Se tornar um artista não quer dizer simplesmente aprender alguma coisa, adquirindo técnicas e métodos profissionais. Como alguém já disse, para escrever bem é preciso esquecer a gramática. – Andrei Tarkovsky

 

A primeira vez que os letreiros sobem com o nome de Andrei Tarkovsky na direção é em um filme da faculdade. 

Os Assassinos foi co-dirigido com outros dois colegas de turma, Marika Beiku e Aleksandr Gordon, e é baseado em uma história de Ernest Hemingway. 

Por se tratar de um curta feito ainda na faculdade, é possível compreender alguns deslizes – mas nem todos. O conto de Hemingway fala de dois assassinos aparentemente inescrupulosos e extremamente racistas que estão atrás de Ole Andreson e esperam por ele no bar onde o mesmo costuma jantar todos os dias pontualmente às seis da tarde. George, o dono do bar, recebe os assassinos Al e Max enquanto Nick Adams está sentado no balcão. 

A tensão se desenvolve sem pressa, com alguns gestos e falas que vão trazendo à tona a sensação de perigo. Mas o que já é possível notar no trabalho do diretor é a construção de planos muito bem esquematizados para despertare no público um tipo específico de sentimento.

O filme falha na apresentação do cozinheiro, que é negro, e sem achar um estudante para interpreta-lo eles recorrem ao blackface. E aqui pode-se dizer que era um efeito da época e que o filme deve ser julgado de acordo – mas a realidade é que aqui, em 1956, se a vontade era deixar claro que os assassinos eram pessoas más, só e simplesmente, existiam outras maneiras de fazê-lo.

O que também já podemos perceber é como os diretores utilizam o tempo como  parte integral da história, se tornando mais um personagem. Os fregueses que chegam e são mandados embora, a tensão de agir normalmente diante de uma situação anormal, tudo isso é evidenciado na cadência do tempo das cenas, sem pressa alguma mas com uma urgência gigantesca.

Os Assassinos se perde no final, de repente percebemos que os assassinos eram muito mais interessantes do que o homem que eles pretendiam matar e o próprio Nick Adams – que é tocado pelos eventos da história e decide então mudar de vida e sair da cidade.

Mesmo perdendo força, é possível ver um lampejo de Tarkovsky, o  homem que iria se tornar o poeta da imagem e escultor do tempo.

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