Sempre que está para sair um filme novo do diretor Christopher Nolan é um evento. Isso porque, mesmo antes de seu lançamento, farpas entre os que amam e os que odeiam o diretor começam a ser trocadas. Talvez o último consenso geral tenha sido Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008). O debate me lembra bastante quando rodas de conversa começam a discutir Legião Urbana ou Los Hermanos. Quem gosta, gosta de verdade e defende até a última gota de suor. Mas quem não gosta chega até a odiar.
Muito se deve também aos discursos de Nolan quando fala dos próprios filmes. Para metade eles são arrogantes e para outra autoconfiante. A última polêmica foi justamente com o lançamento de Tenet (2020). Assim como todo mundo, o seu lançamento foi prejudicado devido à pandemia causada pelo Coronavírus e ficou um lança ou não lança sem fim. Em seus discursos e entrevistas o diretor costumava a chamar o lançamento do longa como a volta do público aos cinemas. O que aconteceu de o filme ser lançado, mas, como já era de se esperar, não houve uma procura tão grande do público como Nolan esperava. Como dizem os mais jovens, deu uma certa flopada.
Bom, junto com esse debate de se Nolan é um bom diretor ou somente superestimado, surge também, mais uma vez antes do lançamento do filme, especulações sobre o que este se trata. No caso de Tenet, muito foi falado de que ele poderia ser uma continuação de A Origem (2010) em que toda a trama ocorre no mundo dos sonhos com distorções da realidade. Mas, não era nada disso. Tenet se passa no “mundo real” e explora a ideia de observarmos dois tempos diferentes. Como se víssemos acontecimentos na ordem cronológica, como armas disparando tiros, ao mesmo tempo que balas percorrem o caminho inverso saindo dos objetos atingidos e entrando dentro de suas armas.
É um cenário maravilhoso, no sentido do fantástico, mas só. Esteticamente é impecável. É emocionante ver as cenas de ação em que as coisas percorrem duas direções contrárias. Carros capotando ao contrário e balas salvando pessoas ao invés de matá-las, mas é só. O “calcanhar de Aquiles” aqui foi faltar humanidade nos personagens. A impressão é que Nolan ficou tão envolvido em dar desculpas para nos impressionar visualmente, que esqueceu de dar humanidade para os personagens.
Bom, a fórmula básica é de um filme de espionagem, que é a classificação mais próxima que Tenet se encaixa, é fim do mundo, um vilão, herói tentando impedir a bomba de explodir e etc. Aliás, o vilão se encaixaria direitinho no universo do James Bond. É quase tão caricato quanto e isso não é elogio. O que falta de humanidade nos personagens é nos aproximar deles, fazer com que nos importemos com eles. Durante todo o filme clamamos para que os protagonistas, interpretados por John David Washington e Robert Pattinson, nos deem razões para nos interessarmos por eles e por que eles se empenham tanto para salvar uma donzela em perigo e consequentemente o mundo, mas nada. Nolan se contenta apenas com o fato deles serem os protagonistas e isso já ser motivo suficiente.
Até mesmo em outras ocasiões como em Interestelar (2014), que é um dos títulos ame ou odeie do diretor, foram inseridas situações e personagens para que a gente se interessasse pelo protagonista (por mais que surja um momento “explicando o amor” no meio) que dá mais humanidade ao protagonista afastando um pouco o foco do visual. Mas em Tenet, nem isso aconteceu. O que teve mesmo foi explicação sobre cada coisa que estava acontecendo bem diante dos nossos olhos e menos sobre as razões para torcer pelos personagens. Ele é o tipo de filme que quem é fã do trabalho do diretor, principalmente esses questionáveis por uma parcela do público, vai adorar. Mas para os demais, é apenas mais um filme do Nolan.