Por Felipe Mendes
Embora o Ministério da Cultura (MinC) e a Agência Nacional do Cinema (Ancine) admitam publicamente que o Oscar não é uma das prioridades do setor audiovisual brasileiro, é indubitável a obsessão em torno desse prêmio que incendeia o imaginário de diversos profissionais dessa área. Indicado quatro vezes à categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira, o Brasil nunca conseguiu trazer a cobiçada estatueta para casa – o País não recebe sequer uma indicação desde 1999, quando Central do Brasil, de Walter Salles, esteve na disputa. Recentemente, o MinC divulgou a lista das 23 produções brasileiras que visam romper com esse paradigma. O escolhido para prosseguir a jornada será revelado no próximo dia 15.
Se no ano passado a Comissão Especial escolhida pela Secretaria do Audiovisual (SAv) causou polêmica ao eleger Pequeno Segredo, de David Schurmann – que não havia estreado no circuito comercial à época – como representante nacional, a despeito do favorito e aclamado Aquarius, de Kléber Mendonça Filho, o objetivo este ano é evitar a discórdia. Para isso, o MinC, sob comando de Sérgio Sá Leitão, repassou o papel de árbitro da disputa para a Academia Brasileira de Cinema (ABC) em agosto deste ano. A entidade não-governamental, que participava discretamente do júri, agora administra a totalidade do processo.
Neste ano, o número de produções pré-inscritas e interessadas no cargo de representante nacional subiu mais uma vez. Após 16 filmes almejarem o posto em 2016 – contingente impactado pela desistência de três diretores, em adesão ao manifesto político de Aquarius, e devido à eliminação de um dos candidatos –, esse número avançou para 23 títulos este ano. O novo recorde na quantidade de pré-inscritos se dá em um momento em que o MinC facilitou o processo seletivo, tornando-o totalmente eletrônico – dispensando a tramitação de papeis e mídias via Correios, como outrora.
Dentre os 23 pré-selecionados, dois títulos se destacam: Como Nossos Pais, de Laís Bodansky, e O Filme da Minha Vida, de Selton Mello. Respaldado pela enorme aceitação de público e crítica no recente 45° Festival de Cinema de Gramado – onde conquistou seis Kikitos, incluindo o prêmio principal, de Melhor Longa Brasileiro –, Como Nossos Pais desponta como um dos principais candidatos a representar o País no Oscar. Já o filme de Selton Mello conta com elementos cruciais para atrair a Comissão: uma ótima fotografia; trilha sonora universal; a participação do estrelado ator francês Vincent Cassel no elenco; e o fato de Selton Mello ser um nome acima de suspeitas no audiovisual brasileiro – tendo sido, inclusive, escolhido para representar o Brasil na fase internacional para o Oscar de 2013, com seu O Palhaço. A desvantagem, no entanto, fica restrita às falhas do roteiro, que originou uma história mal desenvolvida.
Após serem selecionados festivais mundo afora, Gabriel e a Montanha, de Fellipe Barbosa, Joaquim, de Marcelo Gomes, e Vazante, de Daniela Thomas, surgem como opções de filmes já reconhecidos internacionalmente. Contra Gabriel…, aclamado no Festival de Cannes este ano, pesa o fato da trama eximir-se do uso da língua portuguesa. Já aos outros dois, ambos selecionados no 67° Festival de Berlim, pesam as críticas sociais de tempos de colonização portuguesa no Brasil. Vazante, primeiro trabalho solo de Daniela na direção, é tido como o candidato mais próximo, embora improvável, de repetir a façanha insólita de Pequeno Segredo, e ser indicado antes mesmo de sua estreia em circuito nacional.
Contudo, se o objetivo é evitar a discórdia, acredita-se que o júri composto pela ABC talvez escolha alguma produção com maior apelo público. Lançado recentemente, Bingo: O Rei das Manhãs, de Daniel Rezende, é uma aposta certeira nesse grupo. Ambientado nos anos 80, o filme segue a típica jornada do herói, a partir da ascensão e da queda de um dos personagens de maior representatividade para a televisão brasileira na época. Apesar de ser o primeiro longa assinado por Rezende, o fato dele já ter sido premiado pela edição de Cidade de Deus no Oscar de 2004 pode ser preponderante para sua escolha. Outras produções bem aceitas por parte do público, Elis, de Hugo Prata, e João, O Maestro, de Mauro Lima, também estão bem cotadas na disputa. O representante nacional, que será conhecido no próximo dia 15, ainda terá uma longa jornada a trilhar rumo ao Oscar. A seguir, separamos todos os selecionados pelas seguintes categorias: favoritos; populares; exploradores; vale a pipoca e coadjuvantes. Resta saber qual história o Brasil vai querer contar ao mundo desta vez.
Os favoritos
Os populares
Os exploradores
Vale a pipoca
Os coadjuvantes