A premissa é simples: mostrar as tensões, raciais e de poder, durante a gravação de um disco.
Viola Davis é Ma Rainey, considerada a mãe do blues, uma mulher forte e assertiva que é facilmente rotulada como “diva”. Chadwick Boseman, no seu último papel nas telas, é Levee, um jovem e talentoso trompetista que quer trilhar seu próprio caminho.
A história se passa em uma tarde quente de Chicago num estúdio de gravação, Levee faz parte da banda que acompanha Ma Rainey nos shows mas ele já está tentando seguir sua carreira solo, apresentando músicas ao dono do estúdio e desafiando a autoridade da cantora.
O filme é uma adaptação para o cinema da peça de 1984 com o mesmo nome escrita por August Wilson, e como toda reimaginação cinematográfica o longa tenta se desvincular ao máximo da obra teatral, às vezes tendo sucesso e às vezes não.
Os acertos e a força da obra se encontram justamente nas atuações potentes que renderam indicações ao Globo de Ouro de 2021 para Davis e Boseman. Ambos brilham com alguns monólogos impactantes, mas por vezes o roteiro não se deixa ir ao máximo do seu potencial. E aí estão as falhas.
Ao tentar abarcar muitas questões ao mesmo tempo, trazendo à tona uma indústria musical extremamente racista, misógina e machista, o filme não se aprofunda em nenhuma dessas questões. Ele as expõe, ele deixa extremamente claro com o que estamos lidando, seja pela maneira que Rainey é tratada quando cara a cara com o dono da gravadora e como este se refere a ela na cabine com seu funcionário, pela maneira como Levee e Rainey se comunicam e se enfrentam, e até mesmo pelas falsas esperanças que o dono da gravadora embute no jovem músico.
Todas as tensões e conflitos estão ali, mas eles nunca são explorados na sua totalidade, se mantendo aos discursos dos personagens com cenas longas e, às vezes, cansativas.
O longa não tenta ser uma biografia da excelente cantora que foi Ma Rainey, mas sim usá-la como parte de um recorte para dialogar com um período que teoricamente não existe mais.
Por mais que o resultado final não seja tão arrebatador quanto era esperado, A Voz Suprema do Blues levanta discussões que são importantes ainda hoje e nos deixa um registro magnífico do grande ator que foi Chadwick Boseman.