Nascido na região de La Mancha, no interior da Espanha, Pedro Almodóvar é considerado o diretor espanhol com a melhor projeção internacional desde Luis Buñuel. Almodóvar viveu a infância e parte da juventude sob o regime franquista, em uma sociedade reprimida e censurada.

Em 1968, ao chegar em Madrid, o espanhol mergulhou no mundo do cinema e tornou-se um autodidata. A morte do ditador coincidiu com o lançamento do seu primeiro filme: Pepi, Luci, bom e outras garotas de montão (1980).

Profundamente influenciado pela Movida Madrileña, iniciativa de efervescência cultural que buscava trazer novos ares para a Espanha, Almodóvar utilizou seu cinema para libertar todas as frustrações e desejos reprimidos da sociedade, que por quatro décadas sobreviveu à uma ditadura.

Sua obra conta hoje com mais de 20 filmes incluindo os sucessos Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos (1988), Tudo Sobre Minha Mãe (1999), Fale Com ela (2001), Volver (2006), A Pele que Habito (2011) e o recente Dor e Glória (2019).

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Sexo e excentricidade transgressora

No cinema de Almodóvar o desejo determina tudo. Como resposta aos anos de repressão, seus filmes possuem grande diversidade sexual. Para o diretor, a sexualidade e o prazer são libertadores, enquanto a virgindade, tão valorizada pelo catolicismo franquista, é motivo de riso.

Seus filmes também apresentam vários componentes de transgressão. O mundo cinematográfico do espanhol não pretende criar um efeito de realidade, nem mesmo ilusório. Ao contrário, seus filmes concedem ao espectador a chance de conhecer e rever conceitos e posições.

Tais absurdos são mais frequentes no início da sua carreira em filmes como Maus Hábitos (1983), O que eu fiz para merecer isto?, A Lei do Desejo e Ata-me. Nestes longas, o toque almodovariano vende excentricidades como algo natural, assim como fazia Buñuel.

Neste vídeo você confere algumas dessas bizarrices:

Pedro Almodóvar e a subversão dos gêneros

Muito influenciado pelo cinema hollywoodiano, Pedro Almodóvar trabalha gêneros clássicos como o melodrama, o thriller, o film noir e a comédia. Contudo, não espere ver em seus filmes as características tradicionais destas categorias.

O diretor gosta de subverter os gêneros, misturá-los e exagerá-los. Almodóvar se utiliza de tais divisões para dobrá-las à sua marca particular, colocando personagens em situações inusitadas que produzem diversão e reflexão, além de realizar a desconstrução do modelo frente ao espectador.

 

Pedro Almodóvar

Pedro Almodóvar e Elena Anaya no set de A Pele que Habito

Peguemos como exemplo o melodrama: o gênero teve seu auge entre as décadas de 1930 e 1960 e revolve principalmente em questões femininas, conflitos morais, mudanças de rumo na trama, encontros casuais, segredos e nós que precisam ser desatados.

No melodrama tradicional, a decoração, o figurino e as cores simbolizavam de maneira velada os sentimentos sexuais que não podiam ser mostrados abertamente em tela, por conta do Código Hays. Apesar dos filmes do diretor espanhol não terem essa censura, ele mantém uma rica construção da mise-en-scène para refletir ainda mais os sentimentos e emoções de seus indivíduos.

Cinema metalinguístico

Apaixonado pela arte do cinema desde criança, Almodóvar costuma inserir em seus filmes elementos metalinguísticos: por vezes vemos estúdios de gravação, como em Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos e Ata-me, ou personagens que trabalham na indústria do cinema, como em A Lei do Desejo (1987) e Dor e Glória. Também é comum as pessoas assistirem a filmes, como em Tudo Sobre Minha Mãe e Fale com Ela.

Dessa forma, os personagens veem no cinema (ou na TV, outro meio de comunicação muito frequente em seus filmes), situações semelhantes às que estão vivendo. Eles podem ainda se inspirar nos filmes (ou nas peças de teatro) para realizar ações ou tomar decisões em suas vidas.

O filme pode estar em cartaz, ser exibido na TV ou mesmo apenas um objeto de uma conversa entre os personagens, mas está sempre lá. Desde a concepção até o lançamento, o cinema dentro do cinema é uma parte integrante dos filmes de Pedro Almodóvar.

Pedro Almodóvar

O filme dentro do filme em Fale com Ela (2001)

Pedro Almodóvar: autoria permanente

Em entrevista à revista Vulture, Almodóvar revelou que nunca trabalharia em Hollywood. O diretor afirma precisar de liberdade para criar e na indústria americana este é um produto escasso. “Não é apenas uma questão de poder, mas aqui [em Hollywood], existem muitas vozes que possuem opiniões ao longo do processo [de produção] e eu não acho que poderia trabalhar desta forma” afirmou.

Tal maturidade do cineasta revela ainda um de seus traços indissociáveis: o desejo por uma permanente autoria transgressora. Almodóvar precisa de liberdade para ser Almodóvar. O diretor hoje ocupa um lugar disputado por muitos: as boas graças tanto do público quando da crítica. Isso só foi possível graças à sua ousadia para colocar em tela o improvável e o inesperado como se fossem realidade, transformando seus filmes em obras deliciosamente inusitadas.

Para saber mais sobre o cinema de Pedro Almodóvar confira o nosso especial no Instagram.

 

Pedro Almodóvar gravando

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