Por Sttela Vasco

Poesia em forma de filme. Talvez essa seja a melhor descrição para Amor Pleno (To the Wonder), a mais recente obra de Terrence Malick, bastante aclamado recentemente graças ao seu filosófico e questionador A árvore da Vida. Talvez por carregar o peso de chocar e surpreender tanto quanto seu antecessor, Amor Pleno pode ser recebido com menos entusiasmo por alguns espectadores. Porém, se engana quem pensa que Malick “perdeu a mão”. Com um tema aparentemente mais suave, o filme nos leva a uma série de questionamentos sobre os relacionamentos – sejam eles românticos ou não – e o amor em si, e como estes alteram os seres humanos.

O longa conta a história de Neil (Ben Affleck) e Marina (Olga Kurylenko), um casal que se conhece em Paris e inicia uma intensa, porém instável relação amorosa. Entre o auge do relacionamento, um casamento e sua decadência, Neil reencontra sua antiga paixão, Jane (Rachel McAdams), com quem volta a questionar o amor e a forma com que ele próprio e essas mulheres lidam com o sentimento. Ao mesmo tempo em que o triângulo central avalia os impactos de tais relacionamentos sobre suas vidas, somos apresentados ao Padre Quintana (Javier Bardem) que está em dúvidas sobre suas crenças e vocação, mostrando que não apenas o amor romântico passa por etapas e crises, mas toda e qualquer relação humana.

Marina e Neil passam por todas as etapas de um relacionamento – paixão, euforia, obrigação, rotina, traição, indecisão – e é possível ver as mudanças provocadas em cada um ao longo dessas fases. O filme se desenrola justamente durante elas, levando o espectador a vivenciá-las através do longa em si. Por meio da história do casal central é possível perceber como os outros personagens são afetados por tais “fases”. Vividas em qualquer relação que se dê, seja entre um ser humano com o outro – o que é exposto através do triângulo composto por Affleck, Kurylenko e McAdams – ou o ser humano com suas próprias crenças, visto através do Padre Quintana, elas estão presentes na evolução pessoal de cada uma dessas pessoas. As questões que embalam a narrativa giram em torno da necessidade ou não de o amor ser eterno e se esse, ao se transformar, pode trazer mais pesares do que alegrias aos envolvidos.

Vencedor do Oscar de melhor filme por Argo, Ben Affleck é completamente ofuscado por sua co-protagonista, interpretada por Olga Kurylenko. E sua posição em nada melhora durante seu segundo relacionamento, com uma carismática Rachel McAdams. Em sua participação bastante pequena, a personagem de McAdams acaba carregando o relacionamento – e a sequência em si – nas costas. O já apagado Neil de Affleck não emociona e a pouca química entre o casal chega a criar questionamentos na cabeça do espectador quanto ao real motivo para a existência dessa relação.

Tratando o tema com a dedicação e profundidade necessárias, e afastando-se dos romances clássicos, Amor Pleno analisa o amor sob uma ótica mais realista e densa. Como é de se esperar de Malick, o tom adotado é realmente de uma poesia sendo elaborada através do filme, o que requer do espectador mais atenção para compreender os acontecimentos. Esse fato talvez faça com que o longa pareça um tanto cansativo ou até mesmo um pouco confuso, mas com uma fotografia impecável e uma muito bem elaborada sequência de falas – em sua maioria ditas em off enquanto as cenas simplesmente acontecem – é possível compreender, mesmo que pouco a pouco, as intenções do diretor ao nos trazer tal história. Profundo e questionador, Amor Pleno expõe faces não tão agradáveis do amor, analisando-o em sua forma mais crua, mas que, no entanto, não deixa de ser bela.

Cinemascope - Amor Pleno - PosterAmor Pleno (To the Wonder)

Ano: 2012.

Diretor: Terrence Malick.

Roteiro: Terrence Malick. Curiosamente, Amor Pleno foi filmado sem um roteiro, apenas coordenadas e sugestões de Malick.

Elenco Principal: Ben Affleck, Rachel McAdams, Olga Kurylenko, Javier Bardem.

Gênero: Drama.

Nacionalidade: EUA.

 

 

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