“É normal. Todo mundo quer saber o segredo atrás das portas.” A frase, dita por Alexis (Félix Lefebvre), o protagonista do filme Verão de 85 (Été 85), mostra um pouco do caráter intimista dessa história quase nostálgica de um adolescente francês, descobrindo o amor (e a dor de sua perda) nos anos 1980.
Dirigido por François Ozon, o longa-metragem acompanha Alexis em um específico verão de sua adolescência, marcado pela morte de um grande amigo. Esse fato já é dado no início do filme, mas as circunstâncias que envolvem a tragédia ainda são desconhecidas para o espectador. É uma narrativa que se enquadraria facilmente no gênero coming of age (histórias de amadurecimento), que se tornou popular, principalmente no cinema norte-americano, com sucessos como Lady Bird, Boyhood e Quase Famosos.
A diferença, aqui, é que se trata de um cineasta francês e o amadurecimento do protagonista envolve a descoberta de sua homossexualidade. Aos poucos, o narrador, Alexis, vai revelando como um acidente de barco o levou a conhecer o fascinante David (Benjamin Voisin). O espírito destemido do rapaz, propenso a aproveitar a vida intensamente, acaba encantando Alexis, que aceita um emprego na loja da família dele.
Os dois se tornam namorados e, juntos, curtem um verão inesquecível. São momentos que significam muito, principalmente para o protagonista, um jovem ingênuo que está apenas começando a explorar sua sexualidade. Essa descoberta vem com toda a intensidade e impulsividade do primeiro amor, retratado com a leveza dos tons pastéis e das paisagens paradisíacas, sempre ensolaradas, do litoral da França.
Ao mesmo tempo, vamos descobrindo mais detalhes sobre os eventos que levaram à inicialmente misteriosa morte de David. Há também a promessa que Alexis fez ao namorado, de que o primeiro a morrer dançaria no túmulo do outro, um juramento que o jovem faz o possível para cumprir (independentemente das consequências).
O filme de Ozon remete ao frescor de outras narrativas semelhantes, como Me Chame Pelo Seu Nome. O roteiro, uma adaptação do próprio diretor para o romance Dance On My Grave, escrito por Aidan Chambers, não chega a surpreender – e talvez as motivações do personagem David pudessem ter sido melhor trabalhadas.
Mas, com sua ambientação saudosa de um período que se foi, o longa deve agradar especialmente à geração que cresceu e descobriu suas primeiras paixões na década de 1980. Embora fale sobre morte, não é uma história, de fato, trágica. O filme aborda, sobretudo, a sensação de deslocamento e confusão, mas ao mesmo tempo de euforia e doçura, que muitos de nós vivenciamos na juventude – como se cada momento fosse o último e o mais importante da vida.