Por Luciana Ramos

Yves Saint Laurent é cultuado como um dos maiores gênios da moda. Sua acentuada timidez camuflava um espirito inquietante e vanguardista que revolucionou a maneira das mulheres se vestirem com o lançamento do smoking feminino, vestidos gráficos inspirados em obras de arte e roupas extravagantes, contrastantes com o senso comum de elegância etérea da década de 1960. Ajudou, assim, a traçar novos rumos para a moda e o seu trabalho perpetua-se na visão de outros que buscam inspiração nas suas coleções.

A cinebiografia de um nome tão importante causou curiosidade e expectativa, mas também desconfiança do talento do seu diretor. Jalil Lespert, que esteve no Brasil para divulgação do seu longa durante o Festival Varilux de Cinema, enfrentou esses desafios e provou estar a altura, aliando maturidade visual com inovações na composição do roteiro.

O filme começa com o jovem Saint Laurent, de apenas 17 anos, sendo contratado para trabalhar na maison de Christian Dior e avança para o momento em que, quatro anos depois, assume a direção da mesma, após a morte do seu mentor. Apesar do reconhecimento da sua primeira coleção frente a marca, tem seu futuro interrompido quando é convocado para lutar pelo exército francês na Guerra da Independência da Argélia. É então diagnosticado com transtorno bipolar e internado em um hospital psiquiátrico.

Após sair, funda com o seu companheiro, o expert de moda e empreendedor nato Pierre Bergé, a sua própria marca. A partir daí, revoluciona completamente a moda não só pelos trajes diferenciados, como também pelo modo como são consumidos por ter sido um dos responsáveis pela popularização do prêt-à-porter.

O longa foge das convenções de outros do subgênero por não se preocupar em contar os mínimos detalhes da vida do seu protagonista. Ao contrário. A fim de caracterizar o homem de maneira realista e pouco caricata, a trama utiliza-se de grandes saltos temporais e ocasionais narrações em off do idoso Pierre Bergé.

Assim, são mostrados apenas os momentos decisivos da carreira e da vida pessoal, que juntos conferem a sua genialidade artística e sensibilidade humana: a sua união e felicidade com Bergé, as influências das paisagens e cores de Marrakesh em coleções, problemas com drogas, fragilidade mental em decorrência da falta de controle da sua doença, a posterior separação amorosa do seu parceiro de negócios e sua aclamação como um dos maiores nomes da moda.

Vemos, portanto, o apanhado geral da vida de um homem talentoso, mas conflituoso como qualquer outro. No entanto, este recurso dramático tem suas armadilhas e algumas passagens da sua vida não são bem esclarecidas.

Esses pequenos deslizes em nada diminuem a excelência do trabalho de Lespert. Ele concede refinamento visual através das sutis e lentas movimentações de câmera, presentes em todas as cenas. O controle do enquadramento é notável. Aliás, a fotografia como um todo é belíssima e constitui um dos pontos altos do filme. Além disso, a curiosa escolha em usar a fusão de cenas como recurso estilístico faz-se valer pelo resultado orgânico e fluido.

Outro destaque fica por conta da trilha sonora, que vai do jazz fusion ao rock para acompanhar o contexto social da época retratada. Não por acaso, uma ópera cantada por Maria Callas é escolhida para fechar o filme. Durante um desfile, as criações de Saint Laurent são niveladas a música erudita, considerada uma criação artística superior.

Talvez o mais impressionante fique por conta da extrema semelhança física do ator Pierre Niney com Saint Laurent. Fora isso, o equilíbrio com que alterna a timidez extrema e os rompantes de raiva é excepcional. Um grande trabalho, de fato, sustentado pelo também excelente ator Guillaume Gallienne, que confere todo o afeto, lealdade e vulnerabilidade do companheiro mais fiel do estilista.

Yves Saint Laurent recebeu como selo de qualidade a aprovação de Pierre Bergé, que desprezou uma outra biografia ainda em produção com os astros franceses Louis Garrel e Gaspard Ulliel. Não era para menos, já que retrata com sensibilidade e requinte a vida de um dos grandes expoentes da moda. Ademais, é eficiente no seu propósito de agradar lados opostos: os que gostam de moda vão se deliciar com as recriações dos modelos do estilista; os que não são fãs, poderão apreciar uma ótima história de vida.

 

Cinemascope-Yves -Saint- Laurent (7)Yves Saint Laurent

Ano: 2014

Diretor: Jalil Lespert

Roteiro: Laurence Benaïm, Jacques Fieschi, Jérémie Guez, Marie-Pierre Huster, Jalil Lespert.

Elenco Principal: Pierre Niney, Guillaume Gallienne, Charlotte Le Bon, Laura Smet

Gênero: biografia, drama

Nacionalidade: França

 

 

 

 

 

Trailer:

 

 

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