Apesar de existirem diversos filmes nessa atmosfera, a grande referência desta vez parece ser o recente A Bruxa (2015). Desde a concepção, com uma comunidade que, regida pela religião, comete maiores atrocidades com a desculpa de estar seguindo as sagradas escrituras, até a fotografia com cores lavadas, chegando quase a ser preto e branca, remetendo muito à da produção de Robert Eggers.

Os atores que participaram dos dois primeiros filmes aqui retornam, como se fossem uma espécie de reencarnação. Provavelmente, pensando em questões de produção, foi uma escolha financeira e que foi levada em conta na hora de fechar o orçamento. Um pacote de três filmes praticamente os mesmos atores seria mais econômico do que uma equipe para cada. Mas, mesmo assim, fingindo não saber desse detalhe, fica interessante ter essa ideia presente no universo fílmico. Visto que a trilogia brinca com os mais diferentes subgêneros do terror possíveis, reencarnação não poderia faltar.

Além do universo de A Bruxa, outra referência que atravessa o filme é a ideia de que famílias tradicionais, influentes e detentoras de grandes fortunas, escondiam bruxarias e pactos que seriam passados a diferentes gerações. Esse foi o tema de títulos de terror nas décadas de 1960 e 1970 como O Bebê de Rosemary (1968) e A Profecia (1976) em que rituais satânicos eram encobertos por uma família tradicional e detentora de bons costumes. A raiz do problema e a forma de resolvê-lo está justamente aí, o que vai direcionar para a volta aos acontecimentos da década de 1990 para tentar resolver de vez com o problema.

Com Rua do Medo: 1666 , a diretora mostra que fez uma pesquisa bem-feita para construir esse universo de tantas referências que se cruzam ao longo da trilogia. Além de contar uma história no mínimo sólida com início, meio e fim. Quer dizer, um fim aparente, né. Como toda franquia que se preze sempre tem aquela piscadinha no final apontando futuras possibilidades. E, com o sucesso, não duvido que, futuramente, o serviço de streaming se aventure a fazer novos capítulos da saga.

Para além do universo do terror propriamente dito,  Rua do Medo ainda ilustra a dura realidade que vivemos atualmente em que o conservadorismo oprime as minorias. Coisa que nunca deixou efetivamente de existir, mas agora as coisas parecem estar mais escancaradas e em uma época em que a informação é vasta e pode ser facilmente encontrada. Pessoas que utilizam preceitos cristãos para oprimir aqueles que têm decisões ou estilo de vida diferente das deles. É assustador pensar que uma história de ficção que se passa a três séculos atrás ainda sirva como ilustração para os dias de hoje.

Rua do Medo: 1666 – Parte 3

 

Ano: 2021
Direção: Leigh Janiak
Roteiro: Phil Graziadei, Leigh Janiak, Kate Trefry
Elenco principal: Kiana Madeira, Ashley Zukerman, Benjamin Flores Jr., Gillian Jacobs, Olivia Scott Welch
Gênero: ​Horror, Mistério
Nacionalidade: Estados Unidos, Canadá

Avaliação Geral: 4