Por Sttela Vasco
Já é mais do que sabido no mundo do cinema que histórias reais podem dar ótimos filmes. Os mais históricos tentam reproduzir épocas e costumes, levando-nos a saber um pouco mais como era a vida em outros tempos. As cinebiografias, por sua vez, nos levam à intimidade e à rotina de alguém que, a sua maneira, marcou a história. Bastidores, escândalos, romances. Tudo – ou quase tudo – é exposto ao espectador.
Nem todas são fieis e muitas cometem erros – ou excluem parte da vida do retratado -, mas boa parte delas nos ajudam a conhecer melhor figuras que, no geral, parecem inalcançáveis. Há quem dirija sua própria cinebiografia e quem morreu muito antes de alguém pensar em fazê-la, as opções são variadas. Músicos, políticos, ativistas, cineastas. O número de figuras retratadas é imenso e foi quase impossível escolher as seis que eu prefiro (particularmente, doeu deixar obras como Piaf – Um Hino ao Amor ou Hitchcock e tantas outras de fora).
Neste #5+1, você confere quais eu acredito que se destacaram. Vem conferir!
Johnny e June (Walk the Line – 2006)
A história do “homem de preto”, como Johnny Cash ficou conhecido, e o grande amor de sua vida, June Carter, é lindamente retratada no longa de James Mangold. O público vivencia desde a infância de Johnny até o auge do seu sucesso, passando pela trágica perda de seu irmão mais velho, seus vícios, dificuldades e, claro, o casamento com June.
Escolhidos pelos próprios Johnny e June, Joaquin Phoenix e Reese Whiterspoon sofreram rejeições por parte de alguns fãs, mas é preciso admitir a atuação impecável e a dedicação da dupla. Ambos interpretaram as músicas do famoso casal e Joaquin chegou a cantar em cena além de ter aulas de violão. Uma curiosidade: o título original, Walk the Line, faz referência a uma das músicas mais conhecidas de Cash, algo que se perde com a adaptação para o português. O casal não chegou a ver o resultado da obra. June morreu logo após o fim das filmagens e, quatro meses depois, Johnny faleceu. O longa levou o Oscar de melhor atriz para Reese em 2006.
Escute o nosso podcast sobre a maravilhosa trilha sonora do filme AQUI.
Chaplin (1992)
Robert Downey Jr. teve a difícil missão de interpretar um dos maiores gênios do cinema nessa cinebiografia dirigida por Richard Attenborough, mas conseguiu executá-la com perfeição. A vida de Charles Chaplin, de sua infância ao recebimento de seu Oscar honorário em 1972, é retratada de maneira brilhante pelo até então jovem ator. Downey Jr. conseguiu imprimir todos os trejeitos e expressões conhecidas do intérprete de Carlitos – os momentos, aliás, em que Robert está caracterizado como o vagabundo são uma prova do talento do ator, que chegou a concorrer ao Oscar 1993 por esse papel, mas perdeu para Al Pacino.
A fotografia do longa também impressiona, além de conseguir retratar com bastante fidelidade a vida de uma das maiores figuras da história do cinema. A autobiografia de Chaplin foi utilizada como base para o filme e serviu ainda como fio condutor do roteiro. Geraldine Chaplin, filha de Charlie, participou da obra interpretando sua própria avó.
Conheça o nosso especial Chaplin AQUI.
Milk – A Voz da Igualdade (Milk- 2009)
A história de Harvey Milk, o primeiro homossexual assumido a alcançar um cargo público de importância nos EUA – ele foi eleito Supervisor da cidade de São Francisco em 1977 – é brilhantemente interpretada por Sean Penn nessa obra de Gus Van Sant. O diretor esperou anos para poder dar vida à história de Milk, mas, quando conseguiu, fez com perfeição. Gus buscou colocar tanta verossimilhança em seu longa, que o apartamento onde Milk viveu foi utilizado durante as filmagens.
Milk faturou o Oscar de melhor ator para Sean Penn e melhor roteiro original em 2009.
Ray (2004)
Muitos duvidaram quando Jamie Foxx foi escolhido para viver a grande estrela do jazz e R&B, Ray Charles. Porém, Taylor Hackford foi sábio em sua escolha e trouxe ao público uma história envolvente, comovente e muito bem costurada. Ray conta a vida do astro desde seu nascimento até a sua morte – citada nos créditos – passando pelos momentos mais críticos vividos pelo cantor, como a perda do irmão mais novo, a cegueira repentina, o preconceito e seu envolvimento com as drogas. Foxx surpreende por sua habilidade tanto para a interpretação quanto vocal – assim como Joaquin Phoenix em Johhny e June, ele cantou e tocou o piano em todas as músicas que interpreta no filme. O ator chegou a usar lentes especiais durante 14 horas seguidas durante a atuação para poder sentir como é ser cego.
A obra é imageticamente atraente: boas locações, boa iluminação e ótima fotografia. Porém, o grande trunfo são as canções e a própria história de Ray. Não à toa, o filme levou o Oscar de melhor ator para Jamie Foxx e melhor mixagem de som em 2005.
Mandela (Mandela: Long Walk to Freedom- 2013)
Muito comentada internacionalmente – e vergonhosamente ignorada no Brasil – essa cinebiografia de Nelson Mandela se difere das outras por se aprofundar mais não apenas na história, mas na personalidade do presidente da África do Sul morto no ano passado. Tal característica talvez venha do fato de que o longa de Justin Chadwick foi baseado na autobiografia do próprio Mandela. Idris Elba deu um tom ainda mais humano ao revolucionário sul africano e a narrativa aproxima o espectador do ser humano Nelson Mandela, sem apenas se focar na grande figura política social que ele foi.
Foi indicado ao Oscar 2014 na categoria de melhor canção original por Ordinary Love, do U2 (uma grande trilha sonora digna de Mandela, na minha opinião).
E a cinebiografia além dos clichês é…
O Aviador (The Aviator – 2004)
Impecável definiria bem essa obra do metre Martin Scorsese. Ela mostra também como a dupla Scorsese e Leonardo DiCaprio – amplamente comentados no Oscar deste ano por conta de O Lobo de Wall Street – funciona brilhantemente. O longa narra a história de Howard Hughes, um jovem de 18 anos que fica milionário graças à herança que seu pai deixou. Grande conhecido no cinema norteamericano – Howard trabalhava com cinema, onde também se destacou, e se envolveu com atrizes como Katharine Hepburn – a história do jovem surpreende pelo seu amor à outra arte: a aviação.
Não é necessário comentar o capricho com que Scorsese conduz a obra. Há cenas no longa que simplesmente tiram o fôlego do espectador por sua beleza e composição. A atuação de DiCaprio – indicado ao Oscar 2005 na categoria de melhor ator – é impressionante. Destaco aqui a forma como ele transmite as sensações emoções de Hughes apenas pelo olhar.
Apesar de não conquistar o de melhor ator, O Aviador faturou cinco Oscar: o de melhor atriz coadjuvante para Cate Blanchett – que interpretou Hepburn -, melhor edição, melhor fotografia, melhor direção de arte e melhor figurino.