Por Felipe Haurelhuk
Está decidido o filme que representará o Brasil na tentativa de um lugar entre os cinco indicados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas na categoria Melhor Filme Em Língua Estrangeira no Oscar 2019: O Grande Circo Místico, de Cacá Diegues. O anúncio foi feito na tarde desta terça-feira, 11, na sede da Cinemateca Brasileira em São Paulo. Fizeram parte da comissão organizada pela Academia Brasileira de Cinema a atriz Bárbara Paz, os diretores Katia Adler, Hsu Chien Hsin, Flavio Ramos Tambellini e Jeferson De e a produtora Claudia da Natividade. A presidência da comissão foi da produtora Lucy Barreto.
A escolha da comissão foi justificada principalmente pela “poesia” do filme em um momento de grande conturbação nacional e internacional. O próprio cineasta, em entrevista recente, destacou seu desejo de construir uma obra de fantasia, com beleza “também na forma”, afastando-se um pouco do naturalismo. O enredo do filme, que deve ser exibido comercialmente ainda em Setembro a fim de cumprir com as exigências de elegibilidade da Academia, é a adaptação de um poema do alagoano Jorge de Lima sobre a trajetória de uma família circense e seus conflitos ao longo de gerações. O longa já tinha sido exibido no Festival de Gramado e também em Cannes.
Esta é a sétima vez que um filme do cineasta é escolhido para representar do Brasil. Antes disso, Xica da Silva, Bye Bye Brasil, Um Trem Para As Estrelas, Dias Melhores Virão, Tieta do Agreste e Orfeu já haviam sido escolhidos pelo país e fazem do cineasta o líder isolado nesse aspecto. Questionados pelos jornalistas, os membros da comissão negaram qualquer influência do fato na decisão final.
O caminho até a 91ª cerimônia do Oscar, entretanto, segue longo e atribulado. Mesmo que conte com um aporte do governo federal para trabalhar a promoção do filme no exterior, as avaliações internacionais (especialmente no período do festival francês) mostraram-se bastante frágeis. Tampouco a produção foi capaz de empolgar a ponto de conquistar um prêmio expressivo no circuito internacional de mostras e festivais, o que o coloca em desvantagem na disputa. É bem verdade que entre a lista de 22 postulantes não havia nenhuma aposta flagrantemente estratégica como Aquarius, que foi erroneamente preterido há dois anos pela comissão. Mas Benzinho, de Gustavo Pizzi, foi vencedor de prêmios em Málaga e esteve na lista final de escolhas do último Festival de Sundance, um dos maiores do planeta. Ferrugem, de Aly Muritiba, idem. As Boas Maneiras, de Marco Dutra e Julaina Rojas, já acumula mais de duas dezenas de prêmios internacionais e críticas positivas em veículos de imprensa influentes como o New York Times.
Mais uma vez a escolha da comissão parece ignorar o conjunto de atributos que credenciam um filme à categoria ao indicar um título de alto valor de produção, mas praticamente sem competitividade real. Em um ano de títulos como Guerra Fria, vencedor da Palma de Ouro, e Roma, ovacionado em Veneza, infelizmente a pretensão brasileira de retornar à disputa da categoria após mais de duas décadas parece (outra vez) uma fantasia.