Parece que a Marvel entendeu que seu forte está no humor e tem focado nisso, com sucesso. Thor: Ragnarok é, muito possivelmente, um dos longas mais divertidos da franquia de super-heróis. Logo na primeira cena, Thor (Chris Hemsworth) faz piada com o fato de ter sido aprisionado por um monstro demoníaco. Embora esse não seja o verdadeiro vilão da história, a abertura do filme é apenas um gostinho de todo o entretenimento que está por vir.
Desta vez, a grande ameaça ao reino de Asgard é Hela (Cate Blanchett), a poderosa deusa da morte. Com a ajuda do “colega de trabalho” Hulk (Mark Ruffalo), da valente e alcoólatra Valkyrie (Tessa Thompson) e de seu relutante irmão – e eventualmente arqui-inimigo – Loki (Tom Hiddleston), Thor precisa escapar de um planeta dominado por um narcisista que se autodenomina Grandmaster (interpretado com irreverência por Jeff Goldblum) e impedir a destruição do mundo pela vilã.
Conhecida por elevar a qualidade de qualquer filme em que aparece (alguém se lembraria da mais recente versão de Cinderela, se não fosse pela madrasta?), Cate Blanchett dá a Hela uma personalidade implacável, mas sem se levar totalmente a sério. Aliás, todo o elenco parece extremamente à vontade para fazer graça – inclusive de si mesmos. O próprio Thor chama seu novo time de Revengers (algo como Vingativos, uma brincadeira com a palavra Avengers).
Certamente, um dos pontos fortes do filme é a inusitada amizade entre Thor e Hulk. Presos em um planeta caótico, os dois precisam superar as diferenças para escapar a tempo de salvar o mundo. Nesse sentido, a participação de Loki no plano de fuga (e sua quase reconciliação com o irmão) também é extremamente bem vinda. E se a aparição de Stan Lee desta vez não é tão marcante, a presença de Doctor Strange (Benedict Cumberbatch) e uma pontinha engraçadíssima de Matt Damon acabam compensando.
É esse bom humor e a coragem de brincar com clichês do gênero que fazem de Thor: Ragnarok um dos melhores longas da Marvel. O diretor Taika Waititi (que também faz uma participação dublando a simpática voz do monstro de pedra Korg) se inspirou em filmes de ação e de fantasia dos anos 80, explorando muitas cores e texturas nos cenários e figurinos, além de usar bem os efeitos especiais para criar os mais bizarros seres mitológicos com alguma dose de realismo.
Embora seja revigorante assistir a um filme da Marvel em que os dramas familiares (ou entre amigos, considerando que os Vingadores não conseguem passar um minuto sem conflitos entre si) não sejam o aspecto mais relevante da narrativa, alguns fãs podem sentir falta de uma carga emocional um pouco mais consistente. No entanto, a própria premissa de Thor é algo que se afasta da realidade dos outros super-heróis. Não se trata de pessoas comuns que adquirem superpoderes ou que tenham em mãos recursos para fazer coisas incríveis, como Peter Parker ou Tony Stark. O protagonista é literalmente um deus. Nesse caso, a antagonista precisa ser tão ou mais poderosa que o “senhor do trovão”, para ter algum peso na história.
Ainda que o desfecho vá em direção à épica cena de batalha, já esperada em blockbusters como esse, pelo menos a jornada até o inevitável destino é de pura diversão. Essa leveza pode deixar a impressão de que o filme é simplesmente algo superficial e não muito memorável, mas garante um bom passatempo para quem busca uma mistura ao mesmo tempo absurda e irresistível entre comédia, ação e fantasia.
Thor: Ragnarok
Ano: 2017
Direção: Taika Waititi
Roteiro: Eric Pearson, Craig Kyle, Christopher Yost
Elenco principal: Chris Hemsworth, Tom Hiddleston, Cate Blanchett, Tessa Thompson, Mark Ruffalo, Jeff Goldblum, Anthony Hopkins, Idris Elba
Gênero: Ação, Aventura, Comédia
Nacionalidade: Estados Unidos