Por Felipe Mendes
O Pagador de Promessas em 1963; O Quatrilho em 1996; O Que É Isso, Companheiro? em 1998 e, por último, Central do Brasil em 1999. Nestas quatro oportunidades, o Brasil esteve mais próximo de conquistar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Mas para um longa-metragem brasileiro ingressar novamente na disputa pela estatueta mais cobiçada do cinema, existe um grande caminho a ser percorrido. A primeira etapa desta jornada se findará nesta segunda-feira (12), às 14h (horário de Brasília), quando a Comissão Especial escolhida pela Secretaria do Audiovisual (SAv) divulgará o representante do país para a fase internacional da competição.
O filme selecionado não garantirá a presença na próxima edição do Oscar, muito longe disso. O representante nacional ainda percorrerá outras duas etapas para receber o parecer definitivo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela premiação. Entre outubro e dezembro, a comissão internacional escolherá as melhores produções (segundo um ponto de vista “americano”) dos países postulantes à categoria em uma shortlist, geralmente com nove títulos, para a última fase antes da cerimônia. Apesar de não concorrer a Melhor Filme Estrangeiro desde 1999, com Central do Brasil, o país segue marcando presença em diversas categorias; assim como O Menino e o Mundo, indicado a Melhor Animação, em 2016.
Neste ano, o Ministério da Cultura (MinC) recebeu 17 pré-inscrições ao prêmio hollywoodiano, quase o dobro em comparação ao ano anterior; uma demonstração do bom momento no cenário audiovisual brasileiro. O contingente divulgado poderia ser mais vasto se não fossem as rejeições de três dos maiores aclamados de crítica do cinema nacional em 2016: Boi Neon, de Gabriel Mascaro; Mãe Só Há Uma, de Anna Muylaert e Para Minha Amada Morta, de Aly Muritiba. As equipes destes filmes recusaram a disputa em apoio ao longa Aquarius, de Kléber Mendonça Filho, que passou a ser perseguido por parte do público e da crítica conservadora devido ao protesto político realizado no Festival de Cannes, em maio, contra o processo de Impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Um dos exemplos da perseguição é o jornalista Reinaldo Azevedo, da Veja, que acusou o elenco de Aquarius de realizar uma “ação orquestrada por petistas”. Além de insultar abertamente o diretor Kléber Mendonça Filho e a atriz Sônia Braga desferindo palavras como “bobalhões”, Azevedo ainda indicou que “pessoas de bem” teriam o dever de boicotar a obra. Porém, o motivo da recusa por parte dos principais candidatos a representar o Brasil no Oscar deve-se, especificamente, ao crítico Marcos Petrucelli, da rádio CBN e fundador do portal E-Pipoca. O comentarista atacou veementemente o longa em diversos canais, colocando em xeque a credibilidade da Comissão Especial que escolherá o representante brasileiro para a disputa do Oscar. Após o caso, o MinC divulgou nota em apoio ao membro:
“O Ministério da Cultura, por meio da Secretaria do Audiovisual, reitera sua confiança na comissão de seleção do filme representante do Brasil no Oscar, bem como na isenção do processo de escolha. A comissão é formada por nomes de reconhecida reputação e conhecimento técnico, que passaram, inclusive, pelo crivo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
Destaca-se que a seleção do filme representante será feita à margem de critérios de natureza política, sendo inócua a criação de ambiente de pressão ou constrangimento com vistas a favorecer ou prejudicar qualquer produção. Passada a etapa de seleção, o Ministério estará engajado na torcida para que nosso filme figure entre os cinco finalistas.”
Após a manutenção de Petrucelli pelo Ministério da Cultura, diretores como Anna Muylaert e Gabriel Mascaro optaram por não ingressar na disputa em solidariedade a Aquarius, além de questionarem a imparcialidade da comissão julgadora. A credibilidade do MinC foi indagada novamente quando o cineasta e jornalista Guilherme Fiúza Zenha, alegando motivos pessoais, e a atriz Ingra Lyberato, em tom de desabafo, decidiram não participar da escolha. Em uma tentativa de recuperar a imagem e amenizar as críticas, os membros foram substituídos por consagrados nomes da sétima arte brasileira como Bruno Barreto, diretor do clássico Dona Flor e Seus Dois Maridos e do selecionado ao Oscar O Que É Isso, Companheiro?, e Carla Camurati, diretora do importante Carlota Joaquina, Princesa do Brasil.
Dentre os filmes pré-inscritos, Aquarius é o maior cotado brasileiro à disputa. Após concorrer à Palma de Ouro, principal prêmio do Festival de Cannes, o longa recebeu diversos elogios da crítica internacional. Com toques inspirados em renomados mestres do suspense como Alfred Hitchcock e Roman Polanski, Kléber Mendonça Filho é tido como um dos principais cineastas da nova geração mundial. Aparentemente, o cargo de algoz na competição interna ficará por conta de Pequeno Segredo, de David Schurmann. O filme, único da lista que ainda não estreou em solo nacional, reconstrói a história de Helena e Vilfredo, pais do diretor, ao adotarem uma garota portadora do vírus HIV. Além das produções de ficção, os documentários O Começo da Vida, de Estela Renner e Menino 23: Infâncias Perdidas no Brasil, de Belisario França, também marcam presença na corrida para representar o Brasil na categoria.
A lista, divulgada originalmente com 17 filmes, obteve uma baixa após A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de Vinicius Coimbra, ser inabilitado por não ter estreado comercialmente dentro do período exigido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
O Cinemascope apresenta os candidatos na corrida:
– O Favorito
Aquarius, de Kléber Mendonça Filho
– O “Antagonista”
Pequeno Segredo, de David Schurmann
– Candidatos a desbancar os favoritos
Mais Forte Que o Mundo – A História de José Aldo, de Afonso Poyart
Nise – O Coração da Loucura, de Roberto Berliner
O Começo da Vida, de Estela Renner
– Filmes com histórias a serem destacadas
Menino 23: Infâncias Perdidas no Brasil, de Belisario Franca
Campo Grande, de Sandra Kogut
Chatô – O Rei do Brasil, de Guilherme Fontes
O Outro Lado do Paraíso, de André Ristum
– Candidatos a surpresa
A Bruta Flor do Querer, de Andradina Azevedo e Dida Andrade
A Despedida, de Marcelo Galvão
Até que a Casa Caia, de Mauro Giuntini
O Roubo da Taça, de Caito Ortiz
Tudo que Aprendemos Juntos, de Sérgio Machado
Uma Loucura de Mulher, de Marcus Ligocki Júnior
Vidas Partidas, de Marcos Schetchman